5 de junho de 2014
Para ler: Os Livros da Magia
Neil Gaiman é, provavelmente, o autor mais eclético que conheço. Das histórias de fadas ao terror, dos romances aos quadrinhos, da religião ao crime, para crianças de três anos até adultos – ele me parece já ter escrito de tudo um pouco, e de forma bastante competente.Timothy Hunter é um típico garoto de treze anos de idade que passa suas tardes assistindo à tevê e andando de skate. Mas ele é diferente de praticamente todos os outros adolescentes do planeta e está prestes a descobrir o porquê. Resumindo em uma palavra: magia. Tim não acredita nela, mas a magia certamente acredita nele – pelo menos o suficiente para que alguns praticantes já estejam planejando sua morte. Mas, pra sorte do garoto, ele também tem aliados nos planos sobrenaturais. Quatro dos maiores e mais misteriosos magos juraram protegê-lo e instruí-lo, e cada um deles está preparando uma jornada para demonstrar os perigos e as recompensas da magia. E, acima de tudo, lhe mostrarão o preço.
Sua especialidade, contudo, parece ser fantasia, os mundos paralelos invisíveis aos nossos olhos mortais, a construção de mitos na realidade prosaica com que estamos acostumados. E ele faz isso muito bem em Os Livros da Magia - embora não alcance sua própria genialidade de Sandman (mas é difícil comparar qualquer obra com a colcha de retalhos de histórias, mitos, pathos que é Sandman...).
Timothy Hunter é um garoto aparentemente comum, órfão de mãe, vivendo com o pai e que gosta de andar de skate. Até aí, nada demais, até o dia em que ele é visitado por quatro sujeitos estranhos que se oferecem para mostrar a ele o mundo da magia: Tim tem o potencial para se tornar o maior mago da história, contanto que ele escolha a magia e é para que ele possa fazer essa escolha bem informado que a ‘Brigada dos Encapotados’ se reúne.
Ao lado do Vingador Fantasma, Tim percorre o passado; tendo John Constantine por mestre de cerimônias ele será apresentado aos praticantes do presente, com o Doutor Oculto viaja a Faerie e Mister Io o leva ao futuro e aos mundos possíveis de existirem a depender da escolha do garoto.
Ao final dessa jornada, Tim decidirá se deseja ou não a magia – e essa decisão pode significar uma era de ouro... ou as trevas.
Os Livros da Magia é apenas o início dessa jornada, havendo muitos outros volumes contando das aventuras de Timothy, escritos por outros tantos autores – e não cheguei a ler para além da minissérie em quatro edições que compõem esse volume encadernado – todos com roteiro do Gaiman.
A arte de todas as partes é fantástica. Eu já conhecia o trabalho do Charles Vess, que já trabalhou com o Gaiman em outros livros, mas os outros desenhistas também capturam muito bem a essência da história, adéquam-se cada um a sua parte da jornada com perfeição.
Os Livros da Magia também guardam interesse por sua genealogia literária. Tim Hunter originalmente é um personagem de Diana Wynne Jones, na série Crestomanci. Gaiman pediu a ela o personagem para desenvolvê-lo para a série de quadrinhos e a partir daí, ele cresceu um bocado... mais tarde, Tim acabaria sendo uma das inspirações por trás de outro bruxinho inglês de cabelo preto bagunçado, usando óculos e acompanhado por uma coruja: ninguém menos que Harry Potter.
Como não li os outros livros da saga, não sei bem como se desenvolve o Tim aprendiz de mago, mas ao menos neste começo, não há tanto assim em comum, em questões de narrativa, entre Hunter e Potter. Isso é algo importante frisar, considerando que já se falou em plágio e outros rolos do tipo.
O mundo de Os Livros da Magia parece-me mais sombrio e ambíguo – especialmente a se considerar que tudo está em jogo em cima da escolha que Tim tem de fazer e se ele aceita pagar o preço por isso.
A Coruja
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário