25 de novembro de 2011

Na sua estante: todos os caminhos levam a Roma






#094: Todos os Caminhos Levam a Roma (ou "de noite todos os gatos são pardos")
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Luís engoliu em seco ao sentir o coração descompassar, o ritmo errático em tempo com as duas figuras que tinham acabado de aparecer à entrada do salão. A penumbra era pesada para que ele pudesse reconhecê-las, a despeito do fato de que estava num lugar de visão privilegiada do acesso. Mesmo assim, ele sabia que ela tinha acabado de chegar.

Passara boa parte do dia considerando seus planos para aquela noite e, desde que chegara à festa, estivera armando-se com o que havia de mais próximo de um elixir da coragem: vodca pura.

Obviamente alguém se esquecera de avisar aos organizadores da festa – dentre os quais os três Neros de cara feia que ele tinha visto desde que chegara – que aquela não era a bebida de preferência dos romanos. E tampouco os inúmeros e coloridos drinques que dois garçons faziam numa mesa não muito distante dele.

Fosse como fosse, o importante é que ele juntasse coragem suficiente para fazer o que tinha de ser feito. E era bom que isso acontecesse logo, porque sabe-se lá o que poderia acontecer com Beatriz numa festa daquelas.

Respirando fundo, ele começou a se encaminhar na direção dela. Obviamente, a outra figura numa túnica grega ao lado de Bia era Sofia. Estava escuro demais para que ele pudesse tentar reconhecê-la – ainda por cima fantasiada – mas era certo que onde uma estivesse, a outra estaria também.

Só o que tinha de fazer agora era encontrar uma forma de separar as duas, porque era razoavelmente óbvio que Sofia não aprovava quaisquer que fossem suas intenções com a amiga, a julgar pelo recado que lhe dera alguns dias antes.

Num golpe de sorte, um grupo saindo da pista de dança se interpôs entre as duas e, no instante seguinte apenas a dama Beatrice permanecia em seu campo de visão.

Aparentemente, as musas estavam com o poeta aquela noite... ou qualquer outro deus da sorte. Independente de qualquer coisa, porém, aquela era sua chance. Provavelmente sua única chance. Ele não podia errar.

Infelizmente – para Luís – naquele exato momento todos os discursos que tinha cuidadosamente planejado e ensaiado desapareceram de sua cabeça. Pior: no movimento da turba entre eles e a pista de dança, eles foram quase que empurrados um contra o outro.

O tempo parou. Havia qualquer coisa de estranha no ar, um ligeiro senso de... um ligeiro senso de...

Luís balançou a cabeça. Não podia deixar passar essa oportunidade! Não podia simplesmente ficar encarando os olhos dela por trás da máscara! Tinha de dizer alguma coisa! Ou se não dizer, ao menos fazer alguma coisa!

Se não tivesse entornado pelo menos uns três copos de vodca, ainda que sabendo não estar acostumado com bebidas, Luís talvez tivesse parado por tempo suficiente para entender o que estava fazendo e porque havia qualquer coisa de subitamente errada naquela situação. Como era tarde demais para tais considerações, só restaria a ele no dia seguinte uma dor de cabeça fulminante combinada com o sentimento da maior mortificação pela qual passaria na vida.

Mas estou me adiantando. Ainda não é o dia seguinte. Assim foi que, fechando as mãos sobre os pulsos dela, Luís beijou sua dama.

E este será outro personagem dessa história que jurará nunca mais colocar um pingo de álcool na boca. André e Luís poderiam começar um clube se algum dia tivessem a oportunidade de trocarem suas histórias. Mas isso depois...

... depois, claro, dele ter percebido que agarrara a garota errada.



A Coruja


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5 comentários:

  1. AHAUSHUAHSUHA eu sábia q ia da nisso!!

    Bjs, gaby

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  2. Mas como você gosta de maltratar seus personagens... - -"

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  3. Sonhos de uma noite de verão all over again.... Sabia que ia acabar rolando algo quando elas trocaram de fantasia....

    XD

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  4. Eita que essa festa tá dando o que falar... rsrsrs

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  5. Isso ta ficando cada vez melhor, mas estou lendo de traz pra frente! O_º

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