29 de setembro de 2016

Para ler: Agnes Grey

E por que ele iria se interessar pelas minhas capacidades morais e intelectuais: que importância terá para ele o que eu penso ou sinto? perguntei a mim mesma. E meu coração palpitou em resposta a essa pergunta.
Mal terminara de ler A Inquilina de Wildfell Hall, e eu já estava atrás do outro romance da mais esquecida das irmãs Brontë. Embora Jane Eyre, com sua estrutura folhetinesca e sua apaixonante intensidade ainda seja meu favorito na bibliografia da família, tenho de dizer que Anne me é a mais simpática das três - como autora e como pessoa (ao menos do que conheci da biografia dos Brontë).

Agnes Grey foi o primeiro romance de Anne. Enxuto e direto, é bastante autobiográfico - em certos aspectos, na maneira como explora o papel da mulher na sociedade vitoriana, bem como suas relações de trabalho, alcança caráter documental. E embora a protagonista seja, à primeira vista um perfeito modelo de piedade cristã no estilo Fanny Price, Agnes se revela muito mais complexa, especialmente na forma como se enxerga dentro da sociedade em que vive.

À época da publicação, os dois livros de Anne Brontë foram criticados pela forma como apresentavam a realidade feminina - A Inquilina de Wildfell Hall por seu retrato de infelicidade no casamento - com direito a alcoolismo e adultério - e Agnes Grey pela exposição de uma sociedade que por mais dinheiro e boas maneiras que tenha, não possui senso de moral.

Agnes, que deixa a casa de seus pais para ganhar a própria vida e assim não ser um fardo a mais dentro de casa - embora sua família não concorde com essa avaliação - primeiro se emprega na casa dos Bloomfield, onde tem por pupilos crianças tão estragadas pelos pais que passaram de mimadas a psicopatas. Confesso que a determinada altura dos fatos pensei que a coisa chegaria ao ponto da relação da governanta com as crianças de A Volta do Parafuso, de forma que senti enorme alívio quando Agnes deixou a casa deles.

Seu segundo posto de governanta, com os Murray, dá-se de forma um pouco menos traumática e capaz de provocar pesadelos, ainda que a mais velha das irmãs seja uma coquete manipuladora que não se importa em brincar com os corações daqueles que a cercam. O consolo de Agnes, contudo, é conhecer Weston, pároco da região e um dos poucos outros personagens da história com princípios.

O romance em Agnes Grey não é algo intenso e passional, mas algo infinitamente mais tranquilo, construído aos poucos e fundamentado em respeito e admiração mútuos. É um romance crível e consistente com tudo o que Anne Brontë trabalha em sua obra.

É uma pena que ela só tenha escrito dois romances. Eu ficaria feliz em ler mais das obras dela.

A edição da Martin Claret desse livro veio com um belo projeto gráfico - estou apaixonada pelas ilustrações das capas de toda a coleção das Brontë - bem como dois excelentes ensaios de especialistas da área como prefácio e posfácio. Gosto muito de edições que trazem esse tipo de comentário e convite ao aprofundamento da reflexão.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: Agnes Grey
Autor: Anne Brontë
Tradução: Paulo Cézar Castanheira
Editora: Martin Claret
Ano: 2015

Onde Comprar

Amazon || Cultura || Saraiva


A Coruja


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2 comentários:

  1. Eu li Agnes Grey faz pouco tempo depois de ter lido Jane Eyre e O Morro dos Ventos Uivantes e gostei muito da forma simples que a Agnes escreve, mas ao mesmo tempo com uma reflexão e sabedoria muito bem pautada. Vale a pena a leitura :)

    Abraços,

    Mundo Silencioso | www.mundosilenciosoblog.com.br

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    Respostas
    1. Concordo, Juh. A Anne ficou meio que sendo minha Brontë favorita, especialmente depois de ler a biografia da família... Recomendo muito procurar A Inquilina de Wildfell Hall se gostou de Agnes Grey.

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