10 de dezembro de 2013

Para ler: A Tempestade

Somos feitos da mesma substância dos sonhos e entre um sono e outro decorre a nossa curta existência.
O vento uiva furioso enquanto vagas quase viram o navio com sua força. Marinheiros correm de um lado para o outro tentando manter o barco e sua preciosa ‘mercadoria’ a salvo. Exilados em sua ilha, Próspero e sua filha assistem a grande tormenta. Assim começa A Tempestade, considerada por muitos críticos como a última peça de Shakespeare e algo biográfica em seu tom de despedida.

A ação da peça ocorre toda num único dia: Próspero, duque de Milão que teve o trono roubado pelo irmão, recebe de bandeja a chance de se vingar. Seu irmão, Antonio, e o rei de Nápoles, com quem Antonio conspirou para usurpar o lugar de Prospero, bem como outros tantos nobres e o príncipe herdeiro estão todos num navio que passa ao largo de sua ilha.

Com o auxílio de Ariel, um espírito mágico que ele encontrou e libertou, Próspero causa a tempestade do título, uma ilusão de naufrágio, trazendo à praia os necessários atores para sua pantomima – o príncipe herdeiro, que ele pretende como consorte para sua filha, Miranda; o rei de Nápoles, Antonio e outros nobres e bêbados para servirem de alívio cômico ao lado de Calibã, o disforme filho da bruxa que dominou a ilha antes da chegada de Próspero.

Mais que uma vingança, o que Prospero realmente deseja é o retorno do status quo e a tomada de consciência daqueles que lhe causaram tantas mágoas. Para Miranda, a filha adorada, ele deseja tudo aquilo que o exílio negou e é através do casamento dela com Ferdinando que tudo deve ser encaminhado.

O interessante é que o que mais me impressionou nessa peça é o senso de despedida, de encerramento. Prospero promete quebrar o cajado, enterrar os livros, libertar Ariel e com isso deixar a magia: por um último momento, ele pretende brilhar (e com isso obter sua vingança) para em seguida renunciar a todo o seu poder.

Aliás, Gaiman, na série Sandman brinca com essa questão da ‘aposentadoria’ de Shakespeare de uma maneira bem curiosa...

Não é uma das minhas peças favoritas, mas A Tempestade tem momentos grandiosos e acredito que deve ser muito interessante vê-la em palco – depois de ter visto Sonho de uma Noite de Verão no teatro, cheguei à conclusão de que apenas ler a peça tira metade do prazer do texto na forma como ele deve ser apresentado – especialmente pelos efeitos da tormenta e do navio.


A Coruja


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