24 de janeiro de 2013

Projeto Baudelaire: A Sala dos Répteis

Caro Leitor,

Se você esperava encontrar uma história tranquila e alegre, lamento dizer que escolheu o livro errado. A história pode parecer animadora no início, quando os meninos Baudelaire passam o tempo em companhia de alguns répteis interessantes e de um tio alto-astral, mas não se deixem enganar. Se vocês tem uma leve noção da incível má sorte dos irmãos Baudelaire, já sabe que, no caso deles, até mesmo acontecimentos agradáveis acabam sempre em sofrimento e desgraça.

Nas páginas que você tem em mãos, as três crianças sofrem um acidente de carro, vêem-se às voltas com uma serpente mortífera, um cheiro pavoroso, um facão enorme e o reaparecimento de uma pessoa que esperavam nunca mais ver.

Infelizmente, é meu dever pôr no papel esse trágicos episódios. Mas nada impede que você coloque este livro de volta na estante e procure algo mais leve.


Respeitosamente,
Lemony Snicket.
Após toda a confusão de Mau Começo, Violet, Klaus e Sunny são levados pelo Sr. Poe para viver com outro parente, o doutor Montgomery Montgomery, um renomado herpetologista – um especialista em cobras – gentil e bonachão e também um aventureiro; um grande avanço em relação ao seu primeiro guardião, o pavoroso Conde Olaf.

Antes de adentrar um pouco mais na histórias, eu gostaria de falar um pouco sobre o livro físico em si, já que não o fiz na primeira resenha (que estava ficando já muito grande). Gosto imensamente do projeto gráfico de Desventuras em Série, os ex libris ao início de cada um deles, as ilustrações, os detalhes mínimos que fazem da coleção um pequeno tesouro.

Após terminar de (re)ler o livro, fiquei voltando as páginas para olhar as ilustrações, já que estava muito ocupada antes voando por cima do texto, tentando me lembrar e redescobrir o que aconteceria a seguir. E, sabendo o que sei sobre toda a história, vou dizer que as ilustrações não estão ali à toa.

Aliás, nada está à toa no texto de Desventuras em Série. O que existem de pistas escondidas, falsas e verdadeiras – anagramas, citações, objetos aparentemente inocentes que representam ligações curiosas entre personagens passados, presentes e futuros – é para deixar qualquer um louco. E, claro, por cima de tudo, existe aquela misteriosa tatuagem em forma de olho do Conde Olaf; uma tatuagem que parece estar por todos os lugares...

O olho onipresente de tudo vê (Sauron?) está de volta em A Sala dos Répteis, obviamente. Aliás, chega a ser cruel a comparação de tio Monty com Olaf. O herpetologista tem um senso de humor meio duvidoso – como em seus planos ao nomear a Víbora Incrivelmente Mortífera -, permite aos Baudelaire livre trânsito em sua casa (e, conseqüentemente, aos seus conhecimentos) e é inteligente o bastante para perceber o quão extraordinárias são as crianças sob a sua guarda, dando a cada uma delas tarefas e responsabilidades condizentes com suas habilidades. Ele as respeita e mesmo admira.

Mais cruel ainda é que tal comparação não fique em campo meramente teórico, uma vez que Olaf está de volta – sob um ridículo disfarce, como novo assistente do doutor. E, se há algo para se reclamar de tio Monty é apenas que ele se deixa ser enganado por “Stephano” – por pouco tempo, pois ele logo percebe a verdadeira natureza do homem, ainda que não acredite que ele tenha algo a ver com o Conde; mas tempo suficiente para que a tragédia se concretize.

Ficará na lembrança as memórias brilhantes (radiantes) de um dos melhores homens que os Baudelaire encontrarão em seu caminho. Mas esse é apenas o (mau) começo da jornada. Ainda há muitos trágicos episódios pelo caminho...


A Coruja


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