18 de dezembro de 2009

A Bela Adormecida - Versão da Lulu


*trabalho em progresso*

Era uma vez, há muito, muito tempo, uma princesa, filha de um rei poderoso... Um dos muitos e veneráveis soberanos do Belo Reino.

Talvez vocês ainda não tenham ouvido falar do Belo Reino... Ou talvez o tenham, mas pelo nome de "Reino Encantando", nas histórias que as velhas aias costumam contar para assustar as crianças e fazê-las se comportar.


De acordo com os padres, este é um lugar de demônios, guardado por criaturas cheias de malícia e governado por poderosíssimos e temíveis anjos caídos. Já para os Antigos, é uma terra de seres sábios e majestosos, muito superiores aos homens; terra onde todos os prodígios e talvez algo mais possa acontecer.

Mas eu falava de uma princesa... Sim, uma princesa... Ela era esguia, alta e bela. Mais bela que qualquer pintura renascentista. Bela como apenas um ser do Belo Reino poderia ser.

Havia um porém, contudo. A mãe da princesa era humana. Excepcional à sua própria maneira - ou não teria capturado o coração de um rei, muito menos um rei desta terra - mas, ainda assim, humana. E, como humana, deixaria à filha um legado da qual não se poderia escapar. Ela viveria. Ela envelheceria. Ela morreria.

A princesa seria uma mortal.

Certo é que ela ainda viveria mais que qualquer um de nós, pois corria em suas veias também o sangue mágico de seu pai. Mas, mais cedo do que ela esperaria, chegariam ao fim os seus dias.

No início, ela não tinha consciência disso. Era apenas uma criança, deliciada por todos os mimos e elogios que recebia.

Mas a criança tornou-se menina. A menina tornou-se mulher. Sabedora de seus encantos, de sua glória e de seu poder.

E então, a mãe da princesa se foi. Deixou para trás até mesmo o Belo Reino, o último dos reinos...

Foi nesse momento que a princesa tornou-se também dolorosamente cônscia de sua própria efemeridade.

Enquanto seu pai, seu castelo e seu povo guardavam luto pela morte da rainha, ela derramava amargas lágrimas pela graça ainda não fenecida e pela vida, ainda mal desabrochada.

E foi por isso que Ela a encontrou. Ela, a Mãe Destino. A bruxa feiticeira, banida do Belo Reino séculos antes por seus desígnios e malignos projetos.

A Mãe Destino ofereceu a ela àquilo que a princesa almejava. Por um momento, a princesa hesitou. Porque o que a feiticeira pedia em troca constituía o pior crime que se poderia cometer à própria natureza do mundo.

Mas, nesse momento, ela viu sua imagem refletida no espelho. E se decidiu afinal.

As duas selaram um pacto. Pela eterna juventude e conservação de sua beleza, a princesa entregou nas mãos da feiticeira o seu próprio coração, vivo, rubro e pulsante.

Estava feito. Tarde demais era para a princesa quando seu pai, ou qualquer outro que pudesse impedi-la, percebeu o que houvera.

Ela não mais pertencia ao Belo Reino. Pois, simplesmente, não estava mais lá. Para trás, deixara apenas uma casca vazia – seu corpo - que por ordem do rei foi selado no túmulo do luar.

O coração sumira, junto com a feiticeira. E, por algum tempo, não houve mais notícias da princesa.

Foi quando surgiram as histórias... Relatos de uma jovem de extraordinária beleza, que passava os dias a cantar e dançar com algumas companheiras na floresta que era o limiar do nosso mundo e do Belo Reino.

Cavaleiros partiram em busca da jovem. Alguns voltaram. Loucos. Outros jamais foram vistos novamente. Pois aquele era o espectro da princesa. E, por seu crime, ela agora carregava uma maldição.

E assim será, até o fim dos tempos. Ou até que três voltem a ser um. Porque existe uma maneira de quebrar o feitiço e ela o sabe: apenas a própria princesa pode fazê-lo.

Mas, até então, esse jamais foi seu desejo...

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Considerando quantas vezes eu já disse e repeti que detesto a Bela Adormecida, a mais inútil das princesas de contos de fadas (o epíteto é meu, obrigada), é realmente estranho que ela tenha me inspirado o suficiente para sair isso.

Estou começando a desconfiar que tenho alguma espécie de obsessão com a princesa Aurora...

E essa história ainda não está terminada. Quem sabe um dia eu continuo?


A Coruja


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7 comentários:

  1. É... todos nós sempre sonhamos que a Bela Adormecida fosse mais dona de seu destino. Continua a história, está ficando melhor que a versão burra da Disney XD

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  2. Essa é uma versão melhor.
    Quando ekla aranca o coração, recorda-me o Feiticeiro do coração peludo dos contos de Beedle.

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  3. Não acho que seja uma obsessão, Lulu, mas um favor à coitada inútil (créditos seus) Princesa Aurora...

    Essa versão que você iniciou está fantástica!

    E, como diria o nosso amiguinho Kieran... Mia, télo maisi!

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  4. Que engraçado... Eu escrevi uma releitura bem parecida da Bela Adormecida uma vez, mas com menos referências. Grandes mentes pensam parecido? XD Você vai continuar? Quero ver o que vem depois...

    P.S.: Eu cortei o cabelo bem curtinho quando eu tinha uns dez pra onze anos... Até hoje minha irmã me persegue afirmando que eu fiquei parecendo um coelho loiro (não tinha terminado o tratamento ortodôntico na época) u///u Desde então, mantenho o cabelo sempre abaixo do ombro. Ou preso, na maior parte do tempo, porque o calor deixa a coisa insuportável...

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  5. Para todo mundo que perguntou... Há uma continuação dessa história, mas ainda não há final dela, embora eu a tenha na cabeça. Estou tentando organizá-la como uma das lendas das Hébridas que a Mina conta ao Kieran no Expresso para ver se assim sai...

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  6. Lulu, sabe onde posso achar a verdadeira história da Bela Adormecida?
    Fiquei curioso depois de ler seus posts.

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  7. Nhai disfarça, agora vi que você postou a história :p
    Isso que dá ficar séculos sem vir aqui

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