7 de maio de 2013

Desafio Literário 2013: Maio - Livros citados em Filmes

Vida e morte são como amantes na unidade do êxtase - dois em um - como mãos postas, uma contra a outra, são o princípio e o fim.
O tema do Desafio Literário 2013 desse ano foi um pouco complicado pra mim, porque, de cara, eu não conseguia me lembrar de nenhum livro que algum personagem de algum filme aparecesse lendo em cena que eu ainda não tivesse lido.

Depois de muitas idas e voltas tentando encontrar alguma coisa, finalmente me lembrei da Ursula Le Guin, porque ela é citada incessantemente pelo Grigg do adorável The Jane Austen Book Club. Assim, fui atrás de conseguir A Mão Esquerda da Escuridão, que além de aparecer no filme, é considerada a obra-prima da autora e está em todas as listas de fantasia/sci-fi que você tem de ler antes de morrer.

Não, não compilo essas listas, mas estou volta e meia vasculhando-as atrás de mais sarna para me coçar.

Começo dizendo logo que se não fosse pelo DL, eu talvez não tivesse conseguido chegar ao final do livro. Não porque ele seja ruim – muito pelo contrário – mas porque não faz meu estilo. Não sou uma fã tão grande de ficção científica e, dentro do gênero, costumo preferir histórias futuristas com robôs e viagens no tempo ou realidades históricas alternativas e steampunk.

A Mão Esquerda da Escuridão me causou um choque e uma estranheza com que não estou acostumada. E não estou me referindo à linguagem, que além de uma erudição ímpar, e um tom seco e científico, beneficia-se de uma série de termos lingüísticos inventados especialmente para o mundo em que a história se passa.

O livro acompanha a missão de um diplomata intergaláctico no planeta Inverno, onde a raça humana evoluiu para uma espécie andrógina e hermafrodita que pode, em certos períodos denominados kémmer escolher caráter feminino ou masculino e se reproduzir.

O diplomata e protagonista da história é Genly Ai. Vindo de uma aliança de planetas conhecida como “Conselho Ecumênico”, Ai não evoluiu como os habitantes de Inverno e estranha essa ambivalência sexual dos habitantes do planeta gelado – e é também estranhado pelos habitantes, que vêm sua ‘raça’ como de pervertidos que estão sempre em kémmer.

Há outros motivos para que Ai não seja particularmente bem recebido em Inverno, mas essa dualidade é epicentro de todos os desencontros – o que Le Guin quer de fato com o livro é dizer que a diferença de gêneros não importa realmente, porque ao final das contas somos todos humanos.

Há uma série de desencontros, fortes intrigas políticas – quando Ai chega a Inverno, existe uma tensão que pode descambar para a guerra e o próprio primeiro-ministro de Gethen (reino em que, a princípio, Ai tenta levar a termo sua missão), é acusado de traição e exilado sob pena de morte.

Estraven, o primeiro-ministro, mais para frente se tornará companheiro de Ai numa grande fuga e acabará por forçar o diplomata a confrontar suas crenças e reconhecer que parte do insucesso de sua missão foi derivado de sua incapacidade de confiar naquele povo que, de início, para ele, era tão estranho – de ser incapaz de enxergar para além de seus preconceitos.

Não é um livro fácil, nem confortável – parte da minha estranheza com o livro é decorrente do mesmo tipo de dificuldade que Ai tem em aceitar aquela comunidade e se reconhecer ali dentro. Não é simplesmente uma questão de preconceito, mas de desafiar concepções com que você está mais que acostumado, que fazem parte de toda a sua formação. Eu terei de passar por algumas releituras para conseguir absorver tudo o que A Mão Esquerda da Escuridão tem a ofertar.

Uma coisa é certa, porém: se é um desafio lê-lo, é este um desafio que vale à pena cumprir.

Nota: 5
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: A Mão Esquerda da Escuridão
Autor: Ursula Le Guin
Tradutor: Susana Alexandria
Editora: Aleph
Ano: 2008
Número de páginas: 296


A Coruja


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3 comentários:

  1. Nunca li Le Guin, embora conheça a autora, mas eis que você acabou de descrever uma perfeita obra de ficção científica feminista. Mais ainda, eu duvido que um dos povos de They were Eleven da Hagio Moto não tenham sido inspirados nesse livro. Acho que vou tentar ler.

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    Respostas
    1. Não conheço They were eleven, mas sei que o Gedo Senki da Ghibli, é inspirado nos livros do Ciclo de Terramar dela. A Le Guin é pouco conhecida aqui no Brasil, mas lá fora, ela é considerada uma das maiores autoras de ficção científica de que se tem notícia.

      A Mão Esquerda da Escuridão é o mais famoso dos livros dela, sendo aclamado tanto por leitores como críticos. É quase um estudo antropológico, surpreendente em seus mínimos detalhes.

      Como falei na resenha, estranhei muita coisa, mas parte do que é o livro é essa estranheza, esse choque cultural pelo qual passamos com o Ai. E o desenvolvimento da relação dele com Estravan é para partir o coração, especialmente em sua resolução.

      Não consigo me decidir sobre o que achar desse livro - definitivamente, ele precisará de releituras para aproveitar todo o seu potencial.

      Acho que vais gostar, dê uma chance mesmo. Vale à pena.

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  2. Não conhecia a autora nem o livro, mas gosto bastante de uma ficção científica, mesmo não tendo lido tanto deles quanto gostaria. Porém, achei esse enredo extremamente interessante e me deixou uma vontade enorme de conhecer esse livro. Tendo a oportunidade, o lerei o mais breve possível. Enfim, gostei bastante.

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