4 de outubro de 2014

Gazeta de Longbourn Apresenta: Sense & Sensibility

She drank deep, you could see that; she squeezed every drop of living out of all the elements that mattered to her. It made her careless, of course it did, but it was a wonderfully rich and rapt way to be.
Descobri esse livro em alguma das newsletters de editoras que assino – e lembro de ter visto também alguns artigos sobre a idéia por trás da coleção de que ele faz parte. Coloquei-o na lista sempre crescente de volumes a ler futuramente e não pensei muito mais nele até a Terry vir para o Brasil, e trazê-lo na mala para mim.

Eu gostei da forma como Joanna Trollope adaptou a idéia de Razão e Sensibilidade para os tempos modernos, a forma como ela encaixou especialmente a questão de comunicação – celulares, redes sociais, escândalos filmados e postados no youtube... E, considerando que a situação feminina de hoje é diferente daquela à época, os problemas financeiros das mulheres Dashwood tinham de ocorrer de alguma forma diferente, o que ela também conseguiu fazer.

Infelizmente as (necessárias) mudanças acabam por transformar as mulheres da família. Onde antes eu admirava a calma dignidade de Mrs. Dashwood, não posso deixar agora de ver uma mulher infantilizada; a sede de conhecimento e o desejo de explorar o mundo de Margaret a fizeram uma adolescente revoltada do tipo que dá de ombros para tudo, não sobrevive sem celular e vive com fones enfiados no ouvido e Marianne, que a despeito de tudo, respeitava a sensibilidade das pessoas de sua própria família agora é um poço de egoísmo sem qualquer qualidade que a redima.

Só Elinor, prática, cheia de bom senso, preocupada com as contas, os gastos, tentando manter a família unida e abrindo mão de tudo aquilo que a fazia feliz por pessoas que não conseguem enxergar o sacrifício que ela fez por elas, é que continua a mesma de sempre – ou talvez, diante de tudo o que acontece, ainda melhor.

Margaret e Marianne evoluem ao longo do livro, mas Mrs. Dashwood parece, sinceramente, incapaz de crescer. Ela foi a personagem de que menos gostei na história – e a se considerar que você tem uma Fanny Dashwood e uma Lucy Steele para odiar, isso é algo perturbador.

Em compensação, eu ri de me acabar com a forma que ela achou para lidar com Robert Ferrars e seu bizarro casamento com Lucy Steele.

Willoughby continua um canalha, com um passado bem mais pesado. Na história original, mesmo sabendo o que ele apronta, ele consegue nos passar seu charme e muita gente torce por ele – na versão de Trollope, não há um único momento em que você olhe para ele e realmente o ache agradável. Brandon é... Brandon é o salvador da pátria, em mais aspectos do que se poderia imaginar – incluindo o fato de que é ele que consegue o emprego na empresa de arquitetura para Elinor, a despeito de ela ter sido obrigada a largar a faculdade com a mudança da família, emprego que permitirá pagar as contas da família. Edward... eu confesso que gostei mais do Edward dessa versão do que o original, que para mim era meio indiferente.

A despeito disso, o livro funciona bem como uma adaptação da história de Austen para os tempos modernos. Os próximos volumes do The Austen Project são uma releitura de A Abadia de Northanger, cujo autor responsável é um bestseller de romances policiais e Orgulho e Preconceito, ambos com publicação para 2014. Vamos ver o que vem por aí...


A Coruja


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