16 de maio de 2009
Reformas, reformas... - Parte III
Fiquei em suspenso nos últimos três dias, já que estava às voltas com um congresso. Em termos gerais, foi bem interessante, alguns palestrantes deram um sono triste, mas a maioria falou bem e de assuntos capazes de prender a atenção.
Aliás, a primeira palestra de hoje (ninguém merece estar de oito e meia da manhã de um sábado chuvoso assistindo aula de direito, mas...) tem bem a ver com o tema que eu esperava continuar hoje. Em assim sendo...
3) A Reforma do Código Florestal
Antes de começar a escrever esse post, levei uns dez minutos passando os olhos por cima das propostas do projeto de lei 4.006 de 2008, da asa do senhor deputado Wanderkolk Gonçalves (sem comentários sobre a inspiração da mãe do pobre coitado quando ele nasceu...).
O projeto prevê uma emenda ao atual Código Florestal, diminuindo de 80% para 50% a área mínima de preservação da vegetação original em propriedades rurais.
É uma diferença que parece pouca; só 30%. O que são 30% numa mata tãoooo grande quanto a Amazônia? Quanto o Pantanal? Quanto a Mata Atlântica?
Opa... erro meu... Mata Atlântica? Isso ainda existe?
30% pode parecer comparativamente muito pouco, a julgar pelas extensões de terras ocupadas por florestas no Brasil. Mas quanto, exatamente, é 30% de uma grande fazenda na Amazônia? Menos que um jardim médium? Mais que um estádio de futebol?
Não sou uma eco-chata, não tenho carteirinha do Greenpeace e nem deixei de comer carne porque acho que isso é assassinar os pobres animaizinhos indefesos. Sou a favor do desenvolvimento e sei que desenvolvimento, ainda que sustentável, não vem caindo do céu com pérolas e pétalas de jasmim.
Uma cidade ocupa um espaço antes ocupado pela natureza. Para que haja casas, é preciso que haja corte de árvores para limpar o terreno (e que depois servirão como fundamento da casa e para a feitura de móveis). É preciso que haja queima de combustível, não importa de que natureza. É preciso que se explore veios de metal. Que se detone algumas rochas. Que se modifique, enfim, o ambiente natural.
O problema não é a questão do desenvolvimento, mas sim a incrível capacidade do homem para a destruição e sua ganância por mais e mais, ainda que esse mais não lhe seja necessário nem vá fazer diferença em sua vida.
Novamente, é uma questão de educação. Pensamos apenas no hoje, no agora, na nossa satisfação, desprezando nossas necessidades de amanhã. É um tipo bem peculiar de egoísmo, em que estamos nos lixando para nós mesmos, na ilusão de que o que temos feito só atingirá o mundo em duas ou três gerações.
Doce ilusão... os efeitos estão todos à nossa volta. Lembro-me de sempre dizerem que o Brasil era um lugar abençoado, onde não havia vulcões, nem terremotos, nem furacões...
Bem, do meu ponto de vista, só estamos esperando as erupções chegarem.
O patrimônio ambiental - e cultural também, porque, se formos prestar atenção, perceberemos como este é desprezado - não é apenas "um bando de árvores fazendo sombra ali na frente e impedindo meus pastos e minha plantação de soja de crescerem".
O prédio histórico em que se encontra localizado o centro de ciências jurídicas da UFPE é um prédio tombado, em estilo neo-colonial - um dos primeiros cursos de ensino superior nasceu ali (mais exatamente, no Mosteiro de São Bento, mas o curso foi transferido depois para a Faculdade de Direito do Recife). Responsabilidade da federal, da União e do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), alguns anos atrás esteve em risco de cair pelo completo descaso com os cuidados que deveria receber.
Não muito tempo atrás, fiz uma viagem a Minas. Visitei os profetas de Aleijadinho e qual não foi minha surpresa em ver o vandalismo nas obras, únicas, imortais.
Esses são apenas alguns exemplos. O interesse em preservar ainda está abaixo do interesse de avançar. Não que não precisemos (e devamos avançar), mas evolução não é simplesmente andar ereto, mas saber construir preservando os conhecimentos passados. Não é esquecer o dia de ontem pelo brinquedo novo de hoje.
É, mais uma vez, uma questão de educação, de ver um pouco mais à frente do que a viseira de burro de carga permite.
E assim continuam as reformas...
Continua...
Aliás, a primeira palestra de hoje (ninguém merece estar de oito e meia da manhã de um sábado chuvoso assistindo aula de direito, mas...) tem bem a ver com o tema que eu esperava continuar hoje. Em assim sendo...
3) A Reforma do Código Florestal
Antes de começar a escrever esse post, levei uns dez minutos passando os olhos por cima das propostas do projeto de lei 4.006 de 2008, da asa do senhor deputado Wanderkolk Gonçalves (sem comentários sobre a inspiração da mãe do pobre coitado quando ele nasceu...).
O projeto prevê uma emenda ao atual Código Florestal, diminuindo de 80% para 50% a área mínima de preservação da vegetação original em propriedades rurais.
É uma diferença que parece pouca; só 30%. O que são 30% numa mata tãoooo grande quanto a Amazônia? Quanto o Pantanal? Quanto a Mata Atlântica?
Opa... erro meu... Mata Atlântica? Isso ainda existe?
30% pode parecer comparativamente muito pouco, a julgar pelas extensões de terras ocupadas por florestas no Brasil. Mas quanto, exatamente, é 30% de uma grande fazenda na Amazônia? Menos que um jardim médium? Mais que um estádio de futebol?
Não sou uma eco-chata, não tenho carteirinha do Greenpeace e nem deixei de comer carne porque acho que isso é assassinar os pobres animaizinhos indefesos. Sou a favor do desenvolvimento e sei que desenvolvimento, ainda que sustentável, não vem caindo do céu com pérolas e pétalas de jasmim.
Uma cidade ocupa um espaço antes ocupado pela natureza. Para que haja casas, é preciso que haja corte de árvores para limpar o terreno (e que depois servirão como fundamento da casa e para a feitura de móveis). É preciso que haja queima de combustível, não importa de que natureza. É preciso que se explore veios de metal. Que se detone algumas rochas. Que se modifique, enfim, o ambiente natural.
O problema não é a questão do desenvolvimento, mas sim a incrível capacidade do homem para a destruição e sua ganância por mais e mais, ainda que esse mais não lhe seja necessário nem vá fazer diferença em sua vida.
Novamente, é uma questão de educação. Pensamos apenas no hoje, no agora, na nossa satisfação, desprezando nossas necessidades de amanhã. É um tipo bem peculiar de egoísmo, em que estamos nos lixando para nós mesmos, na ilusão de que o que temos feito só atingirá o mundo em duas ou três gerações.
Doce ilusão... os efeitos estão todos à nossa volta. Lembro-me de sempre dizerem que o Brasil era um lugar abençoado, onde não havia vulcões, nem terremotos, nem furacões...
Bem, do meu ponto de vista, só estamos esperando as erupções chegarem.
O patrimônio ambiental - e cultural também, porque, se formos prestar atenção, perceberemos como este é desprezado - não é apenas "um bando de árvores fazendo sombra ali na frente e impedindo meus pastos e minha plantação de soja de crescerem".
O prédio histórico em que se encontra localizado o centro de ciências jurídicas da UFPE é um prédio tombado, em estilo neo-colonial - um dos primeiros cursos de ensino superior nasceu ali (mais exatamente, no Mosteiro de São Bento, mas o curso foi transferido depois para a Faculdade de Direito do Recife). Responsabilidade da federal, da União e do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), alguns anos atrás esteve em risco de cair pelo completo descaso com os cuidados que deveria receber.
Não muito tempo atrás, fiz uma viagem a Minas. Visitei os profetas de Aleijadinho e qual não foi minha surpresa em ver o vandalismo nas obras, únicas, imortais.
Esses são apenas alguns exemplos. O interesse em preservar ainda está abaixo do interesse de avançar. Não que não precisemos (e devamos avançar), mas evolução não é simplesmente andar ereto, mas saber construir preservando os conhecimentos passados. Não é esquecer o dia de ontem pelo brinquedo novo de hoje.
É, mais uma vez, uma questão de educação, de ver um pouco mais à frente do que a viseira de burro de carga permite.
E assim continuam as reformas...
Continua...
A Coruja
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Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Melhor de tudo é aqui nesse buraco onde moro. Os proprietários de imóveis em processo de tombamento os põem abaixo na calada da noite para não ficarem presos à "amolação do patrimônio histórico"...
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