30 de abril de 2013
Clube do Livro (Abril): As Vantagens de ser Invisível
Esse mês no Clube do Livro o tema foi ‘histórias com protagonistas adolescentes’ e As Vantagens de ser Invisível acabou sendo o escolhido para o debate, impulsionado pela curiosidade que o filme causou.Fui para o meu quarto, fechei a porta e coloquei minha cabeça no travesseiro. Deixei que o silêncio colocasse as coisas no lugar em que elas deveriam estar
Devo começar dizendo que tive uma relação meio problemática com o livro. Eu comecei a ler em português, mas a narrativa não fluía, eu não conseguia engolir muito bem a forma como a coisa era escrita: frases curtas, simples, vocabulário pobre e um discurso tão absurdamente imaturo que eu não conseguia de forma alguma enxergar veracidade no protagonista.
Ao final da primeira parte (o livro é dividido em quatro), decidi trocar para o livro em inglês, tentando descobrir se meu problema era com a tradução. Minha conclusão é que não, o problema não era a tradução; Charlie é mesmo repetitivo e infantil, a ponto de quase me fazer abandonar o livro.
Mas sou uma criatura persistente e minha teimosia serviu de alguma coisa no final das contas. A partir da segunda parte, o discurso vai amadurecendo, Charlie se torna mais suportável e de uma maneira geral, o livro melhora.
Ok, paremos de prolixidade e vamos ao que interessa para que eu possa explicar o que estou tentando dizer e ninguém me jogue tomates...
As Vantagens de ser Invisível é um romance epistolar em que o protagonista, Charlie, escreve cartas para um alguém que nunca recebe um nome, não envia resposta e tem um certo potencial para ser imaginário. Não que isso importe. O importante é que através das cartas de Charlie, nós acompanhamos sua vida ao longo de um ano – seu relacionamento com família, amigos, professores e livros, seu crescimento no mais das vezes doloroso num mundo que muitas vezes faz pouco sentido para ele.
Na primeira parte do livro, Charlie conhece Sam e Patrick, amigos que serão cruciais nesse processo de amadurecimento – e a partir daí ele é exposto a todo tipo de trauma e abuso.
Não estou falando de Charlie, propriamente... mas do fato de que praticamente todos os personagens do livro sofreram alguma espécie de abuso – físico, psicológico ou sexual. Você começa com um suicídio, avança para estupro, consumo de drogas variadas, violência, homofobia, aborto e a impressão que tenho é que o autor tentou colocar todas as variantes possíveis e imagináveis de situações traumáticas dentro de um único volume com pouco mais de 200 páginas e acabou por se perder em algum ponto do caminho.
Posso entender que de perto ninguém é normal, mas chega um momento em que o acúmulo de traumas é tão grande que você já não consegue mais sentir alguma empatia com aqueles personagens.
Escrever em primeira pessoa é um risco muito grande – você restringe sobremaneira os pontos de vista sobre a história e tem de prestar muita atenção para não sair do tom do personagem. Um dos problemas de As Vantagens de ser Invisível é que a princípio, o tom de Charlie é infantilizado e desagradável – foi um risco que o autor correu escrever o começo daquela maneira, exatamente porque é no começo da história que nos prendemos a ela. Ele melhora no decorrer do livro, mas ainda assim, é um personagem que me parece muito pouco crível.
Não é apenas pela dificuldade de conexão com o mundo, pelo isolamento e em mais de um momento completa falta de noção – e parece ser razoável deduzir que Charlie sofra de autismo ou algo parecido – mas pela forma deslocada como as coisas acontecem. Eu não consegui entender em momento algum porque Patrick e Sam decidem ‘adotar’ Charlie e as discussões sobre livros com o professor parecem pertencer a uma outra história.
Um pouco mais de profundidade na exploração do personagem – porque a simplicidade de sentimentos de Charlie que parece só ter dois tipos de humor (sorrindo ou chorando) é meio que caricatual – e uma restrição de temas que pudessem ser então mais explorados, faria muito pelo livro.
A Coruja
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