5 de janeiro de 2010

Zumbis: fazendo a autópsia - Parte II


Agora que já traçamos as origens e genealogias do mito 'zumbítico', é hora de descobrir como é que ele se popularizou na literatura e, no passo seguinte, no cinema e na cultura pop.

Acredito que a mais antiga menção literária a uma criatura que, embora não seja um zumbi, guarde muitas das características que a estes referimos, seja o Frankenstein, de Mary Shelley, publicado em 1818.

Agora, caríssimo Frank não é um zumbi propriamente dito e sua inspiração não foram os mitos haitianos, mas sim o folclore do leste europeu; o mesmo que deu origem ao Drácula de Stocker. No entanto, ele é uma das primeiras criaturas sobrenaturais literárias que nasce não por força de alguma mística, de uma maldição ou de um enterro impróprio - pelo contrário, ele é obra humana, nascido pelas mãos da ciência.

Frankenstein também já dá o tom decrépito da aparência dos nossos zumbis - um corpo em processo de decomposição.

Posterior a Shelley, podemos encontrar outros personagens que ecoam o conceito do zumbi - mortos de alguma forma revividos. Eles não são ainda zumbis propriamente ditos, pois têm vontade: a bem da verdade, deixaram seus túmulos atrás de vingança. Ambrose Bierce e o mestre do romance gótico, Edgar Allan Poe, são alguns dos escritores que podemos citar nessa 'fase' de desenvolvimento do mito - não do mito em sua figura de folclore, mas do mito no sentido pop da coisa.

E isso me fez lembrar as aulas de teoria da comunicação e Roland Barthes...

Eis então que entra na jogada nosso caro amigo, Lovecraft. Há inúmeras histórias suas explorando os mortos (e todo a fauna/flora sobrenatural, incluindo aí algumas das criaturas mais arrepiantes do Calabouço das Dimensões...), mas ele tem uma espécie de... conto definitivo na história da conceituação do zumbi moderno (ainda que ele não use a palavra "zumbi"): Herbert West: Reanimador.

Esse conto lembra um pouco Frankenstein, uma vez que Herbert West é algo como um cientista louco tentando reviver corpos humanos - e o resultado de suas experiências são criaturas incontroláveis e definitivamente... não muito fãs dos vivos, a se julgar pelo que elas fazem com quem encontram em suas... hã... rondas...

Nada simpáticos, não, não.

Há muitos outros autores que lançaram o cimento no molde do mito... H. G. Wells, por exemplo, escreveu uma novela (Things to Come; não sei se há tradução em português...) ambientada num certo cenário apocalíptico, em que um estranho vírus extremamente contagioso se espalha lentamente, deixando as pessoas letárgicas e sem percepção de si mesmas e do mundo.

Mas é com Richard Matheson, em 1954, que temos o delicado e elegante detalhe do canibalismo introduzido na equação. Para quem não sabe, Matheson é o autor de Eu sou a Lenda, livro em que foi baseado o filme homônimo com Will Smith. Tudo bem que Matheson chamou suas criaturas de 'vampiros', mas, como já deixamos claro na primeira parte desse artigo, os dois mitos têm um tronco arquétipo em comum.

Graças a esses autores (e muitos outros) é que, pouco a pouco, foram sendo criados e misturados os elementos que formariam o zumbi em sua forma mais 'perfeita' e acabada.

Contudo, era necessário haver aquele Iluminado que juntaria todas essas características em um único ser e o batizaria com o nome dos infelizes zumbis haitianos... E esse alguém veio ao mundo sob o nome de George Romero.

(Continua...)


A Coruja


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2 comentários:

  1. Eu tenho medo de zumbis... ta, não é medo, mas tb não gosto deles... kkkkkkkkkkkkkk...
    vamos ver o q vem na terceira parte... hehehe
    E FELIZ 2010!!!
    bjsss

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  2. Huahuaha... todo mundo tem medo de zumbis, Dy. Mas, por mais incrível que pareça, às vezes eles podem ser... fofinhos?

    Oh, céus, eu devo estar variando se comecei a pensar em zumbis como criaturas fofinhas...

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