12 de abril de 2012
Para ler: Uma Solução Sete Por Cento ou A Volta e o Fim de Sherlock Holmes
Quem não está familiarizado com o cânone de Sherlock Holmes – as histórias originais escritas por Sir Arthur Conan Doyle – talvez não saiba que o detetive brilhante era também um entusiasta do uso recreativo de drogas – morfina e cocaína, com a segunda sendo sua particular favorita. Em O Signo dos Quatro, Holmes começa e termina a história se injetando uma solução de cocaína na concentração de sete por cento.Descoberto pela primeira vez e, em seguida, cuidadosamente editado e anotado por Nicholas Meyer, Uma Solução Sete por Cento diz respeito à colaboração surpreendente e até então desconhecida de Sigmund Freud com Sherlock Holmes, como registrado pelo amigo de Holmes e cronista, o Dr. John H. Watson. Além da narrativa de tirar o fôlego de sua colaboração em um caso de conspiração diabólica em que as vidas de milhões estão na balança, o manuscrito revela questões como a identidade real do hediondo Professor Moriarty, o segredo compartilhado por Sherlock e seu irmão Mycroft Holmes, e o verdadeiro paradeiro do detetive durante o Grande Hiato, quando o mundo acreditava que ele estivesse morto.
Curiosamente, numa tradução antiga com que tive contato, esse detalhe foi cortado sumariamente da história.
Deixando de lado a ditadura do politicamente correto, é bom lembrar do contexto histórico em que as histórias de Sherlock Holmes estão inseridas. Até o início do século XX o uso de cocaína era não apenas legal, como os médicos a receitavam a torto e direito, para curar de azia a histeria.
O estudo das conseqüências do vício apenas engatinhava, mas temos em Watson um severo crítico do hábito do amigo – tanto que em histórias posteriores vamos descobrir que por insistência do bom doutor, Holmes deixou de usar cocaína.
No grande esquema das coisas dentro do cânone, o uso de drogas é apenas um detalhe da personalidade do detetive. Mas foi esse detalhe que inspirou o escritor e roteirista Nicholas Meyer a escrever Uma Solução Sete Por Cento - e, por favor, permitam-me observar o quão surpresa fiquei em descobrir que esse livro foi traduzido aqui no Brasil!
A história começa com a cena de abertura de O Problema Final: Holmes chegando à casa de Watson, absolutamente agitado com seus planos para pegar o professor Moriarty, Napoleão do Crime, seu arquiinimigo, a mais brilhante mente criminosa de todos os tempos – e alguém de quem até então, Watson nunca ouvira falar.
Quem conhece o conto original sabe o que acontece a seguir. Holmes prepara a rede e deixa Londres, junto com Watson, para se refugiar na Suíça e Moriarty vai em seu encalço, culminando com o encontro em Reichenbach.
Na narrativa de Meyer, essa enrolada não passa de um engodo para tirar os leitores do rastro do detetive. Na verdade, a fixação de Sherlock com o professor é resultado de traumas de infância com alucinações causadas pela cocaína, de quem Holmes já está completamente refém a essa altura.
Watson, preocupado com o estado do amigo, contata um médico em Viena que tem pesquisado o assunto e, com a ajuda de Mycroft e do próprio Moriarty – que no final das contas não passa de um antigo tutor de Sherlock – consegue levar Holmes para ser atendido pelo tal médico... que não é outro senão o doutor Sigmund Freud.
Com a ajuda de Freud e Watson, Holmes começa sua reabilitação – e no meio do caminho se deparar com uma intriga internacional que mistura mulheres desmemoriadas, fábricas de armamentos, psicanálise, partidas de tênis e sussurros do conflito que acabaria por se tornar a Primeira Guerra Mundial.
Uma Solução Sete Por Cento é um livro interessante, com um bom ritmo – e concatena uma ‘teoria da conspiração’ que até faz bastante sentido dentro do universo canônico de Conan Doyle. Algumas explicações são um tanto corridas, e fiquei com a impressão bizarra de que Holmes conseguia superar o vício quase que da noite para o dia (não sei se é uma questão de tradução ou se é a impressão realmente deixada pelo Meyer) – mas no cômputo geral, vale bem a leitura.
A Coruja
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