9 de maio de 2011

Para ler: The King of Elfland's Daughter




"The witch approached it and pared its edges with a sword that she drew from her thigh. Then she sat down beside it on the earth and sang to it while it cooled. Not like the runes that enraged the flames was the song she sang to the sword: she whose curses had blasted the fire till it shrivelled big logs of oak crooned now a melody like a wind in summer blowing from wild wood gardens that no man tended, down valleys loved once by children, now lost to them but for dreams, a song of such memories as lurk and hide along the edges of oblivion, now flashing from beautiful years of glimpse of some golden moment, now passing swiftly out of remembrance again, to go back to the shades of oblivion, and leaving on the mind those faintest traces of little shining feet which when dimly perceived by us are called regrets.

She sang of old Summer noons in the time of harebells: she sang on that high dark heath a song that seemed so full of mornings and evenings preserved with all their dews by her magical craft from days that had else been lost, that Alveric wondered of each small wandering wing, that her fire had lured from the dusk, if this were the ghost of some day lost to man, called up by the force of her song from times that were fairer."

Lorde Dunsany – The King of Elfland's Daughter

Quem quer que tenha lido Stardust do Neil Gaiman, se tiver a sorte de ver cair em suas mãos The King of Elfland’s Daughter pensará com seus botões “esse cara se inspirou no Gaiman, é claro”. Obviamente, se você for um leitor menos afoito, vai perceber que Dunsany publicou essa história em 1924, quando Gaiman estava ainda nos calcanhares da avó.

Também ajuda bastante quando sua edição vem prefaciada pelo próprio (salve, salve) Gaiman...

Dunsany foi um escritor prolífico e influenciou um bocado de nomes mais conhecidos do grande público, incluindo não apenas mestres da fantasia de capa e espada como também o mestre do terror, Lovecraft. Por aí você tira a importância da criatura...

A história do livro começa com uma reunião do parlamento do rei de Erl. Os parlamentares, muito inteligentemente, diga-se de passagem, decidem que querem ser governados por um lorde que possa usar magia. O rei revira os olhos ante tal demonstração de sabedoria porque a magia que seu povo deseja só pode vir de Elfland – que equivale à nossa já conhecida e discutida Faërie – e, de uma forma geral, sabemos que os povos dessas terras não pensam em bem e mal como os humanos: eles são amorais, não podem ser convencidos por argumentos lógico, sendo no mais das vezes guiados exclusivamente por seu senso de auto-gratificação.

Mas, bem, o parlamento decidiu, o que o rei pode fazer? Cabe assim ao príncipe Alveric partir para Elfland e raptar não qualquer uma, mas Lirazel, a filha do rei, para então com ela se casar. Tudo isso, claro, com a ajuda de uma poderosa espada mágica e uma breve pausa para pedir por direções ao troll da vizinhança.

Alveric consegue cumprir sua missão: ele rapta Lirazel, escapa da poderosa magia do rei de Elfland e volta para Erl, onde descobre que dez anos se passaram desde sua partida – ainda que ele nada tenha envelhecido e sinta como se tivesse iniciado sua aventura há apenas alguns dias. Ele é então coroado rei, casa-se com Lirazel e tem um filho, Orion – o futuro lorde mago de Erl, um reino que sabe pensar a longo prazo. E isso é só a primeira parte do livro...

E a parte menos complicada, porque ao final das contas, Lirazel, não sendo humana nem mesmo mortal, não se encaixa no mundo de seu marido.



Eis que o bom povo de Erl descobrirá que quando se procura por algo naquelas terras “além dos campos que conhecemos”, no mais das vezes conseguimos mais do que queremos. E então temos caça aos unicórnios, elfos terríveis armando-se para a guerra, florestas que se movem e confundem quem se aventura por elas... Soa familiar?

The King of Elfland’s Daughter é uma história de Fantasia como poucas – e com direito a muitas Sombras esperando apenas um pouco abaixo da superfície do Belo. Ela tem o mesmo tom etéreo e perigoso de Stardust, a que já me referi no começo. Seu humor é ferino, ácido. É como uma tapeçaria antiga que impressiona pelas cores de detalhes.

Meu único porém a ela é a linguagem – de novo. Foi preciso um pouco (muito) de paciência para chegar até o final, apesar de ser um volume até bem fino. Seu estilo é um bíblico-messiânico-misturado-ao-inglês-arcaico-shakespeariano-barroco; o que explica porque Dunsany é mais conhecido e celebrado como contista: sua prosa é ideal em doses pequenas.

Para quem se dispor a enfrentar o desafio, porém, vale à pena: essa é uma grande Fantasia, uma histórias sobre histórias, uma das grandes ‘Fontes’ e que vai além, muito além do ‘felizes para sempre’.



A Coruja


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Um comentário:

  1. Hehehehe concordo plenamente sobre o estilo "messiânico-barroco-etc" do Dunsany. Já li alguns (vários, talvez) contos dele e sabe quando você fica cansado de ler, de tanto parar pra entender a prosa? Pelo menos serviu pra praticar o inglês, e os contos em si são ótimos! O humor ácido dele, por baixo da fantasia toda, é fantástico...

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