7 de abril de 2015
Para ler: Violent Cases
Violent Cases é um dos primeiros roteiros do Gaiman para quadrinhos. É uma história curta, sem acontecimentos extraordinários, mas com vários dos elementos que costumam permear as histórias do autor.Por exemplo, eu lembro das nossas conversas e lembro de como acabou. Não sei se lembro direito como ele era.
É narrado em primeira pessoa, relembrando um acontecimento da infância do protagonista – uma visita a um osteopata que, segundo contavam as pessoas, tinha sido associado do gângster Al Capone.
Vista sob o prisma da memória, a história tem muito de ambíguo – o narrador não é alguém em quem podemos confiar totalmente. Mas onde suas palavras podem ser falhas, embaralhadas pelo tempo entre o que aconteceu e o agora, imperfeitas em suas lembranças, as ilustrações de McKean ajudam a compreender bem mais do que se passa nas entrelinhas, adicionam camadas à história que de outra forma talvez nos passasse despercebidas.
Ao final das contas Violent Cases cuida exatamente da natureza da memória, de como processamos aquilo que nos acontece, como contamos nossas histórias. Como um adulto, o narrador tenta entender sua experiência de infância e explora sua relação com o pai, com os outros adultos que o cercam, com a própria linguagem e as metáforas e trocadilhos que ainda não é capaz de compreender.
Aliás, palmas para a editora Aleph por ter escolhido manter o nome original e explicar numa nota à parte os diferentes significados que tomam certas palavras - e assim permitir que o leitor possa interpretar a história melhor.
Esse não é um livro sobre verdades absolutas e mesmo ao terminarmos, ainda pairam muitas dúvidas sobre o que aconteceu ou deixou de acontecer ou mesmo se tudo aquilo é, de fato, verdade. Essa ambiguidade e esse convite à reflexão que Gaiman nos faz é, ao final das contas, o motivo pelo qual estou sempre voltando a ele.
Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: Violent Cases
Autor: Neil Gaiman
Tradução: Érico de Assis
Ilustrações: Dave McKean
Editora: Aleph
Ano: 2014
Número de páginas: 64
Onde Comprar
Amazon || Cultura || Saraiva
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A Coruja
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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Confesso que sempre achei esse livro confuso... saber se realmente aquilo aconteceu ou não, o que é a verdade afinal... Não é um dos meus favoritos do Gaiman... Acho que vou reler para ver se um nova visão se abre... :P
ResponderExcluirSmacks!
Entendo seu ponto e confesso que numa primeira leitura rápida também fiquei meio a ver navios... Foi só quando reli com mais calma e me dei conta do que, realmente se tratava a história que consegui apreciar o que Gaiman faz aqui. Os fatos não importam tanto, mas sim a natureza fragmentada e enganosa da memória.
ExcluirEstou vendo que tem muita, mas muita coisa do Gaiman que eu não li. Aproveitarei os posts para fazer uma listinha de necessidades ^_^.
ResponderExcluirSou sempre a favor de listas ;) às vezes tenho impressão que uma vida não será o suficiente para ler tudo o que Gaiman escreveu e vive escrevendo. O cara é uma máquina!
ExcluirEsse eu não li! Confesso que confundia ele com o "Mr. Punch", que também é uma parceria com o Dave Mckean, também trata de memórias da infância de um narrador que não podemos confiar totalmente, também trata dessa tentativa de entender o passado com a experiência e os olhos que temos no presente....hmm, ok, vou ler "Violent Cases" pra comparar com "Mr. Punch"!
ResponderExcluirEngraçado que tb tive essa impressão, Enrique. Lembrou-me muito Mr. Punch. A diferença é que Mr. Punch tem um aspecto mais irreal, o traço do desenho, a própria história soa como um pesadelo. Violent Cases tem um pé mais firme na realidade, e é mais fácil de acompanhar que Mr. Punch.
ExcluirEu realmente ando muito atrasada nas minhas leituras de Neil Gaiman... fico com vergonha de companhar você... mas vou me esforçar! :-*
ResponderExcluirNão fique envergonhada, Laura. Tem tanta coisa dele que ainda tenho de ler... O cara é extremamente prolíficuo..
ExcluirEsse livro sempre me pareceu um tanto nebuloso, mas extremamente interessante, pois as memórias de infância são mesmo nebulosas, a forma como a criança elabora e cristaliza suas memórias é muito frágil e nem sempre fiel com os fatos.
ResponderExcluirTambém adorei essa edição da Aleph, ficou muito linda!
estrelinhas coloridas...
Acho que todo mundo fica meio confuso, não é? Mas esse é justamente o objetivo do livro. E a Aleph tem caprichado muito nas edições deles, são sempre um primor.
ExcluirAchei tão confuso quanto Mr. punch, e como li em inglês (sou meio ruim nisso), achei mais confuso ainda, acho q vou procurar a versão traduzida e reler, quem sabe eu não goste mais da história né?
ResponderExcluirEu confesso que precisei reler Mr. Punch mais de uma vez para entender o que estava acontecendo e ainda pesquisar sobre o espetáculo do Mr. Punch, porque a gente não tem o contexto cultural necessário para compreender a peça... Nesse aspecto, Violent Cases é mais fácil, mas ainda mantém o aspecto fragmentado de memória... é preciso ler com um pouco mais de cuidado mesmo pra entender.
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