21 de dezembro de 2013
Conversas Sobre o Tempo: no balanço de fim de ano entra 2013, um ano corrido...
Lulu: Como esse ano foi tão corrido que não consegui nem uma única vez me sentar para escrever sobre o tempo (e foram tantas as questões sobre as quais eu gostaria de ter falado ao longo do ano... Dé: Idem), decidi fazer uma retrospectiva de como ele se passou para compensar o tanto quanto não falei durante ele.
Não esperem rima ou lógica enquanto pulo de assunto em assunto.
Dé: E essa coluna já teve lógica? Isso é novidade pra mim.
Dani: Alguma coisa tem lógica de fato nesse blog? ^^
Lulu: Bem, na verdade, a esperança é sempre a última que morre, não é verdade?
De todo jeito, farei a coisa em duas partes, uma para falar da vida, do universo e tudo mais e outra com marcos pessoais e outras coisas que me derem na telha.
Pelo meu lado, como diria minha sábia avó, andei mais que notícia ruim. E enquanto viajava – na realidade ou na maionese – o mundo de uma forma geral também andou em ritmo frenético ao longo de 2013.
Nas notícias nacionais... Tivemos os protestos por todo o Brasil, a inúmeras passeatas e manifestações que pararam o país e assustaram os detentores do poder. Infelizmente, as reivindicações legítimas (embora às vezes um tanto genéricas) acabaram indo para o lado da violência e do vandalismo.
Dé: Isso é uma coisa que eu lamento muito por aqui. Sempre tem aquele FDP que atira a primeira pedra. Ou o primeiro Coquetel Molotov. Enfim, seria muito bom que tivéssemos mais protestos pacíficos, mas na situação atual do país, acho que isso não é possível.
Lulu: Possível até é... Eu queria ver que tipo de reação a polícia teria se fosse confrontada com uma multidão que permanecesse fazendo minutos de silêncio em luto pela situação do país. É difícil fazer uma revolução sem derramamento de sangue, porque sempre haverá reação do poder instituído na tentativa de se perpetuar no poder.
Mas o que terminou por acontecer aqui no Brasil foram depredação de patrimônio público – cujos consertos serão feitos com dinheiro que vem do contribuinte (e até hoje eu não consegui atinar da motivação por trás de jogar pedras no Itamaraty) – saques e destruição não apenas generalizada como também burra, porque esse foi justamente o motivo pelo qual a opinião pública acabou virando.
Parte do problema também foi a reação da polícia, que estava totalmente despreparada para lidar com a situação. E aí a violência foi escalando, voltamos à barbárie, etc, etc, etc.
Ísis: Eu concordo com o Dé. Todos sabemos que brasileiros não lutam coletivamente pelo que querem... é sempre no individual. Eu já passei da fase “brasileiro é passivo e não reclama de nada nem reivindica seus direitos”; o que esses protestos me fizeram perceber é que o que não fazemos é nos agrupar para lutar. E esse é um dos motivos, porque em toda coletividade, sempre haverá gente mais esquentada, e é assim que alguns movimentos são ideologicamente estragados. Mandela (vá em paz!) pós-prisão e Ghandi são dois grandes exemplos de que um protesto (ou mesmo uma revolução) pacífica é possível – ainda que continue havendo desigualdades em ambos os seus países.
Lulu: Sim, eles utilizaram a idéia da desobediência civil de Thoreau. É uma forma de protesto político pacífico em que se questiona um governo opressor (como no caso da colonização indiana pela Inglaterra para o exemplo do Gandhi) ou uma situação de injustiça social (como o apartheid, enfrentado por Mandela).
A desobediência civil de Thoreau, por não concordar com a escravidão, foi deixar de pagar impostos. A recusa em prestar serviço militar obrigatório em casos de guerra também é vista como um ato de desobediência civil. Juridicamente falando, é algo que está em pé de igualdade com o direito de greve, por exemplo.
Problema é que muita gente confunde esse conceito com o de anarquia porque a desobediência civil significa você não seguir as leis de um Estado que você não apóia. De um jeito ou de outro, para esse tipo de coisa funcionar, é preciso uma organização e um comprometimento bem maior do que ir para o protesto no meio da rua.
Ísis: Concordo com a Lu. Também nunca entendi o objetivo de depredar patrimônio público. Ninguém ganha com isso – aliás, perde-se. E foi o que me deixou mais fula da vida com os protestos (exceções à parte – alguns até foram pacíficos, pelo que li).
Inclusive tem momentos em que desconfio que quem começa a algazarra é justamente um penetra, ou “espião”, ou alguém que não está ali com os mesmos fins... ou mesmo alguém da mídia, só para ter uma reportagem mais chamativa... Sei lá...
Dani: Bom, talvez eu acabe sendo um pouco polêmica no que vou dizer, mas... concordem comigo: haveria algum destaque se não houvesse violência? Chamaria tanta atenção e pressionaria o governo verdadeiramente?
Não estou dizendo que concordo com a violência, Deus, longe disso! Mas nosso governo corrupto, acostumado a ludibriar as massas e ignorar suas necessidades descaradamente, só parece realmente ceder quando as coisas saem do controle!
Admito, a depredação de patrimônios públicos foi um absurdo. E eu como amante de arte mais do que ninguém odiou ver aqueles prédios sendo destruídos, mas no fim serviu de alguma coisa. Caramba, até Versalhes foi destruído! Eu realmente também adoraria não termos de recorrer a tal ponto, mas às vezes parece não haver outra opção para chamar a atenção e exigir alguma mudança! Nosso governo não cede à pressões passivas, nunca cedeu! Foi horrível? Foi. Desnecessário? Talvez. Mas ajudou a pressioná-los? Com certeza.
Eu estive em alguns desses protestos. Não cheguei a ficar até as coisas saírem do controle porque tenho problemas com muito barulho (hipersensibilidade auditiva, um inferno... Basicamente ouço como um cachorro e tenho de viver com tampões de ouvido diariamente - -“), então sempre acabava indo embora cedo. Mas quando você vê a quantidade de pessoas exigindo mudanças, EXAUSTA de abaixar as cabeças porque sabe que nosso governo não está nem aí para o que precisamos, você começa a pensar se as vidas, as famílias, de cada uma dessas pessoas, não é mais importante de alguns símbolos históricos realmente. Olhando de fora, prédios e história parecem ser mais importantes, mas o que acontece quando paramos para olhar cada pessoa que ainda vive na miséria, se matando de trabalhar para sustentar os filhos, que acabam morrendo por um péssimo sistema de saúde, enquanto temos os mais incríveis estádios do mundo?
Eu como todos os outros realmente adoraria que não houvesse necessidade de recorrer à violência, mas enquanto tivermos esse tipo de governo controlando o nosso país, para mim é o único modo de dobrá-los de verdade. Talvez no futuro manifestações pacificas possam trazer bons resultados. Quando a satisfação do povo e sua qualidade de vida forem mais importantes do que ganhos pessoais para algumas poucas pessoas com muito poder nas mãos. Mas no momento, com as coisas como estão, ainda não vejo essa possibilidade.
Parafraseando o maior símbolo das revoluções, V: “Não precisamos de prédios, mas de esperança.”
Lulu: Eu entendo seu ponto, Dani, mas não acho que tenha sido a violência que deu destaque para o Estado começar a mexer alguma coisa... Esse pessoal está mais interessado nos índices de aprovação pública e na possibilidade de reeleição. O que importa para eles a violência?
Pelo contrário, minha impressão é que a partir do momento em que os protestos se tornaram mais violentos, a opinião pública mudou e parou de apoiá-los. Não é nem a questão de “prédios e história” serem mais importante, mas sim que no momento em que a coisa começou a sair do controle, eles deram um tiro no próprio pé, porque isso afugentou muita gente das manifestações.
Somos uma democracia. Não é pela violência que vai se mudar alguma coisa, porque isso só dará uma desculpa para o governo mandar a polícia (totalmente despreparada para esse tipo de situação) pra cima. É pelo voto. Votar em representantes que de fato estejam preocupados com o Brasil, em vez de eleger sanguessugas ano após ano.
Se fôssemos uma monarquia, ou uma ditadura, ou uma colônia, até acredito que a violência poderia ser justificada, porque não haveria outra maneira de realizar mudanças. Mas não é bem assim que a coisa funciona. É errado acreditar que a política é ruim pela política – não é. O que tem de ruim são os políticos.
Dani: De fato é verdade tudo o que você disse, Lu, mas falo do ponto de que a violência ajudou a pressionar o governo a fazer algo mais rápido. Exatamente por causa da pressão pública. Se as coisas não tivessem se descontrolado tão rápido, duvido que esses cretinos teriam cedido tão fácil... Não apoio e nunca apoiarei esse tipo de coisa, mas vejo o que aconteceu como algo que não dava para evitar. Todas as revoluções acabam sendo violentas em algum ponto.
O que me deixa revoltada é o fato de termos de chegar a esse ponto para nos fazermos ouvir.
Dé: E tentarei manter teorias da conspiração de fora.
Lulu: Também não acrescentarei as minhas...
Ísis: Eu não preciso, porque tenho crédito nisso... XP
Lulu: Não cheguei a participar de nenhum dos protestos porque não me sinto bem em meio a multidões Sou muito consciente do meu *pigarreia* espaço vital, e já entrei em pânico a ponto de não conseguir respirar nas duas únicas ocasiões em que me vi de fato cercada.
Ísis: Eu queria, mas a única que teve aqui em Nagoya aconteceu quando eu tava voando no assunto... E quando fui ao Brasil, os protestos já estavam mais violentos...
Lulu: Isso não significa que eu não tenha acompanhado, torcido e conversado sobre o assunto, sobre as reivindicações, sobre os motivos e as consequências com várias pessoas próximas.
A única coisa para que torço agora é que essa indignação toda que foi vista se traduza em mudanças nas urnas em 2014 – que as pessoas que foram às ruas decidam votar de forma mais consciente, porque querendo ou não, foram elas que elegeram os representantes contra quem se rebelaram.
Dani: É aí que as mudanças deveriam começar de fato. Mas aí vem outro problema: em quem diabos acreditar?
Lulu: É difícil, Dani, mas o primeiro passo seria ouvir as propostas dos candidatos, em especial aqueles que vão para o legislativo. São eles que fazem as leis, afinal, são eles que estão mais próximos de suas plataformas políticas, teoricamente mais perto do povão.
É ver os debates, se possível participar deles. Eu assisti debates de candidatos a deputado e vereador realizados na minha faculdade, por exemplo. Eu sei em que votei para vereador nas últimas eleições, e tenho acompanhado o que ele faz na câmara, prestado atenção nos projetos que ele tem apresentado. Se ele sair de linha, não votarei nele de novo na próxima vez, mas até agora ele tem feito um bom mandato.
Só que essa é a exceção, não a regra. Faça o teste, pergunte às pessoas ao seu redor em quem elas votaram para vereador. Para deputado. Talvez elas se lembrem em quem votaram para senador. Consiga o email da assessoria desse pessoal. Escreva, pergunte, questione. Participe da política.
Não tenho muita esperança de que nada disso aconteça, porém. Primeiro porque não consigo enxergar muitas alternativas – qualquer que seja o partido; direita ou esquerda, ninguém parece muito preocupado com o que vai além de seus próprios ganhos. Além disso, sou um tanto cínica em relação a esse tipo de consciência política num país em que se dá tão pouca importância à educação. E a verdade é que a ignorância é o combustível do populismo barato, das medidas meramente paliativas.
Falando de medidas paliativas, vamos observar a questão dos médicos estrangeiros – que foi uma das maiores polêmicas de 2013. Não sou exatamente contra a vinda de profissionais para ocupar os espaços que não conseguimos suprir. Existe uma deficiência causada tanto pelo número de profissionais formados, quanto pelo fato de que há lugares para onde ninguém quer ir.
O grande problema não é trazer médicos de fora. O grande problema é que (1) isso não vai resolver os problemas de estrutura; ter médico é bom, mas só ter um médico, sem ter remédio nem equipamento, não faz milagre; (2) a forma como está sendo feita a recepção desses profissionais dá margem à fraudes e outras indignidades, incluindo aí o confisco (eu não acho que há outra forma de se dizer isso) do salário dos médicos cubanos.
E eles podem até concordar em entregar quase todo o salário para o governo de Cuba – ou porque seguem a ideologia ou porque não têm escolha –, mas o Brasil não tem desculpas para justificar isso. Tanto é assim que esses contratos estão sendo investigados pelo Ministério do Trabalho, por não estarem de acordo com as leis trabalhistas em nosso país.
Dé: Segundo o que andei ouvindo de pessoas da área, é mais uma questão logística do que falta de profissionais. Em alguns casos, até tem médicos, mas não tem sequer álcool para lavar as mãos ou material esterilizado.
Lulu: Boa parte dos meus familiares maternos estão na área da medicina e para além disso, muitos estão no interior. Como disse antes, parte do problema é o fato de que nem todo médico quer ir se enfiar lá onde Judas perdeu as meias.
Dani: Concordo com ambos. Não precisaríamos trazer médicos de fora se houvesse suficiente material e infraestrutura para atender a massa. E médicos dispostos a atender lugares mais necessitados quando necessário.
Lulu: Mas, sim, a questão da falta de infraestrutura é o que está por trás da maior parte dos problemas...
Ísis: Não existe nada errado em trazer médicos de fora, ainda mais os de Cuba, cuja Medicina é conhecida como uma das melhores do mundo – desde que se ofereça iguais condições. Já me disseram que os formados estão com um nível cada vez mais baixo e isso era uma das razões de terem importado... Mas não sou da área então não me atrevo a discorrer sobre isso. (Só digo que, se esse era o problema, MELHORE OS CURSOS DE MEDICINA, ora, diabos!)
Lulu: Não creio que esse seja o problema, Ísis. Como disse, tenho muitos familiares formados ou estudando medicina – incluindo aí meu irmão. Sei que a Federal daqui de Pernambuco, por exemplo, prioriza inicialmente a parte teórica, enquanto que a Estadual (onde meu irmão estuda), os alunos têm contato desde o primeiro período com os Programas de Saúde Familiar – quando vão para as comunidades e trabalham com a parte de conscientização e prevenção.
Não acho que os formandos estejam com um nível mais baixo, mas sim que a depender do tipo de grade curricular, eles vão trabalhar mais a teoria que a prática e só terão contato com o paciente ao chegar no internato.
E as faculdades de medicina cubanas já foram consideradas de excelência, mas hoje em dia eles também não estão com toda essa bola, não. Prova disso? Tem se multiplicado as denúncias de erro de prescrição médica. Passou no jornal, mas eu já tinha sabido antes por causa, novamente, de primos desse meio – pessoa que recebeu prescrição para antibiótico com uma dose simplesmente cavalar.
E não é um caso isolado, isso é o que é mais preocupante.
Esse é um dos principais motivos que fazem necessário a prova de validação do diploma estrangeiro. O negócio, Ísis, é que nunca foi proibido que médicos estrangeiros atuassem no Brasil, contanto que eles passassem pelo Revalida, que a título de exemplo seria um equivalente à prova da OAB.
O pessoal que veio para participar do programa Mais Médicos? Eles não passaram pela bateria comum de testes, em vez disso responderam uma prova simplificada com três perguntas.
Ísis: O Brasil é um mercado enorme em várias áreas. Se quem está aqui não quer, qual o problema de oferecer a outros?
Só que aqui entra outra questão: por que os médicos brasileiros não aceitam os cargos existentes? E aí vem toda a discussão do salário, da distância etc. O problema mais urgente: nesse meio tempo, é que quem sofre é a população da área sem médicos. E, sim, a logística é, sim, um problema – como bem disse a Lu acima, tem limites do que um número a mais de médicos pode fazer.
Lulu: Minha madrinha foi responsável técnica pelo Hospital de Mirandiba, que não lembro agora se é federal ou estadual... em todo caso, ela acabou pedindo exoneração do cargo porque não via como podia trabalhar e se responsabilizar pela vida de todo mundo na cidade quando não tinha esparadrapo e gaze para fazer um simples curativo, não havia remédio para hipertensão – que é um medicamento do componente básico do SUS obrigatoriamente fornecido pelo Estado – não havia equipamento para fazer coleta de exame, faltava absolutamente tudo.
Numa situação dessas, para que serve um médico? Fazer massagem cardíaca quando o cara já teve um enfarto? Identificar que você está com uma infecção e não poder passar nem antibiótico nem soro porque está em falta? Chamar a ambulância para levar para o hospital de uma cidade vizinha maior ou a capital?
Ísis: Essa do confisco eu não sabia, mas acho que Cuba não “cederia” os médicos sem essa cláusula, né? Não é fácil para cubanos saírem de Cuba, assim como chineses saírem da China e, agora, sírios da Síria. Mas os profissionais cubanos devem ter recebido outros privilégios, então, não? (E por que o Ministério do Trabalho não teve acesso a esse “acordo internacional” antes, para dar seu parecer ou coisa assim? oO).
Lulu: Não, até onde eu saiba, os cubanos não receberam outros ‘privilégios’. E o Ministério do Trabalho não parece ter tido nada a ver inicialmente com o acordo. A coisa aconteceu com tanta rapidez para um projeto dessa envergadura que fica até difícil de entender, Ísis...
Falando em ministério, ministro e outras patacoadas, o assunto do momento, todo dia o dia inteiro é o julgamento do Mensalão e a prisão de Dirceu, Genoíno e Cia ltda.
Dé: Que tá se mostrando uma piada, né?
Lulu: Faz muito tempo que a política no Brasil se transformou em piada...
Dani: Algum dia não foi?
Lulu: Talvez logo após o final da ditadura. Com o pessoal que lutou pela Diretas Já. Havia, então, grandes estadistas brasileiros... O Tancredo Neves é um exemplo – do que já ouvi falar da morte dele, minha impressão é que ele teria sobrevivido se não tivesse decidido assumir de qualquer maneira a presidência, porque de outra forma não acabava a ditadura. Os militares não iam querer passar a faixa para o Sarney (eu também não ia querer passar a faixa para o Sarney...).
Meus pais falam muito do Ulysses Guimarães e do Mário Covas. Eu não me interessava por política à época deles, era criança demais para entender e formar minha própria opinião sobre o assunto, mas pelo que ouço e leio, tenho a impressão de que eles foram bons políticos.
Mas, voltando ao assunto...
Ok, primeira coisa: eu não gosto do endeusamento do Joaquim Barbosa. Vejam, não é uma questão de não concordar com o julgamento, mas o estilo pessoal dele não me desce muito bem a garganta. A falta de cortesia é o de menos num comportamento que é francamente tirânico. Quer queira, quer não, ele não pode simplesmente impor sua visão: o STF é um órgão colegiado, as decisões precisam ser discutidas, precisam ser analisadas e justificadas.
Demora? Sim, demora. Mas se fosse você um inocente no banco dos réus, você não ia querer que analisassem todos os seus recursos e todos os seus argumentos?
Ísis: Obrigada! Tô cansada de explicar isso! >.<
Lulu: Isso não significa que o julgamento do mensalão tenha sido um tribunal de exceção. Vale lembrar que o foro privilegiado que fez os mensaleiros serem julgados pelo STF é exatamente o que o nome está dizendo: um privilégio.
O maior problema aqui, na minha opinião, é o direito processual brasileiro. Sou a favor do duplo grau de jurisdição, porque, afinal das contas, nem sempre se condena somente quem é culpado e a possibilidade de recurso, de uma segunda análise é primordial para que haja justiça. Mas a nossa legislação dá margem não apenas a um duplo grau de jurisdição, mas a uma infinitude de recursos que acabam por protelar mais e mais um resultado.
Ísis: Lu, não sei se é bem esse o problema, não... Pelo menos não tão diretamente, Todos os recursos tem prazos, e normalmente são bem curtos. Só que não são obedecidos, em grande parte pelo enorme número de processos por juiz/vara/câmara etc, cada um com seus recursos etc. Ou seja, indiretamente, sim, mas – se os todos os prazos (inclusive do juiz e MP) fossem obedecidos, não acha que demoraria bem menos, não?
Lulu: Essa é uma questão, mas como eu trabalho mais proximamente com processo que você – hoje processo civil, mas já atuei na área criminal também – mantenho que parte do problema seja a quantidade de recursos.
Ísis: Também não discordo, só estou dizendo que não é o único e, talvez, não seja o principal.
Lulu: Veja só, começa havendo uma ação. Se houve pedido de tutela antecipada, a depender de ter ou não sido deferida a tutela, você pode ter um agravo de instrumento e da decisão do agravo de instrumento você pode depois agravar de novo, que é o agravo interno ou regimental. Lá pelas tantas você pede a suspensão da tutela, que não é exatamente um recurso, mas você pode fazer. Se o agravo regimental não for deferido ou for deferido, você pode embargar. E do embargo, ir para o recurso especial e o recurso extraordinário. E se os recursos não forem providos, você pode agravar de novo com base do art. 544 do CPC.
Enquanto está rolando todos esses recursos só na tutela antecipada, a ação é contestada. Digamos que saia a sentença sem que tenha havido o monte de agravos e recursos acima. O advogado pode entrar com embargos declaratórios, e se improvido, vai para a apelação. Se a apelação foi negada com fundamento em decisão monocrática, vale agravo interno. Indeferido agravo, vai embargos declaratórios com efeitos infringentes. Não foi provido embargo, recurso especial e extraordinário. Agravo da decisão que inadmitiu REsp e RE.
Ísis: Se eu não tivesse feito Direito, não tinha entendido bulhufas agora... LOL
Lulu: Depois disso tudo, até que se completem dois anos de trânsito em julgado, você ainda pode entrar com ma ação rescisória para reiniciar todo o processo do começo.
Aí o Dé ainda pergunta porque eu tenho mania de querer pular da janela...
Dani: Devo ter herdado essa de você então. ^^
Lulu: Entrar com um processo, no Brasil, é se tornar ator de uma novela sem previsão de final.
Sobre a prisão do pessoal que foi condenado e teve o processo já transitado em julgado em parte dos crimes, bem... isso é um negócio inédito no Brasil. Juridicamente falando, até onde sei, não existe nenhuma ilegalidade.
Agora, essa história do Dirceu saindo da prisão durante o dia para ser gerente de hotel ganhando vinte mil por mês era uma piada sem precedentes. Eu nem toco no assunto do Genoíno, que de fato já passou por cirurgia, tem problemas sérios de saúde, etc, etc, etc... Não sou médica para passar laudo e saber se ele tem ou não condição de estar na prisão – e não é desculpa que existam outros na mesma situação dentro do sistema prisional. Então dê tratamento de qualidade para todo mundo em vez de querer nivelar para baixo.
Mas o caso do Dirceu é, francamente... estrambólico. Que pombas de experiência essa criatura tem como gerente de hotel? Por que raios ele ia ganhar mais que o atual gerente que trabalha lá? E também não me tente convencer que ele fora contratado por sua capacitação ou por sua brilhante personalidade.
Não vai colar.
Tanto é assim que deu no que deu, né? Outra situação de fraude com direito até a laranja internacional...
E é tudo o que direi sobre o assunto, porque nunca coloquei mãos no processo do mensalão para poder me aventurar a dizer se foi justo ou não foi.
Ísis: Obrigada, de novo!
Lulu: Cometeu-se um crime. Não importa quem seja, de que partido, que ideologia, alguém tem de sofrer as consequências.
Dé: Fazendo uma adição ao que a Lu tem dito, eu tenho uma coisa presa na garganta já tem alguns meses. Instituto Royal.
Nós vimos toda a algazarra e toda a polêmica criada pelo caso, pro bem ou pelo mal. Isso gerou uma discussão sobre experimentação animal, questão de bons ou maus tratos à estes, “alternativas” aos testes conduzidos em animais e tudo.
Bom, deixa eu soltar logo a bomba: Experimentação animal é, ATUALMENTE, um mal necessário. Não falo isso de maneira vazia: para os que não sabem, sou biólogo e estou atualmente no meio de um curso de mestrado em Ecologia. E tenho irmã e prima biólogas, perto de obterem o título do Doutorado. Não falo sem conhecimento de causa.
Acontece que nada no mundo pode prever como um organismo vivo irá reagir a alguma coisa, exceto... um organismo vivo. Existem uma série de leis INTERNACIONAIS acerca de experimentação animal, dizendo que espécies e raças de animais podem ser usados, que testes podem ou não ser realizados, os limites dos testes que podem ser realizados, condições de vida que estes animais devem ter e, também, métodos humanos de sacrificar os animais que precisam ser sacrificados.
Acontece que no Instituto Royal REALMENTE havia um desrespeito destas normas nas condições a que os beagles estavam submetidos, e não precisa ser da área para perceber isto. Espaços pequenos demais, animais demais juntos, higiene de menos... E isto é só o que era visível nas fotos que vi nas notícias. Mas eles realizavam pesquisas seríssimas, e as consequências das transgressões seriam multa e perda da licença de experimentação animal até adequação. Ah, e a ANVISA não tem nada a ver com isso, viu?
Já do lado dos ativistas... PQP... Muito bem, eles queriam o bem de todos os animaizinhos que eram maltratados e o fim daquele absurdo. Alegando isto eles INVADIRAM o laboratório e ROUBARAM beagles e coelhos do Instituto. E deixaram os ratos e camundongos. Dá pra entender isso? Animais bonitinhos e fofinhos não podem sofrer, mas outros animais podem? Um peso, duas medidas? Ah vá...
E pra completar, estes “ativistas” simplesmente destruíram equipamentos de laboratório e computadores, simplesmente jogando fora todo o sofrimento que os animais já haviam sofrido, para que aqueles dados de pesquisa fossem obtidos. Mais que os danos financeiros, o dano que estes idiotas, pois não há termo melhor para descrever, causaram para a ciência como um todo foi simplesmente incalculável. Anos de pesquisas literalmente jogados fora, por conta de pessoas que não tem a menor noção real das suas ações.
Lulu: Concordo com todos os seus pontos, Dé. Eu tinha me esquecido de acrescentar à minha lista esse episódio... O pior de tudo foi terem destruído os dados que já tinham sido coletados – raios, que tipo de retribuição é essa? Que diferença isso ia fazer no grande esquema das coisas?
Ísis: Rapaz, isso é algo que eu volta e meia me pego perguntando: ser a favor ou não. É muito difícil se dizer ambientalista, e depois dizer que experimentos em animais são necessários. Andei lendo algumas teorias sobre direitos animais, mas quanto mais eu leio, menos entendo (como tudo nessa vida)... O posicionamento do Dé é perfeitamente lógico, mas como cientista social, eu não consigo me obrigar a concordar em impor uma situação/ordem etc a quem não tem um mínimo de chances de defender-se (e olhe que eu tento, porque, como disse, é um pensamento lógico). Em resumo, atualmente, não sou a favor de forçar tratamentos em criaturas que não tenham um mínimo de voz para se defender. Vão experimentar em prisioneiros ou sei lá.
Dé: Seria a solução ideal, Isis. Acontece que nós, como espécie, temos uma ilusão de que somos melhores do que outros animais. Experimentação humana tem uma série de empecilhos e entraves que inviabiliza o uso legal dessa alternativa.
E se o problema é o animal em questão aceitar ou não ser usado em testes... Quanto tempo demoraria para que, caso experimentação humana seja adotada como padrão (novamente, digo ser a saída ideal), ela seja usada como punição, CONTRA a vontade da pessoa?
Ísis: Sei que existem os tratados internacionais etc, e vejo que é “necessário” para a humanidade etc... Mas não consigo me fazer aceitar, pelo puro fato de que não me vejo no posicionamento da ecologia rasa (ser humano ainda acima de todas as outras espécies).
Mas estou indignada também com o desperdício que eles causaram, os danos aos DADOS e ao preconceito racial/de espécies entre os bichos.
Lulu: Olha, Ísis, eu falo do ponto de vista de quem tem/teve parentes próximos e queridos lutando contra doenças como câncer e Alzheimer: se experiências em animais é o que é necessário para encontrar, se não uma cura, ao menos uma forma de aliviar o sofrimento deles, então eu sou a favor.
Dé: Exatamente mais um dos motivos que me tornam favorável à experimentação animal, quando respeitadas as leis e regulamentações.
Ísis: Vide abaixo.
Lulu: Não significa que eu seja a favor dos maus-tratos. Como o Dé disse, existem normas internacionais para controlar esse tipo de pesquisa.
Se não há outras alternativas e não é para testar em animais, então liberem a eutanásia. Se eu algum dia for diagnosticada com um negócio como Alzheimer e não houver nenhum tipo de cura ou modo de refrear a doença, então eu prefiro morrer de uma vez só que ficar me apagando aos poucos até me tornar um vegetal sem consciência preso em cima de uma cama.
Dani: Sou forçada a concordar. Por mais pena que dê (e convenhamos, mexer com animais em geral nos toca no ponto mais sensível) como poderíamos fazer de outra forma? É infelizmente um mal necessário. Mas mesmo não concordando, devemos ao menos tirar lições do que já se foi feito! Destruir os dados é simplesmente ignorar um conhecimento que, para bem ou para mal, vai trazer algum benefício! Seria o mesmo que ignorarmos as descobertas científicas durante a 2ª Guerra Mundial, só porque foi “horrível demais”. Não faz sentido.
Como não tenho qualquer conhecimento em biologia, vou citar alguns fatos na história do estudo da Psicologia que domino um pouco mais. Durante muitos anos de estudo do comportamento humano, fizeram-se uso de pessoas deficientes ou de crianças órfãs e pessoas sem teto como instrumento para estudo. Muitos dos métodos eram completamente absurdos e até mesmo brutais, como por exemplo, a quem interessar pesquisar, pesquisas de estímulo-resposta onde se realizavam cirurgias na boca de uma criança para a instalação de um mecanismo de entrega de comida, a fim de medir a resposta da produção das glândulas salivares. Ou então a remoção de regiões do cérebro (muitas vezes escolhidas aleatoriamente, apenas para ver “o que aconteceria”), para mapeamento cerebral e análise de comportamento.
Durante muito tempo esses experimentos foram feitos em humanos sem qualquer pudor ou sensibilidade. Foi horrível, grotesco, e é mesmo terrível pensar que um dia seres humanos foram capazes de fazer tais coisas com outros, mas também seria a maior das ignorâncias simplesmente não dar valor aos resultados obtidos!
Pelo amor de Deus! Qual é vantagem de podermos avaliar nossa própria história se não vamos aprender com ela?
Ísis: Então vá experimentar em humanos, até porque as reações serão mais próximas. E respondendo ao Dé, sim, provavelmente vai haver esse ponto em que será feito contra a vontade... Mas é exatamente isso que estamos fazendo com os animais agora. Não vejo a diferença, sério. Não estou dizendo que precisamos proteger os animais porque são bonitinhos e indefesos e blah, blah, blah. Odeio esse discurso. E indefeso é a mãe: vai tentar brincar com um hipopótamo, vai? Estou dizendo que somos hipócritas. Só isso (e, sim, estou me incluindo nisso).
Lulu: Por mim, não me importa muito se os experimentos são feitos em cobaias animais ou humanas, embora claro que eu preferia que fossem feitos em voluntários com consciência dos riscos que correm. Esse é um dos poucos casos em que serei absolutamente maquiavélica: os fins justificam os meios.
E agora, vamos às notícias internacionais.
Eu só ligo no noticiário e leio manchete de jornal para me desesperar com a capacidade humana de atirar no próprio pé – para não usar expressão mais vulgar. Síria, Irã, Palestina, Israel, Estados Unidos, Egito, guerra civil, ataque químico, bomba nuclear, espionagem, revolução, contrarrevolução e um número incalculável de vidas perdidas, entre mortos e sobreviventes.
Eu sinceramente não sei mais o que esperar, ao que sou favorável ou não. Por um lado, não gosto da intervenção, sou a favor da defesa da soberania e acho que as coisas devem ser resolvidas com diálogo e diplomacia.
Ísis: Em princípio, e preferencialmente sempre, sim. Mas quando há vidas inocentes em jogo, o debate vem à tona.
Lulu: Uma palavra para você, Ísis: Ruanda.
Ísis: ¬_¬ É por isso (e outros, tipos os refugiados do “Arab Spring”) que escrevi “preferencialmente”.
Lulu:E é exatamente essa a questão, não é verdade? Quando o diálogo se torna impossível? Quando todos os limites são ultrapassados? Quando não se pode mais aceitar justificativas? Quem vai arcar com a responsabilidade quando a responsabilidade é simplesmente imensurável?
São perguntas com respostas bem difíceis. Ética e bom senso nem sempre são fáceis ou preto e branco...
Dé: Lu, te entendo muito bem. Honestamente, já perdi a esperança na humanidade como um todo já faz muito tempo. Eu sempre me emociono quando vejo atos de bondade, tal como o caso do policial que comprou sapatos para um morador de rua. Estes são casos isolados que me fazem ter um último raio de esperança na humanidade... por uns cinco minutos, até ver a notícia de alguma guerra rolando.
Tem uma música do Disturbed que representa bem isso, de conflitos e tudo: Mine.
Ísis: E cadê o “esperança é a última que morre”? Eu não perdi, não, porque na hora que você perde a esperança, perde também o “direito” (traduza como “vontade”) para lutar por uma melhoria. E lutar por uma melhoria não é só sair pra protestar ou escrever um post na internet, não. É todo dia espalhar ética e esperança. Da mesma forma que esse policial fez uma boa ação e te fez acreditar por cinco minutos, você também pode fazer isso por outra pessoa. Ajude uma senhora que carrega uma sacola pesada, ofereça ajuda a um cego, ajude alguém que caiu a se levantar (EU!!!! Caio o tempo inteiro... “ajuda eu!” XD).
Sim, estamos numa situação horrível, o panorama mundial é triste, e tem mais gente morrendo em um ano de guerras civis intrafronteiriças do que morreu durante a Guerra Mundial (li isso num livro de diplomacia internacional)... Mas também não esqueça que você não viveu outras épocas pra dizer se agora tá melhor ou pior. Durante a Guerra Fria, muita gente viveu sob a pressão de um ataque nuclear a qualquer momento, muitos morreram na 2ª GM, nos conflitos da Iugoslávia etc. A situação nessas áreas de conflito fica mais complicada justamente por causa do conceito de soberania, e do que é aceitável ou não. Ficamos desesperados porque não somos capazes de salvar inocentes. Sempre haverá pessoas que causarão esses conflitos (ou pelo menos, ainda existirão por um longo período), mas sentar e dizer que a humanidade está perdida não muda nada.
E, ei, eu tô no meio da discussão aqui entre China e Japão (que, por si só, já é tenso o suficiente) por causa das ilhas Diaoyu/Senkaku (que tá escalando gradualmente)... Quem tá “seguro” no Brasil (vejamos que o Brasil é um país tradicionalmente amigável e pacífico, em termos de guerras em geral – NÃO estou falando da situação da segurança) vai ter que torcer comigo pela humanidade (e por mim) em 2014 e em diante! ^^
Lulu: Ísis, eu tento ter esperanças. Eu acredito na extraordinária capacidade humana para criar e para se adaptar. É um dos motivos de eu gostar tanto de livros, de música, de História.
Creio que o problema não seja tanto “nossa época é pior do que as outras”, mas sim que somos, de uma forma geral, muito mais cínicos hoje. Sabe a história do Assange e do Snowden, de revelarem segredos e denunciarem condutas que não consideravam éticas? Eu acho a idéia admirável, mas não consigo vê-los como heróis por não saber exatamente que tipo de motivos os levaram a desafiar as ‘regras’ de maneira tão absoluta.
Para além disso há o fato de que nunca conseguimos olhar para a nossa própria época com o distanciamento necessário para fazer uma boa análise. Sempre seremos contaminados pela forma como aqueles fatos nos alcançaram – para o bem ou para o mal.
Dani: Honestamente? Para mim a esperança não é a última que morre, mas o arrependimento. Só estou esperando para ver quando a estupidez humana vai se destruir de uma vez por todas ao lançar uma última bomba H e depois de feito, não poder mais remediar.
Essa “razão”, que valorizamos tanto é na verdade o nosso maior veneno. Criou o poder e a desigualdade. Vem destruindo harmonia, natureza e tudo o que, durante milênios sobreviveu nesse planeta antes que nós aparecêssemos.
Lulu: Não acho que o problema seja a razão, mas sim a arrogância.
Olha, eu sou a favor do capitalismo e da democracia, não porque acredite de fato que eles funcionem, mas porque as alternativas são muito, muito piores. O socialismo pode ser muito bonito no papel, mas só funcionaria numa comunidade de anjos, não de homens. Tampouco estamos preparados para a anarquia – não estou com Rosseau na teoria do Bom Selvagem, mas com Hobbes na idéia de que a ausência do Estado e de leis, desceríamos ao pior do caos e da barbárie.
Sou a favor da meritocracia, mas principalmente, das oportunidades iguais. Afinal, mérito só pode existir se você se destaca entre pessoas que tiveram as mesmas oportunidades que você. Que teve acesso às mesmas benesses. Todos deveriam ter a mesma oportunidade – de ter uma educação de qualidade, de ter acesso à cultura, de ter um sistema de saúde que funcione, de ter um transporte público decente...
O que você faz com isso, aí é com você. Mas antes disso, é preciso haver oportunidades para que possam existir escolhas...
Dani: Não sei, Lu... Ver o mundo como está hoje, e saber que a culpa é nossa, é mesmo desanimador para mim. Às vezes gostaria de ter nascido um cachorro.
E acho melhor pararmos por aqui, porque nunca vi o Coruja tão deprimente como nesse post. ^^”
Ísis: Então... Que venha 2014! ^.^’’’
E que ele seja palco de mudanças para melhor!
Lulu: Falou e disse, Ísis. E toquemos pra frente que ainda muito a ser feito esse ano...
Não esperem rima ou lógica enquanto pulo de assunto em assunto.
Dé: E essa coluna já teve lógica? Isso é novidade pra mim.
Dani: Alguma coisa tem lógica de fato nesse blog? ^^
Lulu: Bem, na verdade, a esperança é sempre a última que morre, não é verdade?
De todo jeito, farei a coisa em duas partes, uma para falar da vida, do universo e tudo mais e outra com marcos pessoais e outras coisas que me derem na telha.
Pelo meu lado, como diria minha sábia avó, andei mais que notícia ruim. E enquanto viajava – na realidade ou na maionese – o mundo de uma forma geral também andou em ritmo frenético ao longo de 2013.
Nas notícias nacionais... Tivemos os protestos por todo o Brasil, a inúmeras passeatas e manifestações que pararam o país e assustaram os detentores do poder. Infelizmente, as reivindicações legítimas (embora às vezes um tanto genéricas) acabaram indo para o lado da violência e do vandalismo.
Dé: Isso é uma coisa que eu lamento muito por aqui. Sempre tem aquele FDP que atira a primeira pedra. Ou o primeiro Coquetel Molotov. Enfim, seria muito bom que tivéssemos mais protestos pacíficos, mas na situação atual do país, acho que isso não é possível.
Lulu: Possível até é... Eu queria ver que tipo de reação a polícia teria se fosse confrontada com uma multidão que permanecesse fazendo minutos de silêncio em luto pela situação do país. É difícil fazer uma revolução sem derramamento de sangue, porque sempre haverá reação do poder instituído na tentativa de se perpetuar no poder.
Mas o que terminou por acontecer aqui no Brasil foram depredação de patrimônio público – cujos consertos serão feitos com dinheiro que vem do contribuinte (e até hoje eu não consegui atinar da motivação por trás de jogar pedras no Itamaraty) – saques e destruição não apenas generalizada como também burra, porque esse foi justamente o motivo pelo qual a opinião pública acabou virando.
Parte do problema também foi a reação da polícia, que estava totalmente despreparada para lidar com a situação. E aí a violência foi escalando, voltamos à barbárie, etc, etc, etc.
Ísis: Eu concordo com o Dé. Todos sabemos que brasileiros não lutam coletivamente pelo que querem... é sempre no individual. Eu já passei da fase “brasileiro é passivo e não reclama de nada nem reivindica seus direitos”; o que esses protestos me fizeram perceber é que o que não fazemos é nos agrupar para lutar. E esse é um dos motivos, porque em toda coletividade, sempre haverá gente mais esquentada, e é assim que alguns movimentos são ideologicamente estragados. Mandela (vá em paz!) pós-prisão e Ghandi são dois grandes exemplos de que um protesto (ou mesmo uma revolução) pacífica é possível – ainda que continue havendo desigualdades em ambos os seus países.
Lulu: Sim, eles utilizaram a idéia da desobediência civil de Thoreau. É uma forma de protesto político pacífico em que se questiona um governo opressor (como no caso da colonização indiana pela Inglaterra para o exemplo do Gandhi) ou uma situação de injustiça social (como o apartheid, enfrentado por Mandela).
A desobediência civil de Thoreau, por não concordar com a escravidão, foi deixar de pagar impostos. A recusa em prestar serviço militar obrigatório em casos de guerra também é vista como um ato de desobediência civil. Juridicamente falando, é algo que está em pé de igualdade com o direito de greve, por exemplo.
Problema é que muita gente confunde esse conceito com o de anarquia porque a desobediência civil significa você não seguir as leis de um Estado que você não apóia. De um jeito ou de outro, para esse tipo de coisa funcionar, é preciso uma organização e um comprometimento bem maior do que ir para o protesto no meio da rua.
Ísis: Concordo com a Lu. Também nunca entendi o objetivo de depredar patrimônio público. Ninguém ganha com isso – aliás, perde-se. E foi o que me deixou mais fula da vida com os protestos (exceções à parte – alguns até foram pacíficos, pelo que li).
Inclusive tem momentos em que desconfio que quem começa a algazarra é justamente um penetra, ou “espião”, ou alguém que não está ali com os mesmos fins... ou mesmo alguém da mídia, só para ter uma reportagem mais chamativa... Sei lá...
Dani: Bom, talvez eu acabe sendo um pouco polêmica no que vou dizer, mas... concordem comigo: haveria algum destaque se não houvesse violência? Chamaria tanta atenção e pressionaria o governo verdadeiramente?
Não estou dizendo que concordo com a violência, Deus, longe disso! Mas nosso governo corrupto, acostumado a ludibriar as massas e ignorar suas necessidades descaradamente, só parece realmente ceder quando as coisas saem do controle!
Admito, a depredação de patrimônios públicos foi um absurdo. E eu como amante de arte mais do que ninguém odiou ver aqueles prédios sendo destruídos, mas no fim serviu de alguma coisa. Caramba, até Versalhes foi destruído! Eu realmente também adoraria não termos de recorrer a tal ponto, mas às vezes parece não haver outra opção para chamar a atenção e exigir alguma mudança! Nosso governo não cede à pressões passivas, nunca cedeu! Foi horrível? Foi. Desnecessário? Talvez. Mas ajudou a pressioná-los? Com certeza.
Eu estive em alguns desses protestos. Não cheguei a ficar até as coisas saírem do controle porque tenho problemas com muito barulho (hipersensibilidade auditiva, um inferno... Basicamente ouço como um cachorro e tenho de viver com tampões de ouvido diariamente - -“), então sempre acabava indo embora cedo. Mas quando você vê a quantidade de pessoas exigindo mudanças, EXAUSTA de abaixar as cabeças porque sabe que nosso governo não está nem aí para o que precisamos, você começa a pensar se as vidas, as famílias, de cada uma dessas pessoas, não é mais importante de alguns símbolos históricos realmente. Olhando de fora, prédios e história parecem ser mais importantes, mas o que acontece quando paramos para olhar cada pessoa que ainda vive na miséria, se matando de trabalhar para sustentar os filhos, que acabam morrendo por um péssimo sistema de saúde, enquanto temos os mais incríveis estádios do mundo?
Eu como todos os outros realmente adoraria que não houvesse necessidade de recorrer à violência, mas enquanto tivermos esse tipo de governo controlando o nosso país, para mim é o único modo de dobrá-los de verdade. Talvez no futuro manifestações pacificas possam trazer bons resultados. Quando a satisfação do povo e sua qualidade de vida forem mais importantes do que ganhos pessoais para algumas poucas pessoas com muito poder nas mãos. Mas no momento, com as coisas como estão, ainda não vejo essa possibilidade.
Parafraseando o maior símbolo das revoluções, V: “Não precisamos de prédios, mas de esperança.”
Lulu: Eu entendo seu ponto, Dani, mas não acho que tenha sido a violência que deu destaque para o Estado começar a mexer alguma coisa... Esse pessoal está mais interessado nos índices de aprovação pública e na possibilidade de reeleição. O que importa para eles a violência?
Pelo contrário, minha impressão é que a partir do momento em que os protestos se tornaram mais violentos, a opinião pública mudou e parou de apoiá-los. Não é nem a questão de “prédios e história” serem mais importante, mas sim que no momento em que a coisa começou a sair do controle, eles deram um tiro no próprio pé, porque isso afugentou muita gente das manifestações.
Somos uma democracia. Não é pela violência que vai se mudar alguma coisa, porque isso só dará uma desculpa para o governo mandar a polícia (totalmente despreparada para esse tipo de situação) pra cima. É pelo voto. Votar em representantes que de fato estejam preocupados com o Brasil, em vez de eleger sanguessugas ano após ano.
Se fôssemos uma monarquia, ou uma ditadura, ou uma colônia, até acredito que a violência poderia ser justificada, porque não haveria outra maneira de realizar mudanças. Mas não é bem assim que a coisa funciona. É errado acreditar que a política é ruim pela política – não é. O que tem de ruim são os políticos.
Dani: De fato é verdade tudo o que você disse, Lu, mas falo do ponto de que a violência ajudou a pressionar o governo a fazer algo mais rápido. Exatamente por causa da pressão pública. Se as coisas não tivessem se descontrolado tão rápido, duvido que esses cretinos teriam cedido tão fácil... Não apoio e nunca apoiarei esse tipo de coisa, mas vejo o que aconteceu como algo que não dava para evitar. Todas as revoluções acabam sendo violentas em algum ponto.
O que me deixa revoltada é o fato de termos de chegar a esse ponto para nos fazermos ouvir.
Dé: E tentarei manter teorias da conspiração de fora.
Lulu: Também não acrescentarei as minhas...
Ísis: Eu não preciso, porque tenho crédito nisso... XP
Lulu: Não cheguei a participar de nenhum dos protestos porque não me sinto bem em meio a multidões Sou muito consciente do meu *pigarreia* espaço vital, e já entrei em pânico a ponto de não conseguir respirar nas duas únicas ocasiões em que me vi de fato cercada.
Ísis: Eu queria, mas a única que teve aqui em Nagoya aconteceu quando eu tava voando no assunto... E quando fui ao Brasil, os protestos já estavam mais violentos...
Lulu: Isso não significa que eu não tenha acompanhado, torcido e conversado sobre o assunto, sobre as reivindicações, sobre os motivos e as consequências com várias pessoas próximas.
A única coisa para que torço agora é que essa indignação toda que foi vista se traduza em mudanças nas urnas em 2014 – que as pessoas que foram às ruas decidam votar de forma mais consciente, porque querendo ou não, foram elas que elegeram os representantes contra quem se rebelaram.
Dani: É aí que as mudanças deveriam começar de fato. Mas aí vem outro problema: em quem diabos acreditar?
Lulu: É difícil, Dani, mas o primeiro passo seria ouvir as propostas dos candidatos, em especial aqueles que vão para o legislativo. São eles que fazem as leis, afinal, são eles que estão mais próximos de suas plataformas políticas, teoricamente mais perto do povão.
É ver os debates, se possível participar deles. Eu assisti debates de candidatos a deputado e vereador realizados na minha faculdade, por exemplo. Eu sei em que votei para vereador nas últimas eleições, e tenho acompanhado o que ele faz na câmara, prestado atenção nos projetos que ele tem apresentado. Se ele sair de linha, não votarei nele de novo na próxima vez, mas até agora ele tem feito um bom mandato.
Só que essa é a exceção, não a regra. Faça o teste, pergunte às pessoas ao seu redor em quem elas votaram para vereador. Para deputado. Talvez elas se lembrem em quem votaram para senador. Consiga o email da assessoria desse pessoal. Escreva, pergunte, questione. Participe da política.
Não tenho muita esperança de que nada disso aconteça, porém. Primeiro porque não consigo enxergar muitas alternativas – qualquer que seja o partido; direita ou esquerda, ninguém parece muito preocupado com o que vai além de seus próprios ganhos. Além disso, sou um tanto cínica em relação a esse tipo de consciência política num país em que se dá tão pouca importância à educação. E a verdade é que a ignorância é o combustível do populismo barato, das medidas meramente paliativas.
Falando de medidas paliativas, vamos observar a questão dos médicos estrangeiros – que foi uma das maiores polêmicas de 2013. Não sou exatamente contra a vinda de profissionais para ocupar os espaços que não conseguimos suprir. Existe uma deficiência causada tanto pelo número de profissionais formados, quanto pelo fato de que há lugares para onde ninguém quer ir.
O grande problema não é trazer médicos de fora. O grande problema é que (1) isso não vai resolver os problemas de estrutura; ter médico é bom, mas só ter um médico, sem ter remédio nem equipamento, não faz milagre; (2) a forma como está sendo feita a recepção desses profissionais dá margem à fraudes e outras indignidades, incluindo aí o confisco (eu não acho que há outra forma de se dizer isso) do salário dos médicos cubanos.
E eles podem até concordar em entregar quase todo o salário para o governo de Cuba – ou porque seguem a ideologia ou porque não têm escolha –, mas o Brasil não tem desculpas para justificar isso. Tanto é assim que esses contratos estão sendo investigados pelo Ministério do Trabalho, por não estarem de acordo com as leis trabalhistas em nosso país.
Dé: Segundo o que andei ouvindo de pessoas da área, é mais uma questão logística do que falta de profissionais. Em alguns casos, até tem médicos, mas não tem sequer álcool para lavar as mãos ou material esterilizado.
Lulu: Boa parte dos meus familiares maternos estão na área da medicina e para além disso, muitos estão no interior. Como disse antes, parte do problema é o fato de que nem todo médico quer ir se enfiar lá onde Judas perdeu as meias.
Dani: Concordo com ambos. Não precisaríamos trazer médicos de fora se houvesse suficiente material e infraestrutura para atender a massa. E médicos dispostos a atender lugares mais necessitados quando necessário.
Lulu: Mas, sim, a questão da falta de infraestrutura é o que está por trás da maior parte dos problemas...
Ísis: Não existe nada errado em trazer médicos de fora, ainda mais os de Cuba, cuja Medicina é conhecida como uma das melhores do mundo – desde que se ofereça iguais condições. Já me disseram que os formados estão com um nível cada vez mais baixo e isso era uma das razões de terem importado... Mas não sou da área então não me atrevo a discorrer sobre isso. (Só digo que, se esse era o problema, MELHORE OS CURSOS DE MEDICINA, ora, diabos!)
Lulu: Não creio que esse seja o problema, Ísis. Como disse, tenho muitos familiares formados ou estudando medicina – incluindo aí meu irmão. Sei que a Federal daqui de Pernambuco, por exemplo, prioriza inicialmente a parte teórica, enquanto que a Estadual (onde meu irmão estuda), os alunos têm contato desde o primeiro período com os Programas de Saúde Familiar – quando vão para as comunidades e trabalham com a parte de conscientização e prevenção.
Não acho que os formandos estejam com um nível mais baixo, mas sim que a depender do tipo de grade curricular, eles vão trabalhar mais a teoria que a prática e só terão contato com o paciente ao chegar no internato.
E as faculdades de medicina cubanas já foram consideradas de excelência, mas hoje em dia eles também não estão com toda essa bola, não. Prova disso? Tem se multiplicado as denúncias de erro de prescrição médica. Passou no jornal, mas eu já tinha sabido antes por causa, novamente, de primos desse meio – pessoa que recebeu prescrição para antibiótico com uma dose simplesmente cavalar.
E não é um caso isolado, isso é o que é mais preocupante.
Esse é um dos principais motivos que fazem necessário a prova de validação do diploma estrangeiro. O negócio, Ísis, é que nunca foi proibido que médicos estrangeiros atuassem no Brasil, contanto que eles passassem pelo Revalida, que a título de exemplo seria um equivalente à prova da OAB.
O pessoal que veio para participar do programa Mais Médicos? Eles não passaram pela bateria comum de testes, em vez disso responderam uma prova simplificada com três perguntas.
Ísis: O Brasil é um mercado enorme em várias áreas. Se quem está aqui não quer, qual o problema de oferecer a outros?
Só que aqui entra outra questão: por que os médicos brasileiros não aceitam os cargos existentes? E aí vem toda a discussão do salário, da distância etc. O problema mais urgente: nesse meio tempo, é que quem sofre é a população da área sem médicos. E, sim, a logística é, sim, um problema – como bem disse a Lu acima, tem limites do que um número a mais de médicos pode fazer.
Lulu: Minha madrinha foi responsável técnica pelo Hospital de Mirandiba, que não lembro agora se é federal ou estadual... em todo caso, ela acabou pedindo exoneração do cargo porque não via como podia trabalhar e se responsabilizar pela vida de todo mundo na cidade quando não tinha esparadrapo e gaze para fazer um simples curativo, não havia remédio para hipertensão – que é um medicamento do componente básico do SUS obrigatoriamente fornecido pelo Estado – não havia equipamento para fazer coleta de exame, faltava absolutamente tudo.
Numa situação dessas, para que serve um médico? Fazer massagem cardíaca quando o cara já teve um enfarto? Identificar que você está com uma infecção e não poder passar nem antibiótico nem soro porque está em falta? Chamar a ambulância para levar para o hospital de uma cidade vizinha maior ou a capital?
Ísis: Essa do confisco eu não sabia, mas acho que Cuba não “cederia” os médicos sem essa cláusula, né? Não é fácil para cubanos saírem de Cuba, assim como chineses saírem da China e, agora, sírios da Síria. Mas os profissionais cubanos devem ter recebido outros privilégios, então, não? (E por que o Ministério do Trabalho não teve acesso a esse “acordo internacional” antes, para dar seu parecer ou coisa assim? oO).
Lulu: Não, até onde eu saiba, os cubanos não receberam outros ‘privilégios’. E o Ministério do Trabalho não parece ter tido nada a ver inicialmente com o acordo. A coisa aconteceu com tanta rapidez para um projeto dessa envergadura que fica até difícil de entender, Ísis...
Falando em ministério, ministro e outras patacoadas, o assunto do momento, todo dia o dia inteiro é o julgamento do Mensalão e a prisão de Dirceu, Genoíno e Cia ltda.
Dé: Que tá se mostrando uma piada, né?
Lulu: Faz muito tempo que a política no Brasil se transformou em piada...
Dani: Algum dia não foi?
Lulu: Talvez logo após o final da ditadura. Com o pessoal que lutou pela Diretas Já. Havia, então, grandes estadistas brasileiros... O Tancredo Neves é um exemplo – do que já ouvi falar da morte dele, minha impressão é que ele teria sobrevivido se não tivesse decidido assumir de qualquer maneira a presidência, porque de outra forma não acabava a ditadura. Os militares não iam querer passar a faixa para o Sarney (eu também não ia querer passar a faixa para o Sarney...).
Meus pais falam muito do Ulysses Guimarães e do Mário Covas. Eu não me interessava por política à época deles, era criança demais para entender e formar minha própria opinião sobre o assunto, mas pelo que ouço e leio, tenho a impressão de que eles foram bons políticos.
Mas, voltando ao assunto...
Ok, primeira coisa: eu não gosto do endeusamento do Joaquim Barbosa. Vejam, não é uma questão de não concordar com o julgamento, mas o estilo pessoal dele não me desce muito bem a garganta. A falta de cortesia é o de menos num comportamento que é francamente tirânico. Quer queira, quer não, ele não pode simplesmente impor sua visão: o STF é um órgão colegiado, as decisões precisam ser discutidas, precisam ser analisadas e justificadas.
Demora? Sim, demora. Mas se fosse você um inocente no banco dos réus, você não ia querer que analisassem todos os seus recursos e todos os seus argumentos?
Ísis: Obrigada! Tô cansada de explicar isso! >.<
Lulu: Isso não significa que o julgamento do mensalão tenha sido um tribunal de exceção. Vale lembrar que o foro privilegiado que fez os mensaleiros serem julgados pelo STF é exatamente o que o nome está dizendo: um privilégio.
O maior problema aqui, na minha opinião, é o direito processual brasileiro. Sou a favor do duplo grau de jurisdição, porque, afinal das contas, nem sempre se condena somente quem é culpado e a possibilidade de recurso, de uma segunda análise é primordial para que haja justiça. Mas a nossa legislação dá margem não apenas a um duplo grau de jurisdição, mas a uma infinitude de recursos que acabam por protelar mais e mais um resultado.
Ísis: Lu, não sei se é bem esse o problema, não... Pelo menos não tão diretamente, Todos os recursos tem prazos, e normalmente são bem curtos. Só que não são obedecidos, em grande parte pelo enorme número de processos por juiz/vara/câmara etc, cada um com seus recursos etc. Ou seja, indiretamente, sim, mas – se os todos os prazos (inclusive do juiz e MP) fossem obedecidos, não acha que demoraria bem menos, não?
Lulu: Essa é uma questão, mas como eu trabalho mais proximamente com processo que você – hoje processo civil, mas já atuei na área criminal também – mantenho que parte do problema seja a quantidade de recursos.
Ísis: Também não discordo, só estou dizendo que não é o único e, talvez, não seja o principal.
Lulu: Veja só, começa havendo uma ação. Se houve pedido de tutela antecipada, a depender de ter ou não sido deferida a tutela, você pode ter um agravo de instrumento e da decisão do agravo de instrumento você pode depois agravar de novo, que é o agravo interno ou regimental. Lá pelas tantas você pede a suspensão da tutela, que não é exatamente um recurso, mas você pode fazer. Se o agravo regimental não for deferido ou for deferido, você pode embargar. E do embargo, ir para o recurso especial e o recurso extraordinário. E se os recursos não forem providos, você pode agravar de novo com base do art. 544 do CPC.
Enquanto está rolando todos esses recursos só na tutela antecipada, a ação é contestada. Digamos que saia a sentença sem que tenha havido o monte de agravos e recursos acima. O advogado pode entrar com embargos declaratórios, e se improvido, vai para a apelação. Se a apelação foi negada com fundamento em decisão monocrática, vale agravo interno. Indeferido agravo, vai embargos declaratórios com efeitos infringentes. Não foi provido embargo, recurso especial e extraordinário. Agravo da decisão que inadmitiu REsp e RE.
Ísis: Se eu não tivesse feito Direito, não tinha entendido bulhufas agora... LOL
Lulu: Depois disso tudo, até que se completem dois anos de trânsito em julgado, você ainda pode entrar com ma ação rescisória para reiniciar todo o processo do começo.
Aí o Dé ainda pergunta porque eu tenho mania de querer pular da janela...
Dani: Devo ter herdado essa de você então. ^^
Lulu: Entrar com um processo, no Brasil, é se tornar ator de uma novela sem previsão de final.
Sobre a prisão do pessoal que foi condenado e teve o processo já transitado em julgado em parte dos crimes, bem... isso é um negócio inédito no Brasil. Juridicamente falando, até onde sei, não existe nenhuma ilegalidade.
Agora, essa história do Dirceu saindo da prisão durante o dia para ser gerente de hotel ganhando vinte mil por mês era uma piada sem precedentes. Eu nem toco no assunto do Genoíno, que de fato já passou por cirurgia, tem problemas sérios de saúde, etc, etc, etc... Não sou médica para passar laudo e saber se ele tem ou não condição de estar na prisão – e não é desculpa que existam outros na mesma situação dentro do sistema prisional. Então dê tratamento de qualidade para todo mundo em vez de querer nivelar para baixo.
Mas o caso do Dirceu é, francamente... estrambólico. Que pombas de experiência essa criatura tem como gerente de hotel? Por que raios ele ia ganhar mais que o atual gerente que trabalha lá? E também não me tente convencer que ele fora contratado por sua capacitação ou por sua brilhante personalidade.
Não vai colar.
Tanto é assim que deu no que deu, né? Outra situação de fraude com direito até a laranja internacional...
E é tudo o que direi sobre o assunto, porque nunca coloquei mãos no processo do mensalão para poder me aventurar a dizer se foi justo ou não foi.
Ísis: Obrigada, de novo!
Lulu: Cometeu-se um crime. Não importa quem seja, de que partido, que ideologia, alguém tem de sofrer as consequências.
Dé: Fazendo uma adição ao que a Lu tem dito, eu tenho uma coisa presa na garganta já tem alguns meses. Instituto Royal.
Nós vimos toda a algazarra e toda a polêmica criada pelo caso, pro bem ou pelo mal. Isso gerou uma discussão sobre experimentação animal, questão de bons ou maus tratos à estes, “alternativas” aos testes conduzidos em animais e tudo.
Bom, deixa eu soltar logo a bomba: Experimentação animal é, ATUALMENTE, um mal necessário. Não falo isso de maneira vazia: para os que não sabem, sou biólogo e estou atualmente no meio de um curso de mestrado em Ecologia. E tenho irmã e prima biólogas, perto de obterem o título do Doutorado. Não falo sem conhecimento de causa.
Acontece que nada no mundo pode prever como um organismo vivo irá reagir a alguma coisa, exceto... um organismo vivo. Existem uma série de leis INTERNACIONAIS acerca de experimentação animal, dizendo que espécies e raças de animais podem ser usados, que testes podem ou não ser realizados, os limites dos testes que podem ser realizados, condições de vida que estes animais devem ter e, também, métodos humanos de sacrificar os animais que precisam ser sacrificados.
Acontece que no Instituto Royal REALMENTE havia um desrespeito destas normas nas condições a que os beagles estavam submetidos, e não precisa ser da área para perceber isto. Espaços pequenos demais, animais demais juntos, higiene de menos... E isto é só o que era visível nas fotos que vi nas notícias. Mas eles realizavam pesquisas seríssimas, e as consequências das transgressões seriam multa e perda da licença de experimentação animal até adequação. Ah, e a ANVISA não tem nada a ver com isso, viu?
Já do lado dos ativistas... PQP... Muito bem, eles queriam o bem de todos os animaizinhos que eram maltratados e o fim daquele absurdo. Alegando isto eles INVADIRAM o laboratório e ROUBARAM beagles e coelhos do Instituto. E deixaram os ratos e camundongos. Dá pra entender isso? Animais bonitinhos e fofinhos não podem sofrer, mas outros animais podem? Um peso, duas medidas? Ah vá...
E pra completar, estes “ativistas” simplesmente destruíram equipamentos de laboratório e computadores, simplesmente jogando fora todo o sofrimento que os animais já haviam sofrido, para que aqueles dados de pesquisa fossem obtidos. Mais que os danos financeiros, o dano que estes idiotas, pois não há termo melhor para descrever, causaram para a ciência como um todo foi simplesmente incalculável. Anos de pesquisas literalmente jogados fora, por conta de pessoas que não tem a menor noção real das suas ações.
Lulu: Concordo com todos os seus pontos, Dé. Eu tinha me esquecido de acrescentar à minha lista esse episódio... O pior de tudo foi terem destruído os dados que já tinham sido coletados – raios, que tipo de retribuição é essa? Que diferença isso ia fazer no grande esquema das coisas?
Ísis: Rapaz, isso é algo que eu volta e meia me pego perguntando: ser a favor ou não. É muito difícil se dizer ambientalista, e depois dizer que experimentos em animais são necessários. Andei lendo algumas teorias sobre direitos animais, mas quanto mais eu leio, menos entendo (como tudo nessa vida)... O posicionamento do Dé é perfeitamente lógico, mas como cientista social, eu não consigo me obrigar a concordar em impor uma situação/ordem etc a quem não tem um mínimo de chances de defender-se (e olhe que eu tento, porque, como disse, é um pensamento lógico). Em resumo, atualmente, não sou a favor de forçar tratamentos em criaturas que não tenham um mínimo de voz para se defender. Vão experimentar em prisioneiros ou sei lá.
Dé: Seria a solução ideal, Isis. Acontece que nós, como espécie, temos uma ilusão de que somos melhores do que outros animais. Experimentação humana tem uma série de empecilhos e entraves que inviabiliza o uso legal dessa alternativa.
E se o problema é o animal em questão aceitar ou não ser usado em testes... Quanto tempo demoraria para que, caso experimentação humana seja adotada como padrão (novamente, digo ser a saída ideal), ela seja usada como punição, CONTRA a vontade da pessoa?
Ísis: Sei que existem os tratados internacionais etc, e vejo que é “necessário” para a humanidade etc... Mas não consigo me fazer aceitar, pelo puro fato de que não me vejo no posicionamento da ecologia rasa (ser humano ainda acima de todas as outras espécies).
Mas estou indignada também com o desperdício que eles causaram, os danos aos DADOS e ao preconceito racial/de espécies entre os bichos.
Lulu: Olha, Ísis, eu falo do ponto de vista de quem tem/teve parentes próximos e queridos lutando contra doenças como câncer e Alzheimer: se experiências em animais é o que é necessário para encontrar, se não uma cura, ao menos uma forma de aliviar o sofrimento deles, então eu sou a favor.
Dé: Exatamente mais um dos motivos que me tornam favorável à experimentação animal, quando respeitadas as leis e regulamentações.
Ísis: Vide abaixo.
Lulu: Não significa que eu seja a favor dos maus-tratos. Como o Dé disse, existem normas internacionais para controlar esse tipo de pesquisa.
Se não há outras alternativas e não é para testar em animais, então liberem a eutanásia. Se eu algum dia for diagnosticada com um negócio como Alzheimer e não houver nenhum tipo de cura ou modo de refrear a doença, então eu prefiro morrer de uma vez só que ficar me apagando aos poucos até me tornar um vegetal sem consciência preso em cima de uma cama.
Dani: Sou forçada a concordar. Por mais pena que dê (e convenhamos, mexer com animais em geral nos toca no ponto mais sensível) como poderíamos fazer de outra forma? É infelizmente um mal necessário. Mas mesmo não concordando, devemos ao menos tirar lições do que já se foi feito! Destruir os dados é simplesmente ignorar um conhecimento que, para bem ou para mal, vai trazer algum benefício! Seria o mesmo que ignorarmos as descobertas científicas durante a 2ª Guerra Mundial, só porque foi “horrível demais”. Não faz sentido.
Como não tenho qualquer conhecimento em biologia, vou citar alguns fatos na história do estudo da Psicologia que domino um pouco mais. Durante muitos anos de estudo do comportamento humano, fizeram-se uso de pessoas deficientes ou de crianças órfãs e pessoas sem teto como instrumento para estudo. Muitos dos métodos eram completamente absurdos e até mesmo brutais, como por exemplo, a quem interessar pesquisar, pesquisas de estímulo-resposta onde se realizavam cirurgias na boca de uma criança para a instalação de um mecanismo de entrega de comida, a fim de medir a resposta da produção das glândulas salivares. Ou então a remoção de regiões do cérebro (muitas vezes escolhidas aleatoriamente, apenas para ver “o que aconteceria”), para mapeamento cerebral e análise de comportamento.
Durante muito tempo esses experimentos foram feitos em humanos sem qualquer pudor ou sensibilidade. Foi horrível, grotesco, e é mesmo terrível pensar que um dia seres humanos foram capazes de fazer tais coisas com outros, mas também seria a maior das ignorâncias simplesmente não dar valor aos resultados obtidos!
Pelo amor de Deus! Qual é vantagem de podermos avaliar nossa própria história se não vamos aprender com ela?
Ísis: Então vá experimentar em humanos, até porque as reações serão mais próximas. E respondendo ao Dé, sim, provavelmente vai haver esse ponto em que será feito contra a vontade... Mas é exatamente isso que estamos fazendo com os animais agora. Não vejo a diferença, sério. Não estou dizendo que precisamos proteger os animais porque são bonitinhos e indefesos e blah, blah, blah. Odeio esse discurso. E indefeso é a mãe: vai tentar brincar com um hipopótamo, vai? Estou dizendo que somos hipócritas. Só isso (e, sim, estou me incluindo nisso).
Lulu: Por mim, não me importa muito se os experimentos são feitos em cobaias animais ou humanas, embora claro que eu preferia que fossem feitos em voluntários com consciência dos riscos que correm. Esse é um dos poucos casos em que serei absolutamente maquiavélica: os fins justificam os meios.
E agora, vamos às notícias internacionais.
Eu só ligo no noticiário e leio manchete de jornal para me desesperar com a capacidade humana de atirar no próprio pé – para não usar expressão mais vulgar. Síria, Irã, Palestina, Israel, Estados Unidos, Egito, guerra civil, ataque químico, bomba nuclear, espionagem, revolução, contrarrevolução e um número incalculável de vidas perdidas, entre mortos e sobreviventes.
Eu sinceramente não sei mais o que esperar, ao que sou favorável ou não. Por um lado, não gosto da intervenção, sou a favor da defesa da soberania e acho que as coisas devem ser resolvidas com diálogo e diplomacia.
Ísis: Em princípio, e preferencialmente sempre, sim. Mas quando há vidas inocentes em jogo, o debate vem à tona.
Lulu: Uma palavra para você, Ísis: Ruanda.
Ísis: ¬_¬ É por isso (e outros, tipos os refugiados do “Arab Spring”) que escrevi “preferencialmente”.
Lulu:E é exatamente essa a questão, não é verdade? Quando o diálogo se torna impossível? Quando todos os limites são ultrapassados? Quando não se pode mais aceitar justificativas? Quem vai arcar com a responsabilidade quando a responsabilidade é simplesmente imensurável?
São perguntas com respostas bem difíceis. Ética e bom senso nem sempre são fáceis ou preto e branco...
Dé: Lu, te entendo muito bem. Honestamente, já perdi a esperança na humanidade como um todo já faz muito tempo. Eu sempre me emociono quando vejo atos de bondade, tal como o caso do policial que comprou sapatos para um morador de rua. Estes são casos isolados que me fazem ter um último raio de esperança na humanidade... por uns cinco minutos, até ver a notícia de alguma guerra rolando.
Tem uma música do Disturbed que representa bem isso, de conflitos e tudo: Mine.
Ísis: E cadê o “esperança é a última que morre”? Eu não perdi, não, porque na hora que você perde a esperança, perde também o “direito” (traduza como “vontade”) para lutar por uma melhoria. E lutar por uma melhoria não é só sair pra protestar ou escrever um post na internet, não. É todo dia espalhar ética e esperança. Da mesma forma que esse policial fez uma boa ação e te fez acreditar por cinco minutos, você também pode fazer isso por outra pessoa. Ajude uma senhora que carrega uma sacola pesada, ofereça ajuda a um cego, ajude alguém que caiu a se levantar (EU!!!! Caio o tempo inteiro... “ajuda eu!” XD).
Sim, estamos numa situação horrível, o panorama mundial é triste, e tem mais gente morrendo em um ano de guerras civis intrafronteiriças do que morreu durante a Guerra Mundial (li isso num livro de diplomacia internacional)... Mas também não esqueça que você não viveu outras épocas pra dizer se agora tá melhor ou pior. Durante a Guerra Fria, muita gente viveu sob a pressão de um ataque nuclear a qualquer momento, muitos morreram na 2ª GM, nos conflitos da Iugoslávia etc. A situação nessas áreas de conflito fica mais complicada justamente por causa do conceito de soberania, e do que é aceitável ou não. Ficamos desesperados porque não somos capazes de salvar inocentes. Sempre haverá pessoas que causarão esses conflitos (ou pelo menos, ainda existirão por um longo período), mas sentar e dizer que a humanidade está perdida não muda nada.
E, ei, eu tô no meio da discussão aqui entre China e Japão (que, por si só, já é tenso o suficiente) por causa das ilhas Diaoyu/Senkaku (que tá escalando gradualmente)... Quem tá “seguro” no Brasil (vejamos que o Brasil é um país tradicionalmente amigável e pacífico, em termos de guerras em geral – NÃO estou falando da situação da segurança) vai ter que torcer comigo pela humanidade (e por mim) em 2014 e em diante! ^^
Lulu: Ísis, eu tento ter esperanças. Eu acredito na extraordinária capacidade humana para criar e para se adaptar. É um dos motivos de eu gostar tanto de livros, de música, de História.
Creio que o problema não seja tanto “nossa época é pior do que as outras”, mas sim que somos, de uma forma geral, muito mais cínicos hoje. Sabe a história do Assange e do Snowden, de revelarem segredos e denunciarem condutas que não consideravam éticas? Eu acho a idéia admirável, mas não consigo vê-los como heróis por não saber exatamente que tipo de motivos os levaram a desafiar as ‘regras’ de maneira tão absoluta.
Para além disso há o fato de que nunca conseguimos olhar para a nossa própria época com o distanciamento necessário para fazer uma boa análise. Sempre seremos contaminados pela forma como aqueles fatos nos alcançaram – para o bem ou para o mal.
Dani: Honestamente? Para mim a esperança não é a última que morre, mas o arrependimento. Só estou esperando para ver quando a estupidez humana vai se destruir de uma vez por todas ao lançar uma última bomba H e depois de feito, não poder mais remediar.
Essa “razão”, que valorizamos tanto é na verdade o nosso maior veneno. Criou o poder e a desigualdade. Vem destruindo harmonia, natureza e tudo o que, durante milênios sobreviveu nesse planeta antes que nós aparecêssemos.
Lulu: Não acho que o problema seja a razão, mas sim a arrogância.
Olha, eu sou a favor do capitalismo e da democracia, não porque acredite de fato que eles funcionem, mas porque as alternativas são muito, muito piores. O socialismo pode ser muito bonito no papel, mas só funcionaria numa comunidade de anjos, não de homens. Tampouco estamos preparados para a anarquia – não estou com Rosseau na teoria do Bom Selvagem, mas com Hobbes na idéia de que a ausência do Estado e de leis, desceríamos ao pior do caos e da barbárie.
Sou a favor da meritocracia, mas principalmente, das oportunidades iguais. Afinal, mérito só pode existir se você se destaca entre pessoas que tiveram as mesmas oportunidades que você. Que teve acesso às mesmas benesses. Todos deveriam ter a mesma oportunidade – de ter uma educação de qualidade, de ter acesso à cultura, de ter um sistema de saúde que funcione, de ter um transporte público decente...
O que você faz com isso, aí é com você. Mas antes disso, é preciso haver oportunidades para que possam existir escolhas...
Dani: Não sei, Lu... Ver o mundo como está hoje, e saber que a culpa é nossa, é mesmo desanimador para mim. Às vezes gostaria de ter nascido um cachorro.
E acho melhor pararmos por aqui, porque nunca vi o Coruja tão deprimente como nesse post. ^^”
Ísis: Então... Que venha 2014! ^.^’’’
E que ele seja palco de mudanças para melhor!
Lulu: Falou e disse, Ísis. E toquemos pra frente que ainda muito a ser feito esse ano...
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