14 de novembro de 2010

Meme Literário: Dia 14 – personagem de livro favorita




Desta feita, não precisei pensar duas vezes para decidir quem é minha personagem favorita de todos os tempos. É claro que de lá pra cá, outros personagens se juntaram, mas ainda é a minha heroína de infância que ocupa o posto absoluto de primeiro lugar nessa lista:

Emília, a Marquesa de Rabicó.


Emília não é, nem de longe, um personagem politicamente correto, um modelo a ser seguido e imitado. Ela é teimosa, cabeça-dura, não tem papas na língua, é birrenta, invejosa, rancorosa, extremamente astuta, coleciona coisas bizarras que vai colocando numa canastrinha que obriga o pobre Visconde de Sabugosa a carregar em suas andanças e aventuras e é consenso na família do Pica-Pau Amarelo que possui uma torneirinha de asneiras das quais você nunca sabe o que poderá surgir a seguir.

Ela sempre fala o que pensa, ainda que nem sempre seja o certo... especialmente com a pobre Tia Anastácia.

Apesar de tudo isso, quando Emília gosta de uma pessoa, ela gosta mesmo; é leal ao extremo, ainda que não deixe de tirar uma com a cara do alvo de seu afeto – basta ver a forma como ela trata o Anjinho ou o Hércules (dos livros da coleção, Os 12 Trabalhos de Hércules sempre foi meu favorito).

Considerando que o MEC está querendo censurar Lobato pelo conteúdo racista, receio que os futuros novos leitores do Sítio receberão uma obra – e uma Emília – desfiguradas. Pelo que li do assunto, eles não chegam a querer cortar as passagens propriamente ditas dos livros, mas inserir uma série de notas explicativas sobre estereótipos raciais e coisas do gênero.

Não sei exatamente o que pensar do assunto. Não nego que haja um mundo de comentários racistas (especialmente os da Emília, que adora chamar Tia Anastácia de negra beiçuda), mas, sério... será que as crianças que lerão Lobato hoje não têm capacidade de compreender e tirar suas próprias conclusões sobre a época e a sociedade em que as histórias dele estão inseridas? Que elas têm de ser doutrinadas e carregadas como ovelhas – onde uma vai, todas vão atrás – e são incapazes de estabelecer opiniões próprias?

Putz grila, eu li Lobato sem nenhuma nota sobre “estereótipos”, adoro a Emília e nem por isso me considero uma pessoa racista. Vocês nunca vão me ver vituperando e vociferando que porque uma pessoa é de cor (negra, índia, amarela, vermelha, que seja...) é menos capaz que outra, que porque é nordestina, é mais burra e assim por diante.

De uma forma geral, detesto a ditadura do politicamente correto. Tanto pior quando ela está ao desserviço de impedir a formação de espíritos críticos capazes de pensar por si.


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E aproveitando o ensejo já que estamos por aqui, não deixem de participar da pesquisa de opinião para o balanço de final de ano de D. Lulu!





A Coruja


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