28 de maio de 2022

A Vertigem das Listas: Dez Cenas Impactantes Debaixo de Chuva


Ísis: Começo o Vertigem desse mês avisando que tem spoilers em quase todas as indicações adiante. You have been warned. Dito isso, pergunto-lhes quem já parou para perceber o quanto as culturas do mundo enaltecem a água? Nossos povos originários tinham rituais sagrados em rios, o banho era algo frequente e uma conexão com o natural. Em lugares mais secos como nos desertos do oriente médio e norte da África, a água era(é) um bem comum a ser compartilhado até mesmo com desconhecidos visitantes, e a arquitetura coloca no centro as fontes de água. Na Índia, que também tem um grandes desertos, e que foi dominada pelos muçulmanos durante alguns séculos, muitas das construções seguem o mesmo padrão. A vida em comum fora em torno de onde existe a água… As grandes cidades do mundo muitas vezes encontram-se perto de onde há grandes fontes desse líquido, especialmente nas regiões costeiras.

Mas a água vem de várias formas, e também é capaz de alcançar nossos sentimentos de diferentes formas também. A primeira neve muitas vezes é inesquecível, ou a primeira descida numa pista de ski, ou o primeiro banho em águas cristalinas naturais, ou a primeira vez que se ouve o mar. Aliás, ouvir o mar é um privilégio o qual nunca desprezarei, pois há algo ritualístico, purificador, que alenta e até mágico só em ouvir as ondas irem e voltar e o vento soprar. Da mesma forma, a chuva pode significar tanto a esperança e o renascimento, quanto o desastre quando vem em excesso nós lugares que não estão preparados para recebê-la. De uma forma ou de outra, a água faz parte de toda a vida, e esse mês nós a homenageamos com Dez Cenas Impactantes Sob Chuva/Precipitações.

1. Uma das cenas que mais me ficaram na memória feito tentáculo de lula foi do anime Tsubasa Chronicles (também tem no mangá de origem, Tsubasa Reservoir Chronicles). A cena em questão é quando (o clone d)a princesa Sakura acorda e não reconhece (o clone de) Syaoran, apesar de todas as lembranças que (os originais) construíram enquanto cresciam juntos, e apesar de todo o trabalho que ele ele teve em protegê-lo. Como ele está tentando recuperar as memórias de Sakura - memórias cuja presença de Syaoran foi extirpada por ser o preço a pagar para que ela não morresse - não é surpresa que ela não lembre dele dado que mal lembra de qualquer coisa, muito menos de alguém que lhe foi apagado para sempre. É apenas nesse momento, quando ela enfim acorda e pergunta quem ele é, que fica óbvio o que ele perdeu. Pouco depois o vemos ir para fora onde está chovendo muito, e fora a trilha sonora fantástica de Yuki Kajiura, os três kudos dos nossos heróis (representações em forma de animais do espírito de cada pessoa) aparecerem e o protegerem da tempestade é de cortar o coração.


2.Não é nenhuma cena clássica nem uma obra prima, mas existe uma cena que muito fixou na minha memória de criança. Sempre detestei acordar cedo, mas sábado de manhã fazia-o por vontade própria para poder assistir à sucessão de desenhos dos quais gostava na época, a começar por Where in the World Is Carmen Sandiego?. Não sei se era o terceiro, quarto ou sei lá em que ordem eu assitia todos aqueles programas numa manhã só, mas em algum momento passava o clássico desenho dos X-Men. Esse e o contemporâneo Spider-Man foram meu primeiro contato como universo Marvel, embora não tivesse consciência disso à época, e até hoje uma personagem que curto muito é a Tempestade/Storm.

Gosto dela por muitos motivos diferentes, desde sua aparência, passando pelas suas raízes africanas, sua personalidade calma, e culminando nos seus poderes de controlar os elementos da natureza. Como ambientalista, isso é um sonho para mim! Pois bem, em uma dupla de episódios, descobrimos que ela é não só uma princesa de sua tribo (pelo menos nesse universo), como é obrigada a manter a calma o tempo inteiro ou pode perder controle dos seus poderes e jogar todo o ecossistema da Terra em risco. Quanta responsabilidade, hein? Entretanto, alguém tenta atacá-la e controlá-la, e a certo ponto conseguem. Não lembro se já estava chovendo quando ela é dominada, ou se começa depois justamente quando ela não está mais no controle de si mesma, mas lembro até hoje como me foi chocante ver a rainha da natureza ensopada e caindo do céu. Era como um prelúdio ao que passamos hoje: sem controle do que fazemos, podemos romper todo o delicado equilíbrio desse planeta. Questiono-me se eu já entendia isso desde então…

3. Outra cena que me cortou o coração em animes foi em Full Moon wo Sagashite. Essa cena não existe no mangá, somente na versão animada, e trata-se do momento que Miyuki, a protagonista órfã de apenas 12 anos, descobre que a pessoa por quem está esperando voltar de outro país - aquele que mais amou e seu melhor amigo - morreu num acidente de carro. Isso ocorre mais ou menos no meio do anime, quando já está bem claro que Miyuki, condenada a morrer em menos de um ano devido ao câncer que tem na garganta, só está lutando para sobreviver porque quer rever seu amado. A montagem da cena e a forma como ela descobre e reage são de partir o coração, e dão-se em meio a uma nevasca.

4. Alguém já assistiu Fruits Basket? Tanto a primeira versão que só teve 26 episódios (porque o mangá ainda estava sendo publicado e nem na metade da história estava), quanto a mais recente que animou desde o primeiro até o último volume do mangá, incluem a cena em que é revelado a Tohru a "verdadeira"/outra forma do gato - meu amado Kyo. O pai adotivo do rapaz, numa tentativa de ajudá-lo a se libertar de certas correntes, sorrateiramente retira a pulseira de Kyo, revelando sua “verdadeira forma”, um monstro fedorento. Essa cena e a que se segue é particularmente marcante em qualquer versão dessa linda história, e se passa toda sobre chuva, aumentando a tensão e o drama entre os personagens principais.


5. Eu queria adicionar uma cena de algum seriado chinês, mas de repente notei que nenhuma das melhores cenas realmente envolve chuva. Será que a percepção da chuva como elemento dramático é algo mais ocidental? Se for, então o Japão deve ter importado essa ideia, porque há vários animes com cenas marcantes sob chuva, e uma delas é de Ouran High School Host Club. Já mencionei esse mangá/anime algumas vezes, e especialmente gosto dos gêmeos. Pois há uma cena em ambas as mídias onde Hikaru, o gêmeo mais velho, descobre que a protagonista tem medo de trovões. Pouco antes dessa cena, que ocorre quando estão presos pela chuva numa igreja, os dois haviam brigado, e Hikaru ainda está enciumado. Toda a raiva que ele tem vai pro espaço quando ele vê a sempre calma Haruhi encolher-se de medo ao ouvir um enorme estrondo. Essa cena é marcante não só pelo típico "cavalheirismo" que há nesse tipo de situação onde um mocinho cuida de uma mocinha, mas também porque mostra um lado carinhoso de Hikaru, um personagem que até então só é mostrado como alguém que apronta e diverte-se deixando outras pessoas loucas, bem, outras pessoas fora seu irmão mais novo, Kaoru, que é o único até então capaz de amansar Hikaru, e a quem o mais velho dedica seu raro afeto.



Lulu: Nossa, tem nada mais dramático que uma boa cena na chuva, dá até aquela respiração suspensa, aquele momento de corações partidos ou libertação… Olhei o tema e já me veio meio mundo de cenas à mente…

6. Claro que eu não poderia deixar de começar com a declaração de Mr. Darcy na adaptação de 2005 para Orgulho e Preconceito, da Jane Austen. Sou do time que prefere a adaptação de 95, a série da BBC, mas não desgosto do filme e essa é uma das minhas partes favoritas dele.


É curiosa a contradição emocional dessa cena, visualmente arrebatadora para o espectador, enquanto desastrosa para o personagem, com a incapacidade do Darcy de compreender o quão ofensivo foi para Lizzie. Enfim, inesquecível.

7. Há algo mais icônico que Gene Kelly na mais famosa cena de Cantando na Chuva? Gosto muito desse filme, volta e meia estou cantarolando as canções dele (e não apenas Singing in the Rain) e acho que todo mundo que já assistiu essa pequena obra-prima já fantasiou pelo menos uma vez em recriar a cena. Adoro, adoro!


8. No primeiro Jurassic Park, há um momento na chuva que é de tirar o fôlego e deixar todos os cabelinhos em pé. É um recurso batido, mas, bem, era o primeiro filme da franquia, a gente ainda estava tonto com a forma como tinham trazido os dinossauros de volta a vida, o carro quebrou, saídas da ilha estavam impossibilitadas, e aí… descobrimos que estamos presos bem na frente da jaula de ninguém menos que… o Tiranossauro Rex.


Pai do céu, eu me lembro do desespero de ver essa cena pela primeira vez…

9. A espera no ponto de ônibus em Totoro é, num só tempo, hilária - duas menininhas aguardando o ônibus debaixo do seu guarda-chuva e, de repente, naquela cena bastante comum, infiltra-se uma criatura mítica, que também veio esperar o ônibus - ou, melhor dizendo, o Catbus.


A primeira vez que assisti Totoro, tive uma ligeira impressão de que, naquele momento, a coisa toda viraria um show dos horrores (vovó, que dentes grandes você tem…), mas no minuto seguinte, Totoro (que quase parecia ter saído de um pesadelo) começa a se divertir e brincar com o barulho da chuva. E aí descubro que todas as minhas expectativas foram viradas do avesso.

10. Fecho hoje com a majestosa imagem de Simba assumindo seu lugar como rei após o duelo com Scar em O Rei Leão. Caramba, é uma cena muito maravilhosa, a trilha imponente ao fundo, Simba subindo mancando a Pedra do Rei, a chuva lavando o sangue, a alma de uma nação, e então, o rugido! Essa cena faz o coração explodir no peito, minha gente!



Ísis: Andei lendo Jane Austen com uma amiga e assistimos ao filme juntas. Definitivamente essa cena do Darcy é uma das primeiras que me veio à cabeça, mas sabia que iria querê-la. ^.~

Já a do Simba é super impactante e eu nem lembrava… Excelente escolha!

Bem, essas foram as nossas indicações, mas há infinitas cenas com chuva, pois esse é um recurso frequentemente utilizado por várias mídias. Qual será a sua cena na chuva preferida? Por favor, conte-nos!

E até o próximo vertigem!


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Um comentário:

  1. O confronto final de Deckard e Roy, sob a chuva intensa, no filme Blade Runner (1982), é uma cena que me impactou quando a assisti pela primeira vez no cinema e ainda mexe comigo sempre que é mencionada ou até mesmo quando me lembro dela!

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