31 de março de 2014

Quem Conta um Conto (Março) || Comentários

Dé: Mais uma rodada de contos se foi, e é a minha vez de começar os comentários! =D

Pra começar: Dani, adorei o desenho e o tema! Tá de parabéns. A combinação de detalhes dá um clima bem desolador, ao menos eu achei. Foi exatamente isso que tentei passar no conto.

Lulu: Eu tive essa mesma impressão.

Dani: Obrigada... *vergonha*

Dé: Vergonha de que, menina? Devia estar orgulhosa! =D
Ísis: Tive a impressão oposta, ou melhor, diferente. Sim, é possível ver como solidão o desenho, mas a interpretação que mais me ficou foi a de fazer amigos. Tipo a Branca de Neve da Disney (ARGH! Eu odeio esse filme!!!! >.<) ou a Gisele de Enchanted: amigos com animais (silvestres ou urbanos, no caso da Gisele). Aliás, foi uma das coisas que me complicou para escrever com esse tema... (Mas seria complicado de qualquer forma só por ser terror mesmo...)

Dé: O mundo fofo e rosa da Isis... =D

Dani: Ela vive no Reino de Ooo aparentemente... XD

Dé: Explicando o conto. Não imagino nada de sobrenatural nele, pelo menos não totalmente. Admito que não pesquisei, como a Lu costuma fazer (Dani: Porque ela é louca. Ísis: Yup. Aviso, estou em hypermode...), para escrever esse conto, portanto, vários pontos podem estar medicamente errados. Vamos ligar a suspensão de descrença um pouco, sim?

Lulu: Dé, ninguém deveria seguir meu exemplo, porque eu sou uma pessoa masoquista que me deleito em fazer minha própria vida bem mais difícil do que já é...

Dani: Não falei?

Ísis: Yup.

Dé: Bom, o garoto começa o conto em coma. Ele sofreu um acidente grave, e permaneceu meses em coma. Esse foi o período que ele passou no local escuro e silencioso. Aí começa o pesadelo de toda a família. Eu imaginei que o garoto tenha sofrido danos neurológicos, o que causaram alucinações em todos os sentidos, iniciando com a Voz misteriosa. Um detalhe interessante é que este trecho, em específico, foi retirado do histórico de um personagem de RPG, um warlock caçador de extraplanares malignos.

Dani: Adooooooooro!!!!!!!!!

Ísis: O que é mesmo um “warlock”? Eu imaginei que a voz era a “vocalização” do medo de morrer dele...

Lulu: Ísis, os warlocks que conheço são os dos mundos de Crestomanci, da Diana Wynne Jones e lá eles são um tipo de mago que trabalha com força bruta – peritos em maldições e invocar demônios. Na maior parte das vezes, eles eram descritos como vilões. Não sei como funciona exatamente no RPG.

Dani: Mamãe Enciclopédia. ^u^

Dé: No caso, é em D&D, que são usuários de poderes arcanos advindo de uma descendência dos planos inferiores: demônios e diabos.

Continuando: coberto de cuidados médicos, o garoto eventualmente desperta, mas as alucinações só vão piorando. Tudo que ele vê está apenas na cabeça dele. E é aí que eu tentei colocar o terror. Imaginem a situação: seu filho sofre um acidente, entra em coma por meses, e quando finalmente desperta, sofre de pesadelos enquanto acordado (e quando dorme também, mas não entrei em tantos detalhes), definhando lentamente a cada dia que passa, morrendo aos poucos, e nada que você faz é capaz de mudar isso.

Sim, o verdadeiro terror está quando se olha do ponto de vista dos pais, apesar do ponto de vista do garoto ser assustador o bastante.

Dani: O dele pra mim é bem pior.

Ísis: O mais triste de tudo é que afetou também outros sensos, tipo o paladar. Mesmo a comida não sendo na verdade nada do que ele via, o gosto para ele era tão horrível quanto.

Lulu: Essa parte foi das que mais me arrepiou. Morrer de fome ou se obrigar a comer coisas que ele enxerga e sente como repulsivas?

Dani: Interessante como todos esses sintomas podem facilmente se encaixar numa esquizofrenia. Ela pode afetar todos os sentidos do corpo, até mesmo paladar ou sensações internas, como sentir que um órgão vai explodir ou o sangue secar, coisas assim... Parece bem assustador...

Dé: Eu até pensei em mudar o conto um pouco, sabem? Não acho que ele seja uma leitura fácil para a maioria dos leitores, especialmente depois de eu acrescentar meus comentários sobre ele, mas no final decidi manter a ideia que tive no primeiro dia. Se muito, retirei alguns pontos que pretendia colocar, como a passagem no circo do inferno, que tinha planejado inicialmente. No geral, fiquei relativamente satisfeito em como o conto saiu.

Lulu: Eu aprendi em hermenêutica jurídica que todo texto tem três interpretações possíveis: a do autor, a do leitor e a do próprio texto. E o conto do Dé, pelo visto, é um desses suficientemente ambíguos para permitir todas essas interpretações diferentes. Adorei!

Confesso que a minha própria interpretação da história diferiu da sua, Dé. Eu imaginei a Voz como um ser real, um puppet master das sombras manipulando a realidade até que o garoto preferisse a morte.

Dani: Também tive essa impressão, sabem...

Dé: A ideia do personagem original, que citei lá em cima, era que fosse justamente isso. Como preferi deixar ambíguo no conto, preferi deixar que cada um decida, se é ou não realmente alguma coisa sobrenatural.

Lulu: Considerando que o tema era terror, posso dizer com franqueza que me remexi na cadeira com as descrições de várias das alucinações, inclusive pela forma como os pais do garoto estavam claramente em pânico. Condoí-me deles.

Ísis: Yup.

Dani: Hehehe... era isso que eu queria...

Dé: Que bom que achou isso, Lu. É muito bom saber que se conseguiu passar o que se pretendia. =D

Lulu: Ficou uma história curtinha, mas muito bem pensada, permeada pelo sentimento de impotência do próprio garoto e da família.

Dani: Concordo, concordo!!!

Ísis: Eu adorei justamente porque é perfeitamente possível, e isso, sim, é um terror. Ao mesmo tempo, você ter inserido as duas coisas, a realidade (tipo, o frango assado, purê de batatas, salada etc) e também o que o garoto via (estragado, algo mexendo etc) deixou a situação bem clara, mas perdeu o terror sobrenatural. But my heart went out to the poor family”, especialmente na última cena em que aparecem.

Eu amei o conto pelo “terror possível”, mas odiei porque morri de pena da família.... T.T (moral da história, great job)

Dani: *clap, clap, clap*

Ísis: A propósito, minhocas Mopani é um são bastante comidas no Zimbabwe, principalmente quando a seca é grande e o gado morre ou coisa assim. Foi nisso que pensei quando li a parte da comida. Tem gosto de camarão com algo a mais, o que não é nada surpreendente, já que são da mesma classe (artrópodes).

Dé: Na verdade, não funciona bem assim... Arthropoda é um Filo, que um grupo MUITO GRANDE, mas MUITO GRANDE MESMO! Seria como dizer que um peixe, um frango e uma vaca tem gosto parecido por que todos são vertebrados (na verdade, cordatos).

Sim, eu sou um biólogo (e cozinheiro!) chato! XD

Ísis: E eu confundi chordata com “qualquer coisa que tenha esqueleto” (que foi como o meu cofcoflindocofcof cérebro raciocinou “vertebrado”)... Foi malz. Sabia que tinha algo errado... Obrigada, Dé.

(Mas como é que eu explico o gosto similar, então?)

Dani: Come uma oras!! XDD

Ísis: I did., ou como acha que tentei descrever o gosto? oO

Lulu: Bem, minha vez de explicar minha história e escrever quase tantas explicações quanto cenas do conto...

Dani: Que surpresa...

Lulu: Para começar, sendo bastante sincera, eu achei graça na forma como o Dé a Dani fizeram graça com o fato de que o tema dessa rodada era terror. Sim, eu sou medrosa, mas vocês se esqueceram de três coisas: (1) eu adoro contos de fadas e em suas versões originais muitos dos contos de fadas são verdadeiras histórias de terror; (2) eu sou uma grande fã de Edgar Allan Poe e Lovecraft e (3) Neil Gaiman é um dos meus autores favoritos de todos os tempos e muitas das histórias dele têm um pé no horror.

Dé: E você esqueceu que eu gosto de zoar. =D

Lulu: Não, não esqueci...

Sou um bocado impressionável e por isso costumo evitar histórias explícitas, com eviscerações e diversos fluidos corporais – eu não consigo ouvir sem ter calafrios quando na vida real pessoas descrevem certas dores/machucados/procedimentos médicos; na ficção eu tenho ainda menos interesse em mutilações, estupros rituais e quitutes de carne humana.

Dani: Ainda te farei assistir uma maratona de Jogos Mortais comigo!

Lulu: Mas não tenho nada contra histórias que brincam com sugestões e expectativas, criando catarse (Ísis: HEIN?! Lulu: Na definição de Aristóteles, que é a que uso nesse contexto, é “purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama”) a partir de nossas próprias ansiedades.

Dani: Sofro catarses múltiplas quando assisto os filmes do Oscar então. Só dá drama naquela joça...

Lulu: É por isso que gosto do Poe e do Lovecraft, cujos horrores são indescritíveis e por não serem descritos, causam o terror. Por isso gosto do Gaiman, porque o combustível de seus pesadelos são os próprios pesadelos. Por isso também gostei bastante do conto do Dé nessa rodada.

Dani: O Stephen King também tem algumas histórias assim. Você deveria procurar.

Dé: Sim, deveria. =D

Lulu: Enfim... quando bati o olho na ilustração, a primeira coisa que me veio à cabeça foi Os Sete Irmãos Corvos dos Grimm, que em outras variantes podem ser doze gansos ou cisnes ou... bem, depende de quem está contando a história, na verdade. Mas, em essência, todas elas são a mesma coisa: uma família tem vários filhos homens, a mulher engravida e deseja tanto uma menina que diz que matará ou enfeitiçará os filhos homens se nascer uma garota. Nasce a menina, os irmãos viram corvos e anos depois, a garota encontrará os irmãos e através de algum tipo de sacrifício, os libertará do feitiço.

Encontrei aqui um pequeno resumo das várias versões, dá para entender melhor aí a história.

Dé: Admito que não conhecia essa história. Bem interessante.

Dani: Também não... Mas olha que gostei hein.

Ísis: Yup. Nem eu.

Lulu: É um dos meus contos de fadas favoritos, eu confesso.

Dani: Hummm... contos... Isso me dá uma ideia para meu próximo desafio...

Lulu: Em todo caso... no dia seguinte à publicação da imagem, eu já tinha toda a cena do sonho escrita... só que depois disso travei e fiquei indo e voltando sem saber o que fazer a seguir, exceto pelo fato de que, de uma forma ou de outra, ao final, meu protagonista se perderia dentro de seu sonho.

Aí no início de janeiro teve três dias de chuva seguidos e por algum motivo isso me fez pensar em gotas de sangue caindo na neve e eu olhei para um mapa e disse ‘Rússia’.

Dé: Seems legit.

Lulu: Ok, nem sempre meus processos de escrita fazem sentido. (Dani: Sempre?) Talvez eu tenha pensado na Rússia por uma questão de estar lembrada em meu subconsciente das Olimpíadas de Inverno. Ou porque tinha lido recentemente quatro livros em seqüência que falavam de segunda guerra mundial. A crise na Ucrânia nem tinha começado nem nada, então...

O fato é que depois de me aparecer o nome Rússia em luzes de néon na cabeça, sentei-me para pesquisar nomes. E quase surtei tentando fechar o nome do meu protagonista.

Na minha primeira versão, antes de decidir que a história se passaria na Rússia, ele se chamava Benjamin – porque Benjamin é o nome do irmão mais novo em uma das muitas versões do conto dos sete corvos. Quando tive o lampejo de “russos, eu preciso de russos”, ele se transformou em Venyamin, que é Benjamin em russo... só que eu não gostava da sonoridade do nome, então fui pesquisar trocentos dicionários de significados de nomes atrás de um nome russo que tivesse algum significado que coubesse no contexto da história.

Ísis: Yup, she can’t... >.>

Lulu: Quando eu já tinha praticamente desistido de encontrar um nome que tivesse um significado que dissesse alguma coisa para o que eu estava escrevendo, decidi ampliar minha pesquisa para nomes em línguas eslavas – o russo é apenas um dos idiomas dessa família de línguas. Aí eu encontrei o húngaro Bertók, que deriva de Bartolomeu, que significa ‘filho de Talmai’. Talmai é um gigante em uma história bíblica, mas isso não vem ao caso porque o verdadeiro motivo de ter escolhido Bertók é que existe uma variante germânica sem acento – Bertok – que significa ‘corvo brilhante’.

Há!

Ísis: Really? Meu pai eterno, dai-nos força! XD

Dé: Essa questão da escolha de nomes é engraçada, por que, desde o começo, eu estava decidido a não ter nomes, no meu conto: apenas “o garoto”, “pai”, “mãe” e “avó”, seguindo a linha dos pais do Calvin, de Calvin e Haroldo.

Ísis: Yup, Faz de nós dois.

Dani: E engraçado que vocês vêm se tornando mais amantes de nomes russos a cada conto. Começando com o do tema suspense.

Lulu: Venyamin acabou se tornando o nome do irmão mais novo da mãe de Bertók – o sexto. E aí a maldição pula uma linha para alcançar afinal o sétimo ‘irmão’, que é o próprio Bertók.

Dé: Pergunta relativamente nada a ver: o avô de Bertók também era um sétimo filho?

Lulu: Não, não tem lobisomens aqui...

Dani: Aaaah... :(

Ísis: Voei...

Lulu: Folclore, Ísis. Diz-se que o sétimo filho de um sétimo filho se transforma em lobisomem nas noites de lua cheia.

Continuando... claro que essa não foi a minha única dor de cabeça para contextualizar a história... Quase que a cada parágrafo que eu escrevia, tinha de parar e pesquisar alguma coisa... – cidades no norte da Rússia, vegetação próxima a Sibéria (onde ficaria o casarão e o chalé da história Dé: Infelizmente, simplesmente me perguntar não era uma opção... Ísis: Eu sei que tu és biólogo, mas você precisa saber as espécies de cada área para se formar?! *medo, não quero mais ser bióloga!), palavras e expressões: de cara me lembrei que samovar é o nome do tipo de bule que os russos usam para o chá, mas a despeito de não ser russo, passei meia hora tentando lembrar o nome dado ao objeto que ajuda a fazer fogo – a pederneira. E isso nem era particularmente importante para a história, mas eu empaquei nele feito uma mula teimosa.

Dé: Bastava olhar em um livro de RPG! xD Em D&D é o principal método mundano de se fazer fogo. =P

Assistir À Prova de Tudo também servia, Bear Grylls só usa pederneiras, para acender fogo.

Lulu: Sim, mas o problema não é que eu não conhecia o processo... é que eu não lembrava o nome de jeito nenhum... Deu branco. E não me toquei de que poderia ir pesquisar num livro de RPG. Assim é que fiquei dando voltas e voltas na minha memória até aparecer o lampejo (há!) de luz.

Foi pelo meio de toda essa confusão que encontrei por acaso a Canção de Ninar Cossaca – com que abri o conto (por sinal, vocês perceberam que clicando na tradução da letra vocês encontram o link para ouvir a música, não?) – que afinal consegui realmente adentrar o tom que eu queria na história. Enquanto escrevia, ouvi essa canção em várias versões até dizer chega. A tradução que coloquei foi uma adaptação que eu mesma fiz dessas versões de que falei. Peguei uma estrofe de uma versão, uma estrofe de outra, tomei liberdades literárias com palavras que não tinham correspondente fora do russo e de uma forma geral quase arranquei os cabelos no processo.

Em tempo, não traduzi do russo (por motivos óbvios), exceto pela parte em que larguei a versão russa em alfabeto cirílico no tradutor do Google e esperei pelo melhor. Para conseguir fazer a minha própria versão, usei além dessa tradução mambembe (Ísis: Acho que já fui ao dicionário dez vezes, com essa... E depois você reclama que te fiz meu dicionário... >.>), duas versões que encontrei em inglês, mais uma em francês e outra em espanhol.

Há de novo!

Dani: Doida...

Dé: Em tempo, eu esperava que tu fosses atrás de um professor ou tradutor de russo...

Lulu: Não conheço ninguém que fala russo... exceto talvez pela Ísis... Mas consegui me virar razoavelmente, não?

Dani: Quantas línguas a Ísis fala afinal? Ela engoliu um interprete da ONU ou coisa assim?

Ísis: KKKKKKKKKKKKKKKK! Isso é uma opção? XD

Lulu: Canibalismo intelectual?

Dani: Ideia interessante. Cuidado, hein Lu... ¬____¬

Dé: Confirmadas, sei de três: Português, inglês e japonês. Mas sei que ela começou a aprender mandarim também.

Ísis: Deixando de lado as que comecei a pincelar, são essas aí mesmo. Russo não é minha prioridade porque é difícil PRA CARAMBA!!! Mas é uma arma e tanto, porque muitos países ainda falam russo... Mas dei prioridade pro chinês e pro árabe, porque estão em ascensão.

Lulu: Depois de todo esse processo de pesquisa é de se pensar que a coisa andou, não é? Mas, para ser sincera, esse conto destoou um pouco da minha rotina de escrita. Eu não costumo revisar loucamente meus contos – normalmente quando acabo, acabo e acabou-se.

Dessa vez, houve três versões da história em que trabalhei e cada camada foi escrita em separado, algumas meses depois da outra.

A parte em itálico, que é o sonho, eu escrevi, como já disse, no dia seguinte à publicação da imagem. Da forma como eu a tinha montado ela se bastava em si mesma, mas eu não estava satisfeita com ela.

Em janeiro eu decidi colocar a história na Rússia e comecei a desenvolver a parte narrativa – em texto normal. Tirei todas as explicações que eu colocara na versão em itálico, revisei o texto inteiro e de uma página e meia o conto saltou para seis páginas.

Só que eu ainda não estava bem satisfeita com a história, achava que ela precisava de mais polimento, de cortar mais explicações e de jogar mais fumaça e espelho para confundir todo mundo. A princípio eu me sentei apenas para revisar o que já tinha escrito, mas aí joguei a terceira camada de história na história – a parte em negrito, que são os corvos conversando entre si.

Quando acabei, voltei ao começo e revisei tudo de novo.

Para quem não entendeu lhufas e patavinas, aí vai a minha própria interpretação da história: de alguma forma (provavelmente por causa do poço que Bertók descreve, mas nunca chega de fato a ver, como na versão dos Grimm), a família do protagonista foi amaldiçoada e a maldição só pode se quebrar uma vez que a “história” tenha chegado ao seu fim (é um conceito que já usei em Forget-me-not). .

A história requer sete irmãos e uma irmã para poder funcionar. Mas como a mãe do protagonista teve seis irmãos – ela foi a sétima – o encanto pulou uma geração para poder arrastar Bertók e assim fazê-lo o sétimo irmão da história, alterando assim a memória da mãe, que esquece que teve um filho e acha que teve sete irmãos.

Dé: Foi justamente aí que eu me confundi. Como falei contigo, não entendi bem essa parte, por que afinal, Bertók era filho, não irmão! Mas se levarmos uma interpretação de que a maldição “requer” sete homens de uma mesma linhagem, interpretados como irmãos, faz sentido.

Depois de uma explicação da autora, ficou mais fácil de compreender. =P

Dani: Verdade (embora ainda esteja um pouco confusa).

Ísis: Eu não vou comentar porque a Lu já me contou o conto dos Sete Irmãos Corvos, então fez sentido pra mim. Ler sem esse ponto de vista ainda dá para entender, mas fica bem mais complicado. ^^

Lulu: Depois dos comentários de vocês, e uma pequena pesquisa entre conhecidos, eu percebi que cometi um pequeno erro de cálculo... eu não queria colocar explicações demais na história e por conta disso parti do princípio de que meu leitor ideal conheceria o conto de fadas em que me inspirei. Só que aparentemente eu sou a única pessoa no meu círculo de conhecidos que já ouviu a história e suas variações...

Isso ficou claro depois que eu contei para a Ísis a história dos Irmãos Corvos como eu conheço e ela não teve dificuldade em entender minha idéia...

Bem, ao final, cada um tem sua interpretação, talvez algum leitor tenha achado que os motivos do Bertók ter virado um corvo sejam diferentes... quem sabe?

Como a Ísis escreveu o conto dela e depois foi dar meia volta ao mundo, ficou dela acrescentar os comentários sobre seu processo de escrita na véspera desse post ir ao ar. Então vou me adiantar a ela um pouquinho para falar do que achei da história dela.

Para quem passou o tempo todo reclamando do tema ‘terror’ (Ísis: Yup Dani: Hehe...), na minha opinião, o conto da Ísis foi o mais aterrorizante dos três dessa rodada. Pela falta de explicações, pelo mergulho direto na ação, pelas imagens e sensações da protagonista – eu terminei de ler as duas páginas dela com o coração acelerado e a respiração pesada.

Ísis: O.O

Lulu: Eu admiro a capacidade da Ísis de conseguir construir uma história com começo, meio e fim no espaço de um conto curto. Normalmente escrevo perto de dez páginas e dou muitos arrodeios na história – sou detalhista e prolixa. O Dé é um pouco menos prolixo que eu, mas ele também carrega nos detalhes da história. A Ísis também é detalhista e prolixa muitas vezes... mas ela sabe ir direto ao ponto quando interessa e consegue fazer isso sem dar a impressão de que faltou uma parte da história – que é sempre a minha impressão quando tento fazer o mesmo nas minhas histórias.

Dani: Convenhamos vai, somos todos muito prolixos e detalhistas...

Dé: Um pouco, vai...

Bom, do conto da Isis eu gostei bastante por dois motivos principais. Sempre fui possuidor da ideia que, em se tratando de terror, nada que o autor descreva vai assustar mais do que o que cada leitor vai imaginar. Quando cada um completa as lacunas deixadas pelo autor (intencionalmente ou não), o resultado vai ser MUITO mais assustador, por ser a representação do que cada um teme mais .

Dani: Concordo fervorosamente!!! Adoro histórias assim, que deixam nossa imaginação fazer toda a parte difícil.

Dé: Eu tento não explicar muito as coisas nos meus contos, justamente buscando esse efeito, de deixar o leitor completar as lacunas com as próprias experiências e preferências. E a Isis conseguiu fazer isso espetacularmente bem. Nós somos jogados em uma situação estranha... e é isso. Como o personagem chegou lá? O que está acontecendo? O que são os corvos? O que é o lago?

O segundo ponto que gostei, foi que a Isis conseguiu fazer um jump scare!!! (Ísis: O.O) Admito que eu não acho que conseguiria escrever uma cena como essa, embora eu goste de fazer plot twists.

Ísis: \o/ Plot twists, yeah!

O.O

E depois desses elogios, estou me sentido uma jumenta em perguntar: o que é um “jump scare”?

Dé: É aquele susto que vem de repente, e do nada. Muito comum em algumas mídias, tal como cinema.

Dani: E que fazem bem para o coração. ^^

Lulu: Só se for para o seu, filhota...

Ísis: Bem, considerando que o Dé é que é o nosso especialista em histórias de terror (Dani, eu sei que você também gosta desse gênero, mas estou considerando que você é nossa especialista em “quadros”, OK? E, sim, só vale uma especialidade “de artes” para cada um nessa interpretação Dani: Não entendi o tom de desculpa desse comentário ^^” Relaxa, Ísis.), vou ficar quieta e fingir que ficou bom, então. LOL

Lu, desculpa se te assustou. Eu achei fraquinha, mas não quis colocar mais elementos e estragar a história. Como vocês disseram, a partir de um certo ponto, quanto menos coisas, melhor o efeito.

Dani: E no fim, foi isso que deixou sua história tão legal.

Ísis: Mas confesso que não tinha esse conceito claro na minha cabeça. Tinha essa ideia vaga, mas entre aware ou não, tava mais para algo inconsciente mesmo. Levei em séria consideração procurar alguns contos de terror (e lê-los) para ter uma referência em como se escrever um.

(NOTA: SOCORRO! A Síndrome de Coruja é contagiosa!!! \o/)

O problema é que esse gênero não me motiva NADA. Inclusive, precisei da ajuda da Lu só para ler os nossos contos, porque terror NÃO me dá vontade de ler (mesmo) e eu estava enrolando... (Mas pode ter sido porque não tem nem dois dias que voltei da viagem... e a volta foi looooooongaaaaaaaa...!) Com ela presente, pus os olhos pra funcionar e li... e até gostei.

Dani: Interessante como você disse o mesmo sobre ficção científica e a história também saiu muito boa. Acho que devo desafiá-la mais vezes, vem fazendo bem a você. ^^

Ísis: (NOTA 2: Mas, por culpa da Coruja, também, minha concentração estava quase zero e desviando praticamente a cada página para Steve/Tony... precisei ler vários parágrafos centenas de vezes... >.<)

Lulu: Pois é, tive que segurar metaforicamente a mão da Ísis para ela ter coragem de ler os contos – sorte a dela que eu estava de manhã em casa no dia em que ela se sentou para ler, do contrário eu não teria atendido a ligação dela...

A culpa não é minha. Eu sou um anjo de bondade e doçura. Nem vem!

Dé: Só eu que imaginei a Lu puxando a Isis pelo pé, dizendo “Você vai ler!”, e a Isis com os dedos enfiados no chão, deixando sulcos enormes enquanto grita “NÃAAAAAAAAAAAAAAO!”. xD

Ísis: Yup. Probably, yeah, just you. O problema não é medo de ler (tenho medo de muitas outras coisas, mas isso não é uma delas), é a total falta de vontade/estímulo mesmo. Por isso, na hora que a Lu se apresentou, ela me forneceu um estímulo (do tipo, faça logo, ou mando-lhe cortar a cabeça!). ^^’

Sim, eu tenho medo de perder a cabeça... >.< 

Dani: Disso todos temos medo, querida... XD Embora aqui no QCuC seja eu quem decida quem perde cabeças ou outras partes do corpo. *assistindo Dexter e afiando aparatos de tortura novos*

Ísis: Yup. That’s it, I’m getting out of here...”

Dani: Anyway, considerando que adoooooro esse tema, já fui ler cada conto com a intenção de gostar. E não me decepcionei, como sempre! Não surpreendentemente, o da Lu achei o mais interessante de se ler. Com uma descoberta atrás da outra, cheio de embasamento e contexto, me causou aquela mesma sensação que sempre tenho com seus contos, Lu, de “isso aqui daria um puta livro!!”. Adorei! Aliás, quando é que esse livro sai hein? Fora que adoro tudo o que é de época, e você tem um especial talento para escrever isso.

Lulu: Obrigada pela parte que me toca. E, quanto ao livro... um dia.

Dani: Já o do Dé... cara... Dé, o seu me deu medo hein! Do momento que comecei a ler, já foi me dando aquela revirada no estômago; a agonia, o desespero, a sensação esmagadora do garoto estar preso dentro de si mesmo e tudo ao seu redor se destruindo, tanto dentro dele quanto fora. Apenas uma palavra: Espetacular! Você se superou!!

Ísis: Pois é. Eu adorei o do Dé por isso... por causar sensações que somos perfeitamente capazes de assimilar...

Dani: E Ísis... putz, Elefantinha, eu realmente tenho de te fazer sair mais da sua zona de conforto! Você têm criado histórias ótimas sob pressão! Adorei o mistério que você conseguiu construir, o que não foi dito e que acabou por moldar todo o resto do mistério. Um conto de puras sensações e sustos. Good Job!!

Ísis: Acho que ainda dá tempo eu voltar pra África... e pras Mopani...

Dani: Olha que eu te caço, hein... ^^”

Lulu: Sáfari na África!

Dani: Bom, de qualquer forma, minha inspiração para o desenho veio, na verdade, do nosso idolatrado Stephen King, enquanto eu assistia o clássico O Iluminado. Tudo bem que a ideia de uma criança em uma história de terror não é nenhuma novidade, mas o que me instigou de verdade foi a ideia daquele garoto sozinho em um lugar isolado e angustiante. A imagem de uma criança, inocente e pura, sozinha numa situação claramente intimidadora me pareceu uma imagem ótima para o desafio. Sem sangue ou fantasmas ou mutilações, mas o sentimento em primeiro plano. E é claro um toquezinho de Poe em alguns corvos. XD

Mas partindo para frente, para o próximo desafio decidi pegar mais leve com vocês (ou não, depende de como se olha). Aqui está o desenho e dessa vez o tema será... Infantil.

Divirtam-se!!!

E nada de fugir para as colinas, Ísis!


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3 comentários:

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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.

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