9 de setembro de 2014

Desafio Corujesco: Um Elefante em meu Jardim

Seja o que for aquilo que você deseja ou pode fazer, comece. A coragem contém em si mesma o poder, o gênio e a magia.
O mais interessante desse livro para mim, é o fato de que ele é baseado num acontecimento real: uma cuidadora do zoológico de Belfast costumava levar um dos elefantes para casa todas as noites no período da Segunda Guerra Mundial, quando os ataques aéreos estavam em seu auge.O diretor da instituição dissera que eles teriam de sacrificar os animais no caso da cidade ser bombardeada – para que eles não terminassem soltos na cidade e contribuíssem com o caos. A mulher, que cuidava do tal elefante desde o nascimento, não concordava com a idéia, e assim levava-o com ela para casa e o confortava em meio ao barulho das explosões.

Morpurgo usou essa idéia geral transferindo a ação para Dresden – cenário de um dos piores e mais covardes bombardeios do conflito, pelo qual os Aliados não responderam como crime de guerra porque, ao final das contas, foram eles que venceram... Eu já conhecia um pouco dessa história por causa de Matadouro 5, de Kurt Vonnegut, e ali se acentuava a completa falta de lógica, a indefensabilidade do que aconteceu. Aqui a coisa é um pouco mais leve, mas nem por isso menos trágica.

A história é contada por Lizzie, ou Lisbeth, sobrevivente de Dresden na juventude, agora idosa e sozinha numa casa de repouso, para o filho de uma das enfermeiras que cuidam dela – um garoto que tem o mesmo nome de seu irmão caçula, Karl, com quem tudo mais ou menos começou.

A mãe de Lizzie, como a mulher da história real, trabalhava num zoológico, cuidando dos elefantes e, em especial, da jovem Marlene, que ela ajudou a dar a luz. Com a ameaça dos bombardeios aéreos e do sacrifício dos animais, ela passa a levar Marlene todas as noites para casa.

Uma bela noite, Marlene se enfurece com um cão que quase todos os dias passa pelo parque para atormentá-la e sai correndo atrás dele – com toda a família de Lizzie atrás. É no meio dessa perseguição que soam as sirenes e está para começar a destruição completa de Dresden.

De certa forma, é uma sorte que Marlene tenha decidido justamente nesse dia se rebelar, porque é provável que os personagens – Mutti, Lizzie e o pequeno Karl – acabassem morrendo presos ou queimados nos abrigos antiaéreos...

A família consegue fugir – junto com Marlene, encontrando pelo caminho um jovem navegador canadense que participou do bombardeio e que teve seu avião alvejado pela artilharia antiaérea. Peter é apenas um soldado – como é também apenas um soldado preso à cadeia de comando o pai de Lizzie e Karl, que está no front russo – e tem muito mais em comum com a família de alemães refugiados do que se aparenta a princípio.

Por vários motivos, Peter acaba se juntando à família de Lizzie e, com a ajuda da fiel elefante, eles abrirão caminho até as forças americanas e britânicas, fugindo do Exército Vermelho que avança por trás deles – afinal, na visão deles, é preferível entregar-se aos ocidentais que aos russos.

A história é simples, um tanto ingênua, mas ainda assim crível. A prosa é quase poética, uma narrativa breve e encantadora, com um forte tom de esperança. É um livro infanto-juvenil e creio que seria um bom livro para colocar como paradidático nas escolas e seguir com um debate sobre guerra e responsabilidades - um assunto que, infelizmente, nunca deixa de ser atual.


A Coruja


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