1 de outubro de 2017

Tradução – Irmã Bruxa


O ensaio a seguir foi traduzido da revista Faerie Magazine. A autora é Alice Hoffman, autora do livro Da Magia à Sedução, que deu origem ao filme homônimo com Sandra Bullock e Nicole Kidman que passava direto na Sessão da Tarde lá pela década de 90. Ia indicá-lo na minha próxima lista de links do Empilhando no Escaninho, mas achei que seria interessante traduzi-lo, aproveitando que estamos no começo do mês de Halloween – e do All Hallow’s Read.

Como de hábito, tenho de lembrar que não sou uma tradutora profissional, de forma que, se puderem ler em inglês, deem uma olhada no original.Ainda, sobre o assunto de bruxas como mulheres que se recusaram a seguir o caminho que a sociedade achava que elas deviam seguir, recomendo também ler o ensaio Porque Gandalf Nunca se Casou, do Terry Pratchett, e que já traduzi ano passado aqui.

Irmã Bruxa, por Alice Hoffman

Todo Dia das Bruxas, não importa quais sejam as mais novas fantasias, sempre há garotinhas que insistem em se vestir como bruxas. Você pode vê-las nas ruas, em seus chapéus pretos e farfalhantes capas pretas, em grupos ou sozinhas. Essas garotas instintivamente sabem que é bem melhor ser uma bruxa do que uma princesa ou uma rainha, pois elas se autodefinem em vez de serem definidas por homens. Elas não têm necessidade de um príncipe ou um rei para lhes conferir valor. Talvez um amigo ou uma irmã caminhe viaje com elas, mas, em longo prazo, elas são fortes o suficiente por conta própria. Não existe uma figura feminina mítica que seja tão poderosa. Quando se trata do assunto, em uma noite clara e fria de outubro, ela é a mulher que queremos ser.

O legado da bruxa está em nosso sangue. Como garotas e mulheres, nós sabemos que elas foram nossas matriarcas, mulheres sábias que reivindicaram poder para si e suas irmãs. A história da bruxa é a história de uma mulher marginalizada pela sociedade, maltratada e vitimada, uma mulher que tem de lutar por seus direitos.

Bruxas foram perseguidas por possuírem muitas terras ou dinheiro, por serem independentes, por serem velhas, ou sozinhas. Ao longo dos julgamentos de Salem (1692-93), dezenove bruxas foram enforcadas em Gallows Hill e 200 foram acusados de praticar magia, tudo baseado em “evidência espectral”, ou, em outras palavras, fofoca, meias-verdades e contos fantasiosos. Ao longo do tempo foram diversas as caças às bruxas, e o que todas elas têm em comum é o patriarcado reinante tentando controlar mulheres incontroláveis, punindo-as por crimes presumidos. Talvez essa narrativa esteja enraizada em cada garotinha que se fantasia na noite do dia das bruxas. A herança da bruxa é profunda. Bruxas colhem seu poder da natureza, a magia verde de ervas e cura. Pelos contos e histórias foram muitas vezes reformuladas como figuras sombrias, corruptas, mas em verdade, elas foram curandeiras, sempre ligadas aos partos, à medicina popular e à magia, todos casos que foram uma vez e outra proibidos por lei e todos eles, elementos inclusos nas tradições femininas. Mistério, poder, nascimento, morte, remédios, empoderamento sexual, liberação – a bruxa conquista tudo isso e muito mais. Em seus domínios estão o poder da imaginação e as portas entre realidade e criatividade.

Mitos e contos de fadas nos recordam de uma época em que as mulheres se recusaram a se conformar com as ideias da sociedade do que elas deveriam ser. A bruxa não é uma mãe, uma filha ou uma rainha, mas ela é nossa irmã, uma irmã de alma que reside no fundo de cada uma de nós.


A Coruja


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