30 de junho de 2015

Para ler: Memórias de Adriano || A Valsa Inacabada

Adoro misturar literatura e História e hoje vou falar de dois livros que fazem isso muito bem, transformando fatos reais em boas narrativas ficcionais. Saindo dos anfiteatros romanos da época do império para os salões de baile vienense, vamos ver onde vamos parar...

Não desprezo os homens. Se o fizesse, não teria o mínimo direito, nem a mínima razão para tentar governá-los. Eu os reconheço vãos, ignorantes, ávidos, inquietos, capazes de quase tudo para triunfarem, para se fazerem valer mesmo aos seus próprios olhos, ou, muito simplesmente, para evitarem o sofrimento. Sei muito bem: sou como eles, pelo menos momentaneamente, ou poderia ter sido.
Faz tempo que Memórias de Adriano está no meu radar – foi indicação de um professor dos tempos do colégio, com quem eu gostava de conversar sobre História (embora ele ensinasse geometria) e, de lá pra cá, encontrei o título em várias listas de clássicos modernos do tipo ‘esse você tem de ler antes de morrer’.

Não faz muito tempo, foi lançada uma nova edição dele, em formato de bolso e quando bati o olho nela, decidi que era hora de afinal comparecer a um encontro marcado faz tanto tempo.

Adriano foi o décimo quarto imperador romano e um dos melhores governantes do Império, tendo organizado a burocracia da administração civil, cercando-se de gente competente, construindo cidades e patrocinando as artes. Ex-soldado sob Trajano, seu predecessor, tinha uma perspectiva da guerra que fez com que, estabelecido no poder, interrompesse a política expansionista anterior para fortificar sua posição através da diplomacia e integração cultural.

Yourcenar usa esses fatos históricos para construir sua narrativa, no qual trabalhou por mais de vinte anos até encontrar a melhor forma para contar sua história: aqui é o próprio Adriano quem conta, de forma bastante cândida, numa carta para seu sucessor, Marco Aurélio, toda a sua vida – desde seus problemas na Judéia, aos detalhes de sua vida civil, até o romance trágico com o jovem Antínoo.

A linguagem é simples, mas nem por isso menos elegante, num ritmo que ecoa a imagem que Yourcenar nos quer passar de Adriano: um filósofo que se divide entre sua natureza passional e a praticidade austera de sua criação.

É um livro inspirador, não menos verdadeiro em suas lições por ser uma narrativa romanceada sobre a vida de um personagem real. Para quem gosta de biografias, para quem se interessa por política e filosofia, ou, simplesmente, para quem deseja ler uma boa história, Memórias de Adriano atende e supera expectativas.

1874. A jovem Sissi decide aproveitar a viagem do marido para escapar da rotina e do protocolo que a nobreza lhe impõe e se mistura entre os nobres e plebeus do império austro-húngaro que dançam ao som da valsa nos salões. Disfarçada num baile de máscaras, ela conhece o encantador Franz Taschnik, funcionário do império que tenta a todo custo saber quem é a espirituosa dama que desafia seu poder de sedução e o fascina. Sissi deixa com Franz apenas a lembrança de um beijo e o endereço para correspondência. Durante décadas, enquanto o país sofre com guerras, escândalos e pestes, os dois trocam cartas contendo poemas e confidências, alimentando uma paixão que nunca se concretiza. Em 1934, já idoso e transformado em barão, Franz descobre que a mulher amada a distância era a imperatriz Elisabeth da Áustria, que o mundo notabilizou como Sissi.
Misto de biografia e ficção, A Valsa Inacabada nos apresenta a um episódio pouco conhecido (ou, pelo menos, desconhecido para mim...) da vida da mítica imperatriz Elizabeth da Áustria, mais reconhecida como Sissi: a troca de cartas com um funcionário menor do Corpo Diplomático, um homem que conheceu num baile público ao qual compareceu disfarçada.

Embora nunca desse seu nome real nem tenha havido outros encontros para além do baile, a correspondência entre os dois teria se mantido por décadas, alimentando uma paixão impossível e quase infantil da parte da imperatriz.

A Sissi de A Valsa Inacabada é uma mulher frágil, infeliz, e muitas vezes cheia de ataques de imaturidade. Como eu só conhecia a história da personagem pelos filmes com a Romy Schneider, que transformam Sissi numa princesa de contos de fadas com um romance perfeito com o imperador, fui pega de surpresa pela forma como o livro passa por muitos episódios bastante dolorosos envolvendo sua relação conjugal e indo até o suicídio do filho mais velho e herdeiro do trono.

É um volume interessante, embora por vezes escorregue para o tom de melodrama. Mas dou um desconto considerando o quão difícil é escapar da tentação de dramatizar tudo com uma figura tão icônica e intensa quanto a bela Sissi. Valeu a curiosidade e por ter me deixado com a cabeça cheia de bailes, valsas e dominós pretos.


A Coruja


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