6 de junho de 2013

Projeto Pratchett: I Shall Wear Midnight

"Eu sou uma bruxa. É o que fazemos. Quando é não é da conta de alguém, é da minha conta."
Eu estou me sentindo órfã enquanto escrevo essa resenha, uma vez que esse é o último volume oficial da série Discworld que eu tinha para ler e resenhar. Tudo bem, tem os volumes de The Science of Discworld para ler ainda, mas são colaborações e não estão na ‘cronologia’ da série. Já foi anunciado que o próximo título, Raising Steam (o quadragésimo!) está sendo escrito; mas quem sabe quando ele vai sair?

Bem, acho que teremos de esperar, não é mesmo?

A história começa com Tiffany mostrando que há muito pouco de glamour na vida de bruxa: elas estão sempre presentes, do nascimento à morte; elas cuidam daqueles que precisam de cuidados, seja com remédios e poções, seja cortando os dedos dos pés de uma velha enferma; elas são o julgamento, a compaixão, a voz da consciência.

Elas servem onde quer que sejam necessárias e metem o nariz onde não são chamadas, porque ser uma bruxa é exatamente isso.

I Shall Wear Midnight começa talvez da forma mais real e mais cruel que todos os outros livros de Pratchett. Começa com festa, bebida, com um homem violento bêbado que espanca mulher e filha quando descobre que a garota está grávida. Começa com dor, abandono, morte, ira. Começa com uma cidade enfurecida decidida a pegar armas para vingar algo que já vinha acontecendo há tempo demais – e que até então era ignorada porque “cada homem é rei em seu quintal’.

Começa com uma garota de dezesseis anos que aceita e assume suas responsabilidades, ainda que isso signifique perder aquilo que ama, ainda que isso signifique ser excluída, temida e não apenas respeitada.

Tiffany cresceu desde Os Pequenos Homens Livres e nesse livro, mais do que nunca, fica óbvio porque, desde o princípio, ela conseguiu o respeito da Vovó Cera do Tempo, aquela que é considerada a líder não-oficial das bruxas do Disco. Ela enfrenta preconceito, multidões histéricas e uma nova caça às bruxas e consegue fazê-lo de forma racional – porque Tiffany talvez seja a mais racional das bruxas do Disco – e inteiramente crível para o personagem que Pratchett criou.

Claro que há seus momentos de humor – e como poderia deixar de ser, quando você tem uma tribo de minúsculos homenzinhos pintados de azul que vivem para uma boa briga? Mas o humor, neste volume, é secundário para as realidades que Tiffany encontra, para aquilo que ela se torna.

É um livro emocionante e uma dupla despedida: o último livro da Tiffany na série, segundo Pratchett e meu último livro da série até que se lance um novo.


A Coruja


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