12 de novembro de 2013
Para ler: Oscar Wilde e os Assassinatos à Luz de Velas
Quando estive em Paris em agosto, a Claire, do Jane Austen Lost in France, levou-me a um passeio que chamamos de “Em busca do fantasma de Wilde”. Começamos do Cemitério de Père-Lachaise, onde o escritor está enterrado, fomos ao Centro Cultural Irlandês render tributo a São Patrick e terminamos no L’hotel em Saint-Germain-des-Prés, onde ele morreu, em novembro de 1900.Em uma certa tarde na Inglaterra de 1889, o escritor Oscar Wilde encontra um jovem garoto assassinado violentamente. Ao procurar a Scotland Yard e não receber sequer atenção, Wilde junta-se ao elementar Arthur Conan Doyle para solucionar o caso. Em um cenário vitoriano na exótica Londres fin-de-siecle, este suspense de época apresenta como protagonista um jovem e inteligente Wilde, que não se convence enquanto não tiver certeza da verdade.
Na ocasião, ela me falou sobre uma série de livros que apresentava Wilde como um detetive. A idéia, obviamente, muito me interessou e voltei pra casa com os dados necessários para procurar os volumes de que ela falara. E aí, qual não foi minha surpresa quando descobri, ao jogar o nome do autor numa pesquisa de site de livraria, que o primeiro volume da série tinha sido publicado aqui no Brasil?
Estava tão curiosa que, quando o livro chegou cá, não consegui resistir e passei-o à frente de toda a minha lista, ainda por cima que no protetor da capa havia uma chamada dizendo “Oscar Wilde e Conan Doyle resolvem um mistério”. Quer dizer... oi? Tem Doyle também?
Tudo começa quando Oscar encontra o corpo de um jovem. Billy Wood era aluno de Wilde, um modelo para artistas e também, aparentemente, um prostituto. Entre Wilde encontrá-lo e decidir denunciar o assassinato, o corpo desaparece. Pior que isso, para além do fato de que não existe um corpo, a Scotland Yard, representada pelo brilhante detetive Aidan Fraser, não parece se importar muito com o que está ou não acontecendo (não à toa, o título em inglês é “A Death of No Importance”), mais preocupada com as possíveis ligações homossexuais de grandes nomes do reino.
A questão da homossexualidade – motivo pelo qual o poeta foi preso e condenado a trabalhos forçados – fica bastante ambígua na história, que é contada em primeira pessoa pelo amigo pessoal e biógrafo de Wilde, Robert Sherard, muito depois da morte do poeta. Embora seja mais de uma vez questionado sobre seu relacionamento com o garoto, Oscar afirma que meramente ‘amava a beleza e a juventude’ de Billy, tal qual alguém que admira uma pintura e que nunca tivera nenhum envolvimento para além das aulas de teatro que dava a ele.
Doyle aparece um tanto de relance, embora seja um personagem que inspire Wilde a bancar o detetive na inércia da Scotland Yard – e Wilde, por sua vez, é quem inspira Doyle a criar Mycroft Holmes, o irmão mais velho e mais inteligente de Sherlock.
O início do livro, especialmente quando Wilde começa a ‘deduzir’ no estilo sherlockiano me deixaram um pouco cansada – o que funciona muito bem no personagem ficcional de Doyle parece artificial numa personalidade histórica com a força do ‘divino Oscar’. Mas o mistério em si, a investigação feita por Wilde com a ajuda de Robert, e a reconstrução histórica fazem valer à pena a curiosidade de lê-lo.
A Coruja
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