3 de outubro de 2013

Para ler: Good Night, Mr. Holmes


Miss Irene Adler, the beautiful American opera singer who once outwitted Sherlock Holmes, is here given an unexpected talent: she is a superb detective, as Oscar Wilde and Bram Stoker can attest. Even Holmes himself must admit--albeit grudgingly--that she acquits herself competently.

But in matters of the heart she encounters difficulty. The Crown Prince of Bohemia--tall, blonde, and handsome--proves to be a cad. Will dashing barrister Godfrey Norton be able to convince Irene that not all handsome men are cut from the same broadcloth?
Desde que descobri a existência de uma série literária tendo como protagonista ‘A Mulher’ que estou me coçando para ler esse título. Irene Adler aparece em um único conto das dezenas de histórias que Conan Doyle escreveu para o mais famoso detetive da ficção, e é um testemunho ao engenho do autor que com uma aparição tão rápida e passageira, ela seja uma personagem tão interessante.

Talvez o fascínio se deva exatamente a isso. Adler é elusiva, cheia de mistérios não decifrados pelo leitor; ela foi uma prima donna da ópera, deixou um rei de joelhos e casou-se tão repentinamente que quase nos causa tontura e antes mesmo do caso que Watson batizou de Um Escândalo na Boêmia, ela de alguma forma se fizera notar por Holmes, que a tinha em sua enciclopédia particular.

Considerando que Holmes só guarda as informações de que precisa para sua arte, é curioso que o nome de Adler já estivesse em seus registros, o que, obviamente, nos faz questionar ainda mais o que há por trás dela. Mesmo sendo um apreciador de música, eu duvido muito que o nome dela tenha ido parar lá porque o detetive se encantou com sua voz em alguma apresentação.

Good Night, Mr. Holmes tenta responder parte dessas perguntas através dos diários de Penelope Huxleigh, que faz as vezes de Watson para o Holmes de Adler.

A história começa muito antes dos acontecimentos narrados em Um Escândalo na Boêmia, quando Irene ainda estava longe de ser uma diva capaz de virar a cabeça de herdeiros do trono. Penelope, ou Nell, e Irene se conhecem quando a cantora salva a primeira de um furto... e acaba por abrigá-la em seus muito modestos aposentos, adotando-a como amiga quase sem que Nell se dê conta disso.

Essa Irene mais jovem é adorável. Ela tem uma energia e uma convicção que nunca se acabam, uma astúcia e um pragmatismo que a fazem enfrentar todo tipo de situação. Considerando que tanto Irene quanto Nell começam a história numa situação paupérrima, do tipo ‘não sei se vamos ter o que comer hoje’, a forma como elas encaram tais desafios é admirável.

É um pouco forçada, na minha opinião, dar a Adler um background de detetive, ainda que isso explique a forma como seu caminho e o de Holmes se cruzou antes do rei da Boêmia aparecer em Baker Street – especialmente se você jogar na mesma equação o senhor Tiffany (o da joalheria, pois sim), diamantes de Maria Antonieta perdidos na Revolução Francesa e um charmoso advogado chamado Godfrey Norton. A despeito disso, a história funciona bem, muito bem.

De todos os retratos que já vi de Irene Adler, em séries e filmes e outros pastiches eventuais, a de Carole Nelson é, sem dúvida, a mais próxima da personagem que tenho na cabeça desde que me deparei com ela pela primeira vez. Irene não é uma vilã ou uma simples cortesã, não importam os epítetos que Watson use para descrevê-la.

Ela é uma mulher traída, não apenas pelo homem que acreditava amar, como também por si mesma, por se ter deixado levar a uma situação da qual não teria como se recuperar – a perda de uma reputação na era vitoriana seria o equivalente a uma morte moral diante de toda a sociedade. Ela foi ingênua, até mesmo arrogante em acreditar que um rei se casaria com uma cantora de ópera.

Apesar dessa traição, ela se recupera e é capaz de encontrar seu verdadeiro par na figura de Norton – e também o advogado é um personagem muito interessante dentro da narrativa de Carole Nelson. A princípio, Irene e Godfrey batem de frente, com direito a ameaças vociferadas e ranger de dentes. É Nell quem, sem sequer se dar conta, apenas com seu respeito e admiração pelos dois, que os faz enxergar além das desconfianças iniciais.

Good Night, Mr. Holmes não é o melhor pastiche inspirado no detetive que já li, mas cumpre bem sua missão: é divertido, fiel ao espírito dos originais, com um bom desenvolvimento do personagem. É também o primeiro de uma série, de forma que lá vou eu catar mais Irene Adler para minha lista de leituras... Mas creio que vá valer à pena se o resto continuar progredindo como esse primeiro volume.


A Coruja


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