5 de julho de 2010

E haja dragões...

Nos últimos dias em que estive de viagem, em vez de aproveitar o São João e cair na farra (o que eu fiz também, mas só um pouquinho, porque não é muito minha praia), coloquei (ou comecei a colocar) minha leitura em dia.

Dos sete livros que levei na mala, terminei cinco (eles não eram muito grandes), três dos quais, curiosamente, tinham uma coisa em comum...

Dragões.

O primeiro, Como Treinar o Seu Dragão vai ganhar uma resenha só para ele, já que entrou na minha lista do Desafio Literário. Dos outros dois, vou tratar assim rapidim hoje.

Primeiro, claro, o terceiro volume da saga Temeraire, da Naomi Novik - Black Powder War.

“Well,” Temeraire said, snorting, “if you do not want to fight, and you do not mean to hurt Laurence, I do not know why you have come; and you can go away again now, because I do not trust you in the least,” he finished defiantly.

“I came,” she said, “to be certain that you understood. You are very young and stupid, and you have been badly educated; I would pity you, if I had any pity left. You have overthrown the whole of my life, torn me from family and friends and home; you have ruined all my lord’s hopes for China, and I must live knowing that all for which he fought and labored war for naught. His spirit will live unquiet, and his grave go untended. No, I will not kill you, or your captain, who binds you to his country.” She shook out her ruff and leaning forward said softly, “I will see you bereft of all that you have, of home and happiness and beautiful things. I will see you nation cast down and your allies drawn away. I will see you as alone and friendless and wretched as am I; and then you may live as long as you like, in some dark and lonely corner of the earth, and I will call myself content.”
Em comparação com os dois primeiros livros da série, achei esse terceiro um pouco mais lento – a mesma lentidão da qual Temeraire tanto reclama na infantaria prussiana. A impressão que tenho é que ele é meio como um necessário “encher lingüiça” para chegar a um ponto – que seria, imagino, o quarto livro.

Por boa parte da história, nós somos mantidos no escuro e, quando uma nova ação ou cenário surge, as perguntas anteriores não são respondidas; pelo contrário, elas só fazem crescer. Afinal, porque o Almirantado ordenou à equipe de Temeraire que fossem atrás dos ovos em Istambul, quando o posto de Malta estava muito mais próximo e eles sequer sabiam quando (ou se) Temeraire e Laurence voltariam da China? O que realmente aconteceu com os diplomatas ingleses na Turquia? Lien estava envolvida? E o sultão sabia? Por que os vinte dragões prometidos pela Inglaterra não chegaram no front da Prússia?

Para mim, Black Powder War serve para introduzir novos personagens e solidificar o papel de Lien, a dragão albino que fora companheira do príncipe Yongxing, como a grande “vilã” – no sentido maquiavélico da coisa e não apenas maniqueísta, ok?

Três cenas são, por assim dizer, ponto-chave nessa construção: o encontro de Lien e Temeraire no palácio do sultão (do qual o trecho mais acima é parte); ela ao lado de Napoleão (senti até arrepios nesta aqui) e quando se lança desesperada e irracionalmente atrás de Temeraire quando ele consegue furar o bloqueio francês já no final do livro.

Quando vocês lerem o livro, vão entender porque escolhi essas três cenas.

Dou destaque também para a entrada de Iskierka na história – que surge como alívio cômico e parece ter um temperamento afim com seu elemento; sendo uma kazilik, espécie dragônica capaz de soltar fogo, ela é beligerante desde o primeiro momento em que deixa seu ovo.

Enfim... pelo número de questões em aberto que o livro deixou, eu espero que o quarto venha com muitas respostas e grandes momentos. O fato de o livro ser mais lento que seus predecessores não alterou a qualidade da história e mais uma vez eu fiquei de queixo caído não apenas com a reconstituição histórica que a Novik faz, como também com a extensão de seu conhecimento de estratégia e inteligência militar e o uso que ela faz disso dentro de um mundo fantástico em que temos dragões servindo como uma força aérea.

"Power is a thing earned," Samaranth said, "not something that may be passed along with the possession of objects like thrones... or rings, for that matter. Power, true power, comes from the belief in true things, and the willingness to stand behind that belief, even if the universe itself conspires to thwart your plans. Chaos may settle; flames may die; worlds may rise and fall. But true things will remain so, and will never fail to guide you to your goals. Isn't that so, Master John?"
Eu estava de olho já faz um tempo na série de James Owens, The Chronicles of the Imaginarium Geographica. A premissa é simplesmente fantástica: três estranhos - John, Jack e Charles, na Londres dos tempos da Primeira Guerra, são envolvidos numa história de assassinato e a guarda de um objeto fantástico: o Imaginarium Geographica, atlas com todas as terras que já existiram em mitos e lendas, fábulas e contos de fadas.

Em comum, os três têm o fato de serem homens de Oxford, escritores, fantasistas. Na verdade (e foi por isso que enlouqueci querendo os livros) eles são ninguém mais ninguém menos que J. R. R. Tolkien (John - preciso dizer o que ele escreveu?), C. S. Lewis (Jack, apelido pelo qual o autor das Crônicas de Nárnia preferia ser chamado - em vez de Clive) e Charles Williams (menos conhecido aqui no Brasil, autor de War in Heaven).

Com a morte do professor Sigurdsson, guardião do atlas, os três são denominados novos guardiães, e têm de viajar para o Arquipelágo dos Sonhos, onde deverão descobrir como derrotar o Rei do Inverno e seu exército de homens sem sombra, numa jornada que envolverá dragões, centauros, faunos, leões mansos, filhos de Adão e filhas de Eva, a caixa de Pandora, Deucalião, a Arca da Aliança, descendentes do rei Arthur e um anel (para todos governar), entre muitas outras figuras míticas e literárias.

Here there be dragons - o primeiro livro da série - não me empolgou tão absolutamente como O dragão de sua majestade; mas tem seus momentos.

Para ser bem sincera, meu problema com ele foi que eu estava na expectativa de bem mais do que tom juvenil da narrativa (e o que mais você estava esperando, Lulu??? James Joyce?). Não sei, achei que o livro seguiria a linha de Susanna Clarke, e, mais recentemente, Naomi Novik... Que seria algo assim... espetacular. De tirar completamente o fôlego.

Como eu disse, o livro tem seus momentos. Eu amei as piadas do Jack. O cara é meio sem noção às vezes, mas eu morro de rir do mesmo jeito. Vamos convir, eu tenho um senso de humor meio bizarro; é apenas lógico que eu aprecie isso em outros personagens.

"You do realize you're arguing about mythological creatures that can't possible exist," said Charles, waving his arms. "There are no such things as fauns and satyrs!"

As if in answer, one of the crew dropped a heavy spare mast bracing on Charles's foot, then picked it up and tipped his hat in mock apology before passing through to the cabin.

Charles howled and sat on the deck, massaging his injured foot.

"I think that nonexistent mythological creature just broke some of your toes," Jack said.

"Oh, shut up," said Charles.
Em todo caso... é divertido ver como o Owens brinca com todas as figuras que mais tarde viriam a se materializar nas obras dos três autores/personagens. Sim, o livro é muito inocente e "happy, happy ending", mas tem potencial para evoluir.

Eu não engoli muito bem algumas coisas - como o fato de John, Jack e Charles aceitarem tão completamente que de uma hora para a outra foram jogados para uma dimensão paralela onde há ilhas representando todos os mundos míticos existentes (Se bem que isso talvez se dê pelo fato de que eles são escritores de ficção fantástica, suficientemente imaginativos, criativos - requisitos necessários para um guardião do Imaginarium Geographica...); mas outras jogadas foram muito espertas (quase caí da cama a aparição do Nautilus e de Nemo).

A série tem previsão de sete livros - já foi lançado até o quarto, no qual já consegui meter as mãos. Vamos ver se o Owens consegue me empolgar mais; seja como for, eu gostei desse início: meio morno, mas ainda assim interessante.

Antes que eu me esqueça, já há previsão para a série virar filme. Vamos ver no que isso vai dar...

A Coruja


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