12 de outubro de 2010

Desafio Literário 2010 - Outubro: Lição de Vida



Dewey não era especial porque tinha feito alguma coisa extraordinária, mas porque ele era extraordinário. Era como uma dessas pessoas aparentemente comuns que, depois que você conhece melhor, se destacam da multidão. Há aqueles que nunca faltam a um dia de trabalho, que nunca se queixam, que nunca pedem mais do que seu quinhão. São aqueles raros bibliotecários, vendedores de carros e garçonetes que propiciam um excelente serviço por princípio, que vão além das atribuições, pois têm uma paixão por suas tarefas. Sabem o que pretendem fazer na vida e o fazem excepcionalmente bem. Alguns ganham prêmio; outros ganham montes de dinheiro; a maior parte é tida como certa. Os atendentes de loja. Os caixas de bancos. Os mecânicos. As mães. O mundo tende a reconhecer o exclusivo, o sonoro, o rico, o que trabalha em causa própria, mas não aqueles que fazem coisas comuns admiravelmente bem. Dewey veio de origens humildes (um beco em Iowa), sobreviveu a uma tragédia (uma caixa de coleta congelada) e encontrou seu espaço (uma pequena biblioteca municipal). Talvez essa seja a resposta. Ele encontrou seu lugar. Sua paixão, seu objetivo, era tornar esse local, não importa quão pequeno e fora de mão pudesse parecer, um lugar melhor para todo mundo.


Confesso que sou uma manteiga derretida. Choro à toa com filmes, com livros, com músicas. Mas desafio qualquer um a ler Dewey: um gato entre livros até o final e não se sentir emocionado.

Ganhei esse livro mais ou menos um ano atrás, da Ísis. Ele estava na pilha para ler no começo do ano, mas aí entrou na minha lista para o Desafio Literário e eu o enfiei na estante para só tirá-lo em outubro. Quase me arrependo de não ter lido antes – mas como nunca é tarde demais, fico feliz de tê-lo lido agora.

Dewey conta a história real da relação de Vicki Myron, bibliotecária-chefe da Biblioteca Pública de Spencer, no Meio-Oeste americano, com Dewey Readmore Books, um gato encontrado na caixa de coleta da biblioteca na noite mais gelada do ano, que sobreviveu e tornou-se mais que um mascote, o símbolo de uma cidade, de um povo, de solidariedade.

Na verdade, o livro trata mais do que a relação de Vicki e Dewey, mas da inserção do gato na comunidade e memórias da vida de Vicki. O tom é intimista – me lembrou bastante a forma como a história é contada no livro do mês passado no Desafio, A Sociedade Literária e a torta de Casca de Batata. Eu tive a impressão de estar na biblioteca, de ter tido o prazer de ser escolhida por Dewey para tirar uma soneca em meu colo, de ter caminhado pela Grand Avenue e ouvido a história do Grande Incêndio enquanto tomava chá com biscoitos no Sister’s Coffe. Você termina o livro com a impressão de que conheceu pessoalmente todos aqueles personagens.

Mas qual é a grande lição que se pode tirar de um livro em que um gato é a estrela do show? Adotem gatinhos que eles farão sua vida mais feliz?

Acho que a história de vida de Dewey – e Vicki e a inteira cidade de Spencer incidentalmente – é a capacidade de se importar, de ultrapassar obstáculos, de sobreviver mesmo nas situações mais difíceis, de lutar por aquilo que se acredita e, claro, de união.

Bem diz o ditado que ‘a união faz a força’ e Dewey seguiu como um ponto de inspiração e união da comunidade, especialmente numa época crítica, como a Depressão da década de 80, que em Iowa atingiu de forma ainda mais forte os agricultores familiares, que compunham quase toda a população da região.

Terminei o livro com vontade de adotar um gatinho vira-lata. Contudo, moro em apartamento; eu e minha mãe somos alérgicas e ela não suporta gatos. Mas tenho certeza que até ela se apaixonaria por Dewey.

E como não se apaixonar?

Curiosidades

Biografia de Dewey no site da Biblioteca Pública de Spenser

Nota: 5
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: Dewey: um gato entre livros
Autor: Vicki Myron
Editora: Globo
Ano: 2008
Tradutor: Helena Londres
Número de páginas: 272



A Coruja


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6 comentários:

  1. independente se a pessoa gosta ou não de gato, a história de dewey vale a pena ser lida. gosto muito da abordagem da autora, que não se coloca como a salvadora e sim como a resgatada, e compõe a narrativa como um tributo ao dewey.

    vc disse bem, ele catalisou a união numa comunidade pobre afetada pela recessão, deu-lhe uma identidade. é uma história emocionante!

    [e tenho duas cópias do livro, lol!]

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  2. Huahuahuahua... por que duas???

    Pois é, eu amei o livro e como você mesma colocou, a Vicki coloca isso de ter sido resgatada pelo Dewey - na verdade, quase todo mundo ali foi resgatado por ele.

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  3. é que comprei logo que saiu, graças a uma resenha de amiga que tem quase os mesmos gostos que eu, e depois ganhei de outra amiga que conhece meus gostos.
    :oD

    mas uma das cópias está emprestada no esquema "qualquer dia te devolvo"...

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  4. Olá! Parece-me uma história deliciosa de ler, principalmente, pelo componente afetivo. A leitura resultou em uma ótima resenha. Bacana
    Beijocas

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  5. Não gosto mutio de gatinhos, mas o livro parece ser bom. E a capa é tri tbm!!!
    Otima resenha!!

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