16 de março de 2010

Neil Gaiman – Parte III: Nos subterrâneos de Londres


Eu ia hoje começar a falar dos deuses americanos... mas aí, quando fui vasculhar a estante atrás dos livros que precisaria para tratar dessa parte, dei-me conta de que tinha trocado as bolas e que antes de partir para os recônditos mitológicos de Shadow e companhia, ainda havia algo a se falar sobre Faërie e sobre pessoas perdendo-se em outros mundos logo ali junto ao seu.

Assim, decidi antecipar Lugar Nenhum... ia também dar umas vistas no primo-irmão do Harry Potter, Timothy Hunter, de Os Livros da Magia, fechando assim, mais ou menos, esse ciclo, mas decidi, em vez disso, remete-los a um excelente artigo da minha amiga e expert em Gaiman, a Ana.

Assim, para entender quem é Timothy Hunter, de onde ele veio e o que ele tem a ver com Diana Wynne Jones e J. K. Rowling, eu recomendo a leitura de Harry Potter e seu irmão mais velho.

Ok, então... comecemos agora nossa exploração dos subterrâneos de Londres – aqueles subterrâneos que não são exatamente linhas de metrô e esgotos... ou, ao menos, não apenas linhas de metrô e esgotos...

Neverwhere - na versão em português, Lugar Nenhum - começou como uma série de TV produzida em 1996 pela BBC, com o total de seis episódios. Eu não assisti a série, mas li alguns comentários e o pessoal costuma dizer que ela é meio... bizarra, em termos de caracterização e efeitos.

Não vou comentar sobre o assunto. Se formos avaliar a maior parte dos filmes de fantasia da década passada, na era pré-Peter Jackson SdA, provavelmente torceremos o nariz para todos. Quer coisa mais bizarra que a maquiagem do Gary Oldman em Dracula? E, ainda assim, o filme continua sendo um clássico, então, deixa pra lá.

Em todo caso... Gaiman transformou a série em livro, lançando-o mais ou menos quando do terceiro episódio da série. Pelo que entendi, há poucas diferenças entre um e outro, além, é claro, do maior desenvolvimento do plot, incorporando algumas idéias que não tinham sido possíveis para a série.

O livro em si, em muitos pontos, faz-me lembrar Stardust: nós temos um herói que, a princípio, não tem absolutamente nada de heróico em si; uma garota estranha que aparece do nada, está machucada e obviamente precisa de ajuda; uma passagem levando a um mundo completamente estranho e desconhecido do personagem principal – ainda que ele tivesse passado a vida inteira bem próximo dele – e até mesmo uma Feira com criaturas estranhas e produtos realmente... raros.

Em termos de estrutura narrativa, contudo, as duas novelas estão bem distantes uma da outra – enquanto Stardust puxa para a estrutura dos velhos contos de fadas, aproximando-se bastante do lírico; Neverwhere tem tons de história policial, significantemente mais ágil e sombria que a primeira.

Nosso protagonista, Richard Mayhew, é, ao início, um cara completamente comum. Ele acorda, vai para o trabalho, concorda com tudo que a noiva diz, observa o mundo passar ao seu redor sem se dar importância a sua figura... Richard é, para todos os meios e propósitos, aquele típico saco de pancadas.

Até a noite em que ele encontra em seu caminho uma garota sangrando. Vendo-se incapaz de simplesmente ignorá-la, ele a leva para casa e trata suas feridas, mesmo sob o risco de enfurecer a noiva, que, naquela precisa noite, o esperava para jantar com o chefe dela.

A garota se chama Door, que é um nome bastante apropriado, uma vez que ela consegue abrir, virtualmente, todas as portas – incluindo aquelas que não existem. Alguém aí assistiu O Labirinto do Fauno? Lembram da cena em que a protagonista desenha com giz uma porta na parede?

Prosseguindo... Door pede que a Richard que ele procure uma pessoa, alguém que pode ajudá-la a escapar dos homens que mataram seu pai e a deixaram naquele estado. Eis então que entra em cena... o Marquês de Carabas.

Se vocês ainda não reconheceram o nome... sugiro uma lida no conto do Gato de Botas.

Muito bem... Richard encontra o Marquês, leva-o até Door e os dois vão embora (está mais para somem de forma inexplicada, mas tudo bem...). Tudo está bem quando termina bem, não e verdade?

Seria verdade não fosse pelo fato de que, após o desaparecimento de Door e Carabas, Richard parece ter se tornado invisível. Ele perde o emprego, a noiva e o apartamento; e quando alguém eventualmente o nota, ninguém o reconhece.

Sem outras alternativas, só resta a Richard ir atrás de Door e descobrir como ter sua vida de volta. E é assim que ele parte para a “Londres de Baixo”, ele, que um dia, foi um cidadão modelo da “Londres de Cima” – na época em que ele não sabia que existiam duas Londres, é claro.

Não me alongarei nas aventuras de Richard na Londres de Baixo. Basta que saibam que ele reencontrará Door, e que eles terão de atravessar as duas Londres tentando resolver o mistério da morte do pai da moça, ao mesmo tempo em que tentam escapar dos assassinos – que agora estão atrás dela.

E todas as respostas repousam em Islington, o anjo protetor da Londres de Baixo.

Nevewrhere não é dos meus livros favoritos de Gaiman; há momentos em que ele se tornou bem cansativo... mas, ainda assim, vale à pena, especialmente pelas surpresas do final.

Ok, então... na próxima parte da série sobre Gaiman, falaremos sobre deuses antigos, deuses novos, o processo de ‘mitificação’ e planos mui engenhosos. Até lá, personas!

(Continua em “De que matéria são feitos os deuses?")


A Coruja


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Um comentário:

  1. Estou louca para ler Lugar Nenhum e agora fiquei com ainda mais vontade... muito legal a maneira como tu escrevestes sobre as relações entre os livros dele.
    estrelinhas coloridas...

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