20 de dezembro de 2009
Mirandiba: visitando a Pedra Comprida
Não sei exatamente o que diabos estava passando pela minha cabeça quando digitei o nome "Mirandiba" no Google. Acho que foi porque a mãe tinha acabado de entrar no meu quarto e dito que a gente ia viajar quarta de tarde em vez de quinta de manhã cedo e eu tinha acabado de abrir o google para pesquisar alguma coisa e como eu estava falando de Mirandiba, digitei Mirandiba.
E descobri então que Mirandiba estava na Wikipedia.
Bem, se vocês derem uma olhada na página de Mirandiba na Wikipedia, vocês saberão como a cidade nasceu, onde fica, área, população, clima e até os índices de IDH e PIB per capita.
Saberão até algumas coisas que eu mesma não sabia, como o fato de o Chacal ser um balneário (sério? Bem, é tem água corrente... Mas eu nunca dantes tinha ouvido se referirem ao Chacal como um balneário) e haver uma tal de Pedra do Sino por aqueles lados.
Os outros lugares eu conheço - nem que seja só de nome. Todo ano, quando a gente viaja no natal ou reveillon, eu insisto em fazermos uma expedição à Mangueira do Brejo, a maior mangueira do mundo, de acordo com o Guiness Book. Até hoje, não consegui realizar meu intento, visto que a estradinha para lá ser difícil de atravessar e só com trator.
Bem, quem sabe tio Tista esse ano não nos leva no trator?
Já a Pedra Comprida, essa eu já conheci - só que fui apresentada à ela como "a pedra encantada" (explico mais para frente). Fizemos uma expedição até lá, e, dessa expedição, tenho algumas fotos que ficaram muito boas.
Tudo começa com a cambada se amontoando em cima do carro de padrinho. Aquela trepeça ali de óculos aviador? Aquele é meu irmão. O resto é tudo primo e tias.
Nossa primeira parada é no Ajuntador de padrinho. Aqui, vale uma explicação rápida: embora o wikipedia dê a impressão de que o Ajuntador é um único sítio, na verdade é um conjunto de várias pequenas propriedades. Acho que, no passado, aquilo tudo deve ter pertencido a uma única pessoa, mas, hoje, há vários donos.
A idéia era entramos pela parte de padrinho, e ir a pé até a Pedra Encantada pelo meio da caatinga, uma vez que não dava para chegar até lá de carro.
Acerca dessa caminhada... bem, eu estourei o pé todinho. Caminhar num negócio desse é o tipo de coisa que você deve fazer de tênis. Só que, não esperando caminhadas dessa estatura, eu não levara tênis (até porque, que diabos eu ia fazer de tênis no calor de Mirandiba?).
No dia anterior, eu já tinha feito uma caminhada até o Tupan - a antiga casa/sítio dos meus bisavós. Para isso, peguei o tênis de madrinha emprestado (o mais próximo do meu tamanho, mas ainda pequeno para mim). Quando voltei para casa, estava com o calcanhar em carne viva.
Por isso, quando nos enfiamos na caatinga, eu estava de sandália havaiana e, no final da expedição, depois que Luana (minha prima) me pisara sem querer e arrebentara meu mindinho, e dos muitos arranhões provocados pelos arbustos secos, eu tinha mais sangue seco na sandália que qualquer coisa.
Para completar, Marcelo conseguiu derramar nossa água toda para beber um único gole, o que significou duas horas de caminhada sob o sol de dez, onze horas, no meio do sertão.
Tudo foi compensado, contudo, pela primeira visão de nosso destino.
Há algo de muito bonito, de muito... comovente nas paisagens da caatinga. Especialmente quando você cruza com áreas de verde.
Uma das cenas que mais me marcou na lembrança foi quando, numa das viagens que fiz à casa de vó, deu uma tempestade de madrugada na cidade. De manhã cedo, quando estávamos na calçada, a gente só via o povo correndo, descendo a rua. Acompanhei meu pai para ver do que se tratava a comoção e, quando chegamos à ponte que entra na cidade, descobrimos que o rio tinha 'botado água'.
Aquele riacho na entrada da cidade fazia anos que estava seco. A área toda tinha enfrentado uma seca brava naquele ano e, por isso, quando deu essa chuva, que o riacho encheu... céus, o povo chorava, se abraçava, tudo feliz da vida.
Nesse dia eu entendi o significado da frase "o sertanejo é um forte". E, à partir daí, toda vez que vou à Mirandiba, que vejo os açudes cheios e tudo verde, eu me sinto estranhamente emocionada.
A Pedra Comprida é um conjunto de pedras (que tivemos de escalar - agora imagine fazer isso de sandália havaiana e escorregando na mistura de sangue e água que eu consegui derramar para limpar a ferida antes de Marcelo entornar o garrafão) repleto de pinturas rupestres - muitas hoje apagadas pelas assinaturas de quem já passou por ali.
Ela é também conhecida como Pedra Encantada por causa dessa fenda onde estão, à frente, meu irmão (de óculos e cabelos indomáveis) e meu primo, Guilherme (de boné) e nossos "guias", vaqueiros do sítio de padrinho. Diz a lenda que, uma vez que você atravesse essa fenda até o outro lado, vai desaparecer.
Os meninos até tentaram escalar a fenda, mas não conseguiram, assim que não sabemos se é ou não a lenda verdadeira.
E aí é a turma toda, depois de descer, descansando um pedaço antes de começar a aventura de volta.
Só tem gaiato nessa família... hohoho...
No final de nossa expedição, já de volta ao Ajuntador, nada melhor que um banho de bica, muita lama e bagunça, antes do churrasco e da cerveja.
De outras viagens que fizemos, também há muita história para contar... Como aquela em que fomos dormir na casa do Ajuntador e de noite, depois de madrinha ter contado meio mundo de histórias de Trancoso, a maioria com direito a fantasmas e outras variações, começaram a bater na porta.
Imaginem vocês agora... uma casa sem energia elétrica, no meio do mato, sem um vizinho para quem pedir socorro, sendo que o único homem presente era Guilherme, que só tem de carne a língua - e isso, lógico, depois de estarmos todos impressionados com as histórias que tínhamos ouvido?
Tem os churrascos na beira dos açudes, pescando piabas (ou elas entrando dentro das nossas bermudas... ¬¬), tem meu querido irmão aprendendo a andar de cavalo e quase se enfiando de cara dentro de uma colméia, tem as vaquejadas, o forró no clube (do qual sempre dou um jeito de fugir), comer batata frita dentro das piscinas no Chacal, morrer de rir com vovó e madrinha se refastelando no whisky e cerveja de domingo, brigar pelas cadeiras de balanço na única sombra da calçada e passar até tarde ouvindo contar histórias de antigamente.
Viajo na quarta, depois do almoço. Quem sabe, quando voltar, que histórias mais terei para contar? ;)
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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Ótimas histórias, Lulu, e eu me lembro que você me mostrou uma dessas fotos, a do "descanso antes do retorno"!
ResponderExcluirImagino como realmente deve ser emocionante o verde na caatinga... e seu comentário sobre a chuva, o rio e as pessoas comemorando me lembrou O Quinze, quando finalmente chove no sertão e o forte Vicente chora sob a chuva, por saber que ela salvaria suas plnatações e seus animais...
(Ah, o Vicente...)
Hm, é. Pois é.
Lulubs, boa viagem, boa diversão, boas caminhadas com tênis macios e flexíveis e - por que não? - bom rally de trator!
Boas festas e fique com Deus!
Pois é, Régis, vamos ver se eu consigo convencer o povo a fazer um piquenique na Mangueira do Brejo esse ano...
ResponderExcluirMas vó disse que lá tá um calor dos infernos... estamos a ponto de tirar no palitinho para ver quem fica com o quarto com ar-condicionado...
Olá. Boa noite. Estou comentando. Luciana vai me matar se eu não disser algo bom. Não Luciana, nããããão. Morreu.
ResponderExcluirCarol... eu não matei você, né? Então...
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