11 de abril de 2013
Para ler: 103 Contos de Fadas
Já havia algum tempo que eu vivia de olho nesse livro, especialmente depois de ler A Menina do Capuz Vermelho e conhecer um pouco da importância de Angela Carter para o estudo dos contos de fadas. Ele passou um longo tempo (exatamente a época em que o descobri) fora de catálogo; creio que tenha saído nova edição pela época da Bienal do Rio em 2011, que foi quando me lembro de tê-lo visto.Embora este trabalho se apresente como um livro de contos de fadas, os leitores encontrarão poucas fadas nas páginas que se seguem; já animais falantes, muitos. Seres que são, em maior ou menor medida, sobrenaturais; mas fadas mesmo são raras, porque a expressão contos de fadas é uma figura de linguagem, usada de forma bastante livre, para descrever o grande volume de narrativas infinitamente variadas que eram e ainda são oralmente transmitidas e difundidas mundo afora - histórias anônimas que podem ser reelaboradas vezes sem fim por quem as conta, o sempre renovado divertimento dos pobres.
Por motivos de ordem maior (leia-se: minha mala estava quase que não fechava para o retorno ao lar...), não o comprei na ocasião... e quase me arrependi amargamente, porque não demorou muito e ele estava aparecendo como esgotado de novo.
Finalmente, depois de idas e vindas, consegui encomendá-lo na Estante Virtual e me tornei uma de suas felizes proprietárias.
Partindo das teorias críticas que li sobre o assunto, minha primeira ressalva é que esse não é exatamente um livro só de contos de fadas, mas sim de muitos contos folclóricos. Os dois termos diferem bastante, a despeito de continuamente nós os confundirmos: ainda que os contos de fadas possam se inspirar no folclore de algumas regiões, eles têm temas mais universais e estruturas narrativas diferentes, especialmente na inserção do humor e no tratamento das relações entre os personagens.
Isso é um parênteses, não uma crítica. E é interessante como a Carter trabalha isso: todos os contos compilados nessa obra têm anotado a região de onde vieram, e também notas explicativas ao final do volume (um pouco problemático, porque você tem que ir e voltar de um lado para o outro para ler; facilitaria uma edição em que as notas viessem seguidas dos contos...), além de serem divididos em diferentes temáticas, todas centradas na condição feminina.
E sim, é um objetivo confesso de Carter reunir histórias que tratam da mulher, de sua posição na sociedade, de suas lutas. Há questões de amor e de família; traições e violência, sangue, sexo, incesto, mulheres sábias e outras não tanto, princesas, lavadeiras, amantes e esposas.
Não é um livro para crianças, por mais que você possa imaginar que contos de fadas são um tipo de literatura infantil (e definitivamente não eram, ao menos até a Disney colocar a mão neles...), nem uma leitura que seja sempre leve e despreocupada. Mas é um volume que vale à pena conhecer, especialmente para quem, além do interesse literário, trabalha com questões de gênero, ou goste de fazer uma leitura comparada dos costumes e histórias de cada país.
A Coruja
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