4 de abril de 2011
Desafio Literário 2011: Março - Ficção Científica || Leviathan
The Austrian horses glinted in the moonlight, their riders standing tall in the saddle, swords raised. Behind them two ranks of diesel-powered walking machines stood ready to fire, cannon aimed over the heads of the cavalry. A zeppelin scouted no-man’s-land at the center of the battlefield, its metal skin sparkling.
The French and British infantry crouched behind their fortifications—a letter opener, an ink jar, and a line of fountain pens—knowing they stood no chance against the might of the Austro-Hungarian Empire. But a row of Darwinist monsters loomed behind them, ready to devour any who dared retreat.
The attack had almost begun when Prince Aleksandar thought he heard someone outside his door...
O ano é 1914. Na noite de 28 de junho, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, e sua esposa Sophie, são envenenados durante uma visita que faziam à Sérvia.
A Áustria declara guerra à Sérvia. A Alemanha se junta ao império. A Sérvia faz parte da aliança de povos eslavos, de forma que a Rússia vem em seu socorro. A Alemanha declara guerra à Rússia. A França, que tem um tratado com os russos, entra no conflito. Um por um, os países europeus vão se metendo na história, até que todos estejam mergulhados naquela que conhecemos como a Primeira Guerra Mundial.
O irônico de tudo isso é que a desculpa para começá-la foi a morte de um pacifista.
Quem aí se lembra das lições de História deve ter percebido qualquer coisa meio discordante nessa introdução. Afinal de contas, o arquiduque e sua esposa morreram baleados naquela tarde de verão que impulsionaria a Europa no conflito mais sangrento de sua memória - sempre nos impressionamos com os números do Holocausto, mas a verdade é que a Primeira Guerra foi muito mais traumática para o continente europeu como um todo.
Deixemos, contudo, as trincheiras para outro dia. Hoje vamos falar de realidades históricas alternativas e "Clankers" versus "Darwinistas".
A morte do arquiduque é apenas o início dos eventos narrados em Leviathan, de Scott Westerfeld. No mundo alternativo do livro, a divisão que levou à guerra tem raízes ainda mais profundas que afinidades étnicas e tratados diplomáticos: de um lado estão os 'clankers', cujo desenvolvimento é fundamentado na tecnologia mecânica; de outro, estão os 'darwinistas', cujas máquinas foram trocadas por poderosas bestas geneticamentes modificadas, das quais o Leviathan do título é um exemplo - um 'avião' de combate que tem a aparência de uma baleia (é uma baleia... e mais um zilhão de criaturas) que flutua graças a um complicado sistema de propulsão a hidrogênio.
Existe assim uma discussão bem interessante no livro - ainda que não muito aprofundada - sobre a idéia de desenvolvimento e tecnologia: metal ou carne? Os clankers acreditam que os darwinistas estão brincando de Deus, que suas bestas são amaldiçoadas, sem alma, que tudo aquilo é uma depravação sem limites do poder divino de criação. Os darwinistas, por outro lado, observam que usando seus animais geneticamente modificados, eles conseguem manter um desenvolvimento totalmente auto-sustentável (fiquei de queixo caído com a explicação do funcionamento do Leviathan, que envolve um inteiro ecossistema complementar) e sem poluição.
Esse debate, contudo, não é levado bastante a fundo - não sei se por causa do público para o qual o livro é voltado, se pela idade dos protagonistas (tanto Alek quanto Deryn não têm mais de dezesseis anos) ou se pelo fato de esse ser apenas o primeiro livro da trilogia - mas está lá, implícito.
Leviathan é contado sob dois pontos de vista. O primeiro é o do príncipe Aleksander, filho do arquiduque assassinado, que precisa fugir da Áustria logo ao início da história para não ser ele mesmo eliminado da linha sucessória. O segundo é de Deryn Sharp, uma escocesa que ama voar e que para realizar seu sonho de estar acima das nuvens, se disfarça de homem e entra para a Força Aérea a bordo do Leviathan (e passa o tempo inteiro praguejando, porque, aparentemente, é só isso que garotos fazem...).
De uma forma ou de outra, ambos têm o potencial para mudar o rumo do conflito que começa a se configurar nesse livro - ainda que não tenham consciência disso a princípio; os dois sofrem de uma ingenuidade quase desesperadora. Claro que seus caminhos acabarão por se cruzar - para melhor ou pior - e, diante dos acontecimentos que se sucedem, mais cedo ou mais tarde, serão forçados a amadurecer.
Westerfeld já é razoavelmente conhecido e celebrado aqui no Brasil por conta de outras séries. Não li nenhuma delas ainda - Leviathan foi o primeiro livro do autor com que tive contato, e gostei bastante do estilo dele. Com sorte, ainda veremos esse livro também em português; será um livro que recomendarei a um monte de gente...
Só para fazer inveja... minha edição é em hardcover, linda, linda... Quando comprei, no final do ano passado, ela estava em promoção, mais barata que a versão em brochura.
Além do enredo, que é bem amarrado e desenvolvido, e dos personagens cativantes (posso montar um fã-clube para o Conde Volger? Aposto que se a Régis ler esse livro, vai lembrar do Jarno e se juntará a mim!), as ilustrações de Keith Thompson são de encher os olhos - e ajudam a nos ambientar melhor na história.
Como já disse antes, o livro é o primeiro de uma trilogia, composta ainda de Behemot e Goliath, este último com publicação prevista para setembro desse ano.
A despeito da minha reticência com continuações nos últimos tempos, farei absoluta questão de ler essa história até o final. Afinal, como todo mundo que acompanha o Coruja sabe, sou louquinha por História Alternativa, Dimensões Paralelas e coisas do tipo. E Leviathan é um prato cheio com todos os detalhes que gosto numa história.
Nota: 4
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: Leviathan
Autor: Scott Westerfeld
Ilustrador: Keith Thompson
Editora: Simon Pulse
Ano: 2009
Número de páginas: 448
A Coruja
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Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Hmmm...taí uma leitura que enseja muitas reflexões além da diversão. Resenha pra lá de boa!
ResponderExcluirBjs
Esse livro parece bem interessante. É do autor de Feios, né?
ResponderExcluirAcho que é comum livros de ficção científica mais voltados para o público juvenil terem essa falta de aprofundamento, infelizmente. (pelo menos foi o que eu senti lendo alguns livros do gênero)
Beijos
Acho que o sub-gênero Steampunk é o que mais me chama a atenção dentro da Ficção Científica... fiquei super interessada nesse livro, tomara que lancem por aqui.
ResponderExcluirestrelinhas coloridas...
Oi Lulu!
ResponderExcluirOs outros livros do Westerfeld não me chamaram tanta atenção, mas esse realmente me deixou interessada!
Beijos!
Porque não escolhi esse livro para o desafio, parece ser muitoooo bom mesmo!
ResponderExcluirAdorei tudo, a resenha, a descrição dos personagens e claro os desenhos!!!
Com certeza que quero ler!
Eu nao conhecia o livro mas sua resenha e' bem interessante, quem sabe nao me arrisco .... Beijos
ResponderExcluirNunca que pensei pelo título que o enrendo fosse esse.
ResponderExcluirSuper gostei da histório.
Ótima resenha!
Beijos
Tanto o título qto o autor me soam familiar, mas não sei exatamente onde já ouvi falar deles antes.
ResponderExcluirSua resenha dá "água na boca" pra quem gosta desse tipo de literatura.
Ótima resenha!!!
Não conhecia este livros e fiquei super curiosa.Sua resenha está show!Também adoro livros que se baseiam em fatos históricos. Bju
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