25 de junho de 2009
Olha a chuva! Olha a cobra! Cada um com seu par!
Esse São João me deu assunto suficiente para uma série de artigos para o Coruja... Das histórias que mamãe não contou de sua juventude, a discussões filosófico-metafísicas sobre as funções das carpideiras embaladas por chopp de vinho (pense num negócio bom!), há muito que dizer.
Mas não começarei por isso hoje. Em vez disso, farei algumas observações sobre o São João, os efeitos de um copo de vinho às duas da manhã num frio de lascar e o estado lamentável dos meus calcanhares.
Ok... first things first... Eu sei que nem todo mundo que freqüenta o Coruja conhece o Nordeste. Na verdade, eu só conheço uma pessoa que freqüenta o Coruja que conhece (e mora) no Nordeste.
O ciclo de festas juninas e, em especial, o São João, são festas típicas do Nordeste brasileiro, tal como o Carnaval é do Rio e da Bahia (não sei se conto a Bahia no Nordeste, já que eles não se consideram muito como tais...). As quadrilhas juninas são o nosso equivalente às escolas de samba.
Como existe não apenas um São João, vale caracterizar qual seja o responsável pela festança: São João Batista, o primo de Jesus que batizava as pessoas e que teve sua cabeça cortada, pedida como presente pela jovem enteada do rei, Salomé (há uma belíssima versão da história na pena de Oscar Wilde).
Bem, comemoramos no dia 23 de junho, a véspera do nascimento de São João, com fogueira, fogos, comilança e muito forró, especialmente o da ‘safra’ pé-de-serra, imortalizado pelo rei do Baião, Luiz Gonzaga.
Foi exatamente tudo isso que tive no meu São João.
Fui para Gravatá no sábado de manhãzinha. Para quem também não conhece, Gravatá é uma cidade não muito distante do Recife, capital de Pernambuco, conhecida pelo clima temperado, já que fica no alto da Serra das Russas – em suma, um lugarzinho pra lá de frio e oposto à idéia tropicália de região Nordeste.
A farra já começara na cidade. No domingo de noite, fui para a praça com meus primos, assistir Santanna, Nando Cordel e Irah Caldeira. Estava mais empacotada que presente de natal, com direito inclusive a casaco de lã com gola alta. Mas isso não foi suficiente para me salvar da garoa e segunda eu acordei parecendo que tinha feito uma visitinha ao inferno.
Se bem que a aparência não se devia apenas ao fato de estar rouca como se tivesse passado a noite cantando a toda altura (o que fiz em parte), ao nariz completamente congestionado e as olheiras profundas, mas também ao rímel e lápis que tinham escorrido enquanto dormia.
Quem se lembra de tirar maquiagem às três da manhã, num frio de lascar e doida para se enfiar debaixo do edredom e dormir até que o mundo se acabe?
A melhor parte, é claro, é que, após ir me deitar às três, às sete estava de novo acordada. Ninguém, ninguém merece isso! Maldito relógio biológico!
O resto da segunda-feira foi passada no processo de estocar fogos, andar como um zumbi e assistir filmes na TV. Aliás, lembram o que eu disse semana passada sobre programação e sobre o fato de que era bom não ter History Chanel na minha televisão?
Colocaram a parabólica em Gravatá. Duzentos e dezenove canais, com todos os Discovery que você puder pensar, os canais da HBO, Cinemax e da Hallmark.
EU ASSISTI ROBIN HOOD! E também o filme do Quebra-Nozes, Cinderela 3 (huahuahuahua), Alladin (viva!), como fazer fogo grego e montar seu próprio lança-chamas bizantino, além de uma dezena de dissecações de múmias (MÚMIAS! VIVA!).
É, eu passei a segunda no sofá, me familiarizando com a programação da parabólica – até semana passada, só passava canal de boi – e mastigando o que quer que houvesse à mão.
Segunda se foi, terça é o dia da festa. Os preparativos lá em casa começam cedo, já que mamãe, não satisfeita com o tanto de comida e bebida que levou do Recife, está às voltas com fazer um banquete para um exército.
Ela é sempre assim. É simplesmente inacreditável a quantidade de comida que minha mãe faz toda vez que tem festa.
O almoço foi na casa de tia Gilda, que também tem casa em Gravatá. De Maceió veio a tia Gilka, a mais velha da casa da minha mãe. E aí começou a palhaçada.
Eu nunca antes tinha ouvido falar em chopp de vinho. No entanto, tio Ventura tinha várias garrafas deste elixir e foi assim que me vi virando uma, no meio das duas tias, minha mãe e minhas primas.
Muito estrogênio num ambiente fechado, misturado com álcool e chocolate... e, daí a pouco, estávamos ouvindo histórias de mocinhas de nove, dez anos de idade fazendo ligação direta no carro de vovô para ir até a Quixabeira (nome das terras de vô), fumar em folha de fumo para ficar – nas palavras delas – ‘bêbadas’.
O mistério da coisa fica por conta de como conseguimos entender tudo o que ia sendo dito na enorme confusão de gargalhadas e uma cortando a outra, aumentando um ponto e caindo da cadeira.
De noite, a festa foi transferida para minha casa, já que o condomínio tinha contratado uma banda para fazer a farra. Aí, nós já estávamos no filtrado doce de vinho branco (é tipo um espumante, muito gostoso por sinal), a mesa cheia de comida, o frio e o vento comendo e só estourando traque e bombinha.
Dez horas começou o forró. E das dez até duas da manhã, ficamos no salão de festas, tia Gilka dançando solta e nunca me deixando sentar.
Resumo da história: botei até meu pai para dançar comigo, fui até embaixo com tio Júnior, em algum ponto da noite quase dei um jeito na coluna... e, graças aos saltos das botas que usava, amanheci na quarta quase sem conseguir pisar no chão graças aos meus pobres, pobres calcanhares. Até cantar, cantei, para delírio da mãe e das tias, visto minha escolha de música:
Em minha defesa, digo que não estou acostumada a beber álcool. E que a banda era meio ruim. E que sentia falta de cantar, ainda que o tenha feito meio rouca e desafinadamente.
Eis então o resumo da ópera, muita canjica e bolo pé-de-moleque depois. E vocês, como foi seu São João? Ou vocês não comemoram essa festa?
Lulu agora vai ir colocar pezinhos para cima, mas volto mais tarde para continuarmos a prosa. Se não voltar mais tarde... é porque apaguei de novo no sofá...
A Coruja
p.s.: tinha prometido fotos do São João... Mas eu me recuso a colocar minha cara de doida aqui. Talvez da próxima vez, sem trancinhas, chapéu de matuta e sem rir como uma maluca... HUAHUAHUAHUA... E tenho dito.
Mas não começarei por isso hoje. Em vez disso, farei algumas observações sobre o São João, os efeitos de um copo de vinho às duas da manhã num frio de lascar e o estado lamentável dos meus calcanhares.
Ok... first things first... Eu sei que nem todo mundo que freqüenta o Coruja conhece o Nordeste. Na verdade, eu só conheço uma pessoa que freqüenta o Coruja que conhece (e mora) no Nordeste.
O ciclo de festas juninas e, em especial, o São João, são festas típicas do Nordeste brasileiro, tal como o Carnaval é do Rio e da Bahia (não sei se conto a Bahia no Nordeste, já que eles não se consideram muito como tais...). As quadrilhas juninas são o nosso equivalente às escolas de samba.
Como existe não apenas um São João, vale caracterizar qual seja o responsável pela festança: São João Batista, o primo de Jesus que batizava as pessoas e que teve sua cabeça cortada, pedida como presente pela jovem enteada do rei, Salomé (há uma belíssima versão da história na pena de Oscar Wilde).
Bem, comemoramos no dia 23 de junho, a véspera do nascimento de São João, com fogueira, fogos, comilança e muito forró, especialmente o da ‘safra’ pé-de-serra, imortalizado pelo rei do Baião, Luiz Gonzaga.
Foi exatamente tudo isso que tive no meu São João.
Fui para Gravatá no sábado de manhãzinha. Para quem também não conhece, Gravatá é uma cidade não muito distante do Recife, capital de Pernambuco, conhecida pelo clima temperado, já que fica no alto da Serra das Russas – em suma, um lugarzinho pra lá de frio e oposto à idéia tropicália de região Nordeste.
A farra já começara na cidade. No domingo de noite, fui para a praça com meus primos, assistir Santanna, Nando Cordel e Irah Caldeira. Estava mais empacotada que presente de natal, com direito inclusive a casaco de lã com gola alta. Mas isso não foi suficiente para me salvar da garoa e segunda eu acordei parecendo que tinha feito uma visitinha ao inferno.
Se bem que a aparência não se devia apenas ao fato de estar rouca como se tivesse passado a noite cantando a toda altura (o que fiz em parte), ao nariz completamente congestionado e as olheiras profundas, mas também ao rímel e lápis que tinham escorrido enquanto dormia.
Quem se lembra de tirar maquiagem às três da manhã, num frio de lascar e doida para se enfiar debaixo do edredom e dormir até que o mundo se acabe?
A melhor parte, é claro, é que, após ir me deitar às três, às sete estava de novo acordada. Ninguém, ninguém merece isso! Maldito relógio biológico!
O resto da segunda-feira foi passada no processo de estocar fogos, andar como um zumbi e assistir filmes na TV. Aliás, lembram o que eu disse semana passada sobre programação e sobre o fato de que era bom não ter History Chanel na minha televisão?
Colocaram a parabólica em Gravatá. Duzentos e dezenove canais, com todos os Discovery que você puder pensar, os canais da HBO, Cinemax e da Hallmark.
EU ASSISTI ROBIN HOOD! E também o filme do Quebra-Nozes, Cinderela 3 (huahuahuahua), Alladin (viva!), como fazer fogo grego e montar seu próprio lança-chamas bizantino, além de uma dezena de dissecações de múmias (MÚMIAS! VIVA!).
É, eu passei a segunda no sofá, me familiarizando com a programação da parabólica – até semana passada, só passava canal de boi – e mastigando o que quer que houvesse à mão.
Segunda se foi, terça é o dia da festa. Os preparativos lá em casa começam cedo, já que mamãe, não satisfeita com o tanto de comida e bebida que levou do Recife, está às voltas com fazer um banquete para um exército.
Ela é sempre assim. É simplesmente inacreditável a quantidade de comida que minha mãe faz toda vez que tem festa.
O almoço foi na casa de tia Gilda, que também tem casa em Gravatá. De Maceió veio a tia Gilka, a mais velha da casa da minha mãe. E aí começou a palhaçada.
Eu nunca antes tinha ouvido falar em chopp de vinho. No entanto, tio Ventura tinha várias garrafas deste elixir e foi assim que me vi virando uma, no meio das duas tias, minha mãe e minhas primas.
Muito estrogênio num ambiente fechado, misturado com álcool e chocolate... e, daí a pouco, estávamos ouvindo histórias de mocinhas de nove, dez anos de idade fazendo ligação direta no carro de vovô para ir até a Quixabeira (nome das terras de vô), fumar em folha de fumo para ficar – nas palavras delas – ‘bêbadas’.
O mistério da coisa fica por conta de como conseguimos entender tudo o que ia sendo dito na enorme confusão de gargalhadas e uma cortando a outra, aumentando um ponto e caindo da cadeira.
De noite, a festa foi transferida para minha casa, já que o condomínio tinha contratado uma banda para fazer a farra. Aí, nós já estávamos no filtrado doce de vinho branco (é tipo um espumante, muito gostoso por sinal), a mesa cheia de comida, o frio e o vento comendo e só estourando traque e bombinha.
Dez horas começou o forró. E das dez até duas da manhã, ficamos no salão de festas, tia Gilka dançando solta e nunca me deixando sentar.
Resumo da história: botei até meu pai para dançar comigo, fui até embaixo com tio Júnior, em algum ponto da noite quase dei um jeito na coluna... e, graças aos saltos das botas que usava, amanheci na quarta quase sem conseguir pisar no chão graças aos meus pobres, pobres calcanhares. Até cantar, cantei, para delírio da mãe e das tias, visto minha escolha de música:
Mandacaru quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina quando enjoa da boneca
É sinal de que o amor já chegou no coração
Meia comprida, não quer mais sapato baixo
Quer vestido bem cintado
Não quer mais vestir chitão
Ela só quer, só pensa em namorar
Ela só quer, só pensa em namorar
Ela só quer, só pensa em namorar
Ela só quer, só pensa em namorar
Em minha defesa, digo que não estou acostumada a beber álcool. E que a banda era meio ruim. E que sentia falta de cantar, ainda que o tenha feito meio rouca e desafinadamente.
Eis então o resumo da ópera, muita canjica e bolo pé-de-moleque depois. E vocês, como foi seu São João? Ou vocês não comemoram essa festa?
Lulu agora vai ir colocar pezinhos para cima, mas volto mais tarde para continuarmos a prosa. Se não voltar mais tarde... é porque apaguei de novo no sofá...
A Coruja
p.s.: tinha prometido fotos do São João... Mas eu me recuso a colocar minha cara de doida aqui. Talvez da próxima vez, sem trancinhas, chapéu de matuta e sem rir como uma maluca... HUAHUAHUAHUA... E tenho dito.
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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
ç.ç Você foi pro show de Santanna e Irah Caldeira? Que invejaaaa... Confesso que nunca passei São João em Gravatá, embora muita gente tenha me falado da festa, geralmente eu e o pessoal aqui de casa vamos para Caruaru, onde sempre tem alguém da família do meu pai (que é marjoritariamente de Pernambuco, o que explica a minha frequência no estado) para fazer a festa, e já fomos para Campina Grande uma vez (onde eu tive minha estréia como cantora de forró, já que faltaram dois membros do trio que foi tocar na festa... Eu fiquei o dia seguinte inteiro doente, mas valeu a pena XD).
ResponderExcluirEsse ano, por conta de horários infelizes, ainda não viajamos para lugar nenhum e as festas juninas aqui em Maceió não são lá muito atrativas (Eu não gosto de forró universitário, ou seja lá qual é o nome que se dá ao gênero, e é só o que parece tocar nos interiores mais próximos daqui.). Estamos tentando pegar o São Pedro em Caruaru, mas não estamos com muita sorte. u.u Então, pra compensar, terça-feira teve um "jantar junino" aqui em casa. Não consegui convencer ninguém a dançar comigo, mas a comida estava divina (eu achava que não gostava de queijadinha, mas mudei de idéia).
Acho que minha festa não chegou aos pés da sua, Lulu, mas foi bem interessante também. Ao menos eu ouvi boa música, embora não tenha sido ao vivo. E quem sabe ainda haverá a chance de arrastar alguém pra dançar um pouquinho de pé-de-serra até o fim do mês... Ou até depois dele, se depender de algumas pessoas extraordinariamente festeiras que eu conheço XD Feliz São João atrasado!
P.S.: Eu fui ver ontem o email que você tinha mandado com os capítulos de Hitsuzen e Madrigal... >.<' Não entenda mal, é que eu não tenho o hábito de checar o email do blogger, eu geralmente recebo mensagens nesse: (moony_846@hotmail.com) Mas eu consegui ler os capítulos no Amaterasu há alguns dias, então está tudo ok. Muito obrigada por ter mandado para mim, de qualquer maneira, eu juro que vou tentar olhar a caixa de entrada com mais frequência, rs.
Oi!!!
ResponderExcluirFesta de São João no interior de São Paulo é algo raro... (talvez eu é que não vá quando há oportunidade, quem sabe? XD)Mas temos nossas festas nesse mês também, nada tão bom quanto o descrito. Na que fui, não pude ficar me enrolando em edredons depois que acordei, tive escola no outro dia... Acordar as cinco da manhã, depois de voltar tarde é fogo! De qualquer jeito foi divertido...
Beijos!
Olha a cobra! AHHH!!!!
ResponderExcluirÉ mentira!
HAHAHAHAHAHAHAHA
Deve ter sido muito legal.