17 de agosto de 2013

Para ler: A Comédia Trágica ou a Tragédia Cômica de Mr. Punch

Também tenho minhas fotografias mentais deles {dos parentes}: momentos congelados do passado, nos quais os mortos são captados em minúsculos laços de movimento.
Para ficar no tema de costumes ingleses e fantoches em histórias bastante sanguinárias – ainda que ontem eu tenha deixado Londres para trás e chegado a Paris – um pouco mais de Mr. Punch para vocês, dessa vez na versão de Mr. Gaiman.

Li esse volume na mesma ocasião em que li Sinal e Ruído e devo dizer que aquele mexeu muito mais comigo do que esse título. O tom onírico, memórias costuradas de um passado distante às vezes soa um pouco confuso; as experiências do protagonista também são muito diferentes das minhas para que eu pudesse sentir alguma empatia e o próprio texto está recheado de ambigüidades.

Mas são essas ambigüidades e essa confusão que são cruciais para o espírito do livro. A Comédia Trágica ou a Trágica Comédia de Mr. Punch é uma história narrada em primeira pessoa por um adulto rememorando episódios muito específicos de sua infância – episódios que ele nunca foi capaz de compreender e dos quais ele não tem mais ninguém para perguntar, uma vez que todos os envolvidos – seus avós, seus tios - já estão mortos.

Essas lembranças estão todas conectadas pela peça e os assassinatos que a marionete comete – e fica no ar a impressão de que a insanidade da peça talvez tenha algo de comum com o passado familiar do narrador.

É algo que nunca fica claro, mas que está sempre presente na periferia da nossa visão e que pesa fortemente na arte sombria e magnífica de Dave McKean – e devo confessar que o trabalho do McKean me impressionou muito mais que o roteiro aqui.

No final das contas, me deu uma baita vontade de assistir uma performance de Punch and Judy, contanto, claro, que não me apareça nenhum fantasma interessado em possessão, assassinato e outras variações do gênero...

Fica para a próxima vez...


A Coruja


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