7 de novembro de 2013

Desafio Literário 2013: Novembro - Livros que Foram Banidos || And Tango Makes Three

This tale based on a true story about a charming penguin family living in New York City's Central Park Zoo will capture the hearts of penguin lovers everywhere. Roy and Silo, two male penguins, are "a little bit different." They cuddle and share a nest like the other penguin couples, and when all the others start hatching eggs, they want to be parents, too. Determined and hopeful, they bring an egg-shaped rock back to their nest and proceed to start caring for it. They have little luck, until a watchful zookeeper decides they deserve a chance at having their own family and gives them an egg in need of nurturing. The dedicated and enthusiastic fathers do a great job of hatching their funny and adorable daughter, and the three can still be seen at the zoo today. Done in soft watercolors, the illustrations set the tone for this uplifting story, and readers will find it hard to resist the penguins' comical expressions. The well-designed pages perfectly marry words and pictures, allowing readers to savor each illustration.
A princípio, eu ia resenhar outro título completamente diferente para o Desafio Literário 2013 desse mês. Mas aí, em setembro, teve a semana dos livros banidos e dando uma olhada na lista dos títulos mais frequentemente censurados nos últimos anos – não sei se só nos Estados Unidos ou de forma mais ampla... - descobri que um volume que dei de presente para a Ísis em maio tinha liderado o rol dos dez mais por três anos consecutivos desde sua publicação, e permanecendo entre os cinco mais censurados até 2012, exceto pela lista de 2011...

Ísis: Achei que era justamente porque ele tinha sido banido tantas vezes, que tu mo deste de presente, e não o contrário...

Lulu: Eu expliquei o porquê de ter te dado ele de presente alguns parágrafos abaixo ;)

Considerando que se trata de um livro com indicação etária de quatro a oito anos, parece meio absurdo que ele esteja nessa lista de livros mais censurados nos últimos oito anos. Afinal, And Tango Makes Three é um volume de pouco mais de trinta páginas, com texto leve e muitas ilustrações, sem qualquer tipo de linguagem obscena, violência ou referência sexual – que são as principais justificativas para a censura.

Ísis: Na verdade, se você quiser censura, a desculpa mais óbvia é “família” ou “criança”, ou seja, não estou nem um pouco surpresa. Afinal de contas, a forma mais frequente de censura é direcionada a este público (creio eu), ou então para impedir que filosofia/questionamento chegue a cabeças pensantes...

Lulu: Sim, entendo isso. A questão é que a maior parte dos livros banidos que já li são clássicos e os motivos para sua censura geralmente vão por questões de linguagem, de situações sexuais mais ou menos explícitas. E nesses pontos eu até posso entender não o banimento dos livros, mas a classificação indicativa para eles. Tipo, eu não deixaria uma criança de dez anos ler o Marquês de Sade, porque eu não acho que a cabeça dela esteja preparada para lidar com sexo explícito e, bem... sádico.

Acho que teríamos muito mais psicopatas soltos e ativos se fizéssemos isso...

Mas sejamos sinceros – se você tem na cabeça censurar, não é como se fizesse muita diferença se a linguagem é explícita ou ambígua ou mesmo se há algo que se classifique para maiores de idade ou coisa do tipo... 

Então, quem falou da linguagem foi você... linguagem normalmente só varia mesmo a classificação, não banimento. ^^’’

Pois bem... And Tango Makes Three é a história real (esse é o detalhe que mais me impressiona) de um casal de pinguins machos do zoológico de Nova York que adota um filhote e assim forma uma família. Basicamente, Roy e Silo se cortejam, vivem felizes juntos, constroem um ninho e, na incapacidade de qualquer dos dois de botar um ovo, o tratador do zoológico decide ver o que acontece e dá para eles um ovo que outro casal de pinguins não tinha como cuidar porque já tinham um para o qual dar atenção.

Imediatamente, os dois pinguins começam a cuidar do ovo e a chocá-lo... até que nasça o filhote, uma pinguim que foi batizada de Tango. Os três – Roy, Silo e Tango – formam uma família, como qualquer outra das famílias de pinguins do zoológico.

Esse é o resumo da ópera e até aí, nada demais. Os desenhos são engraçadinhos, o texto não tem nenhum tipo de duplo sentido, a coisa toda é bem inocente. Mas aí, como tem gente que vê chifre de unicórnio em toda cabeça de cavalo, diversas bibliotecas e associações de pais decidiram que And Tango Makes Three era inadequado por fazer referências a homossexualismo e adoção.

Aliás, é exatamente por esse fato que dei o livro de presente para a Ísis – a monografia dela na faculdade teve por título As relações de parentesco por afinidade nas uniões homoafetivas (Nossa! Você lembra, ou tirou de algum documento por aí? Eu me lembrava, sim... Só que na minha cabeça o título era ‘adoção nas uniões homoafetivas’. Tirei o título completo do seu currículo no Lattes.). Eu descobri o livro lendo alguma resenha que tocava na polêmica da censura, lembrei dela, encomendei e despachei o bendito para o Japão. E antes, claro, li, para poder entender porque o bafafá todo.

Só que, embora eu soubesse que havia uma polêmica por trás do livro, eu não tinha ideia de que a coisa era tão grave.

Pergunta-se: em que idade devemos ensinar às crianças sobre tolerância? Sobre aceitar e respeitar as escolhas (A ciência diz que homossexualismo não é uma escolha, Lu, o que foi um dos motivos pra que homossexualismo fosse tirado da lista de doenças mentais. Sim, era considerado tanto doença mental, quanto distúrbio sexual; por enquanto, o segundo ainda é considerado válido. Só pra comentar, a música Born This Way, da Lady Gaga, passa bem essa ideia – eu adoro. Eu estava pensando de uma forma mais geral. Escolhas, no plural, e não apenas a opção sexual, mas tolerância a todos os tipos de diferença. Ah, tá. Oops. Bem que achei que tu já sabias disso... ^^’’) das pessoas ao nosso redor? Por que censurar um livro como And Tango Makes Three, quando na realidade deveríamos incentivar esse tipo de iniciativa: uma história que de forma lúdica e sensível, nos ensina aceitação em vez de preconceito?

Ísis: Eu até concordo, mas se você é educado de uma forma, você dificilmente vai querer que seus filhos sejam educados de outra forma. Em outras palavras, ALÉM desse trabalho com as crianças, é preciso uma (longa e dispendiosa) campanha direcionada aos pais e adultos também, ou nunca veremos o fim dessa situação.

Lulu: Sim. O diabo está nos detalhes, como dizia um velho ditado... Mas temos de começar de algum lugar, não?

Francamente? É desapontador perceber que a sociedade dos pinguins (pinguinesca?) é mais avançada e tolerante que a humana.

Ísis: Não é bem assim. É que no mundo animal existem poucas coisas para barrar a “tolerância”, e não existe essa noção de “errado”. O nosso problema está em ter trocentas formas de pensar, e muitas dos quais discordam umas das outras (ou, pelo menos, as pessoas o fazem parecer), e várias formas de discriminar (no sentido de classificar) as coisas (e as pessoas). Não estou sendo especista (não sei se a palavra em português é essa) e dizendo que a humanidade é superior a todas as outras raças, mas estou dizendo, sim, que formamos uma sociedade tão complexa, mas tão complexa, que nós mesmos somos vítimas dela também, e em várias formas, cotidianamente.

Lulu: Sim, a palavra é especista e só para constar, Eu estava sendo retórica em minha pergunta XD Você precisa parar de me ler tão literalmente, Iguinha...

Ísis: Mas, de fato, viver numa sociedade em que as crianças não são educadas (ou, pelo menos, mantidas na ignorância) acerca da existência (digo nem tolerância, ainda) do homoerotismo/homossexualismo é um ideal talvez não tão distante.

Lulu: A esperança é a última que morre, yadda, yadda, yadda. Mas, enfim, recomendo esse livro para todo mundo, especialmente para quem tem criança ou Ísis(es – qual o plural de Ísis?) em casa. É uma boa forma de abrir um diálogo sobre o assunto e de cultivar um futuro sem tantos preconceitos, mais livre e tolerante.

E de quebra ainda dá para começar a ensinar inglês para os pimpolhos, porque esse livro não está disponível em português, mas... quem sabe no futuro?


Nota: 5
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: And Tango Makes Three
Autor: Peter Parnell e Justin Richardson
Ilustrações: Henry Cole
Editora: Simon & Schuster Books for Young Readers
Ano: 2005
Número de páginas: 32


A Coruja


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