27 de dezembro de 2014
Conversas Sobre o Tempo: Tchau, 2014
Lulu: E chegamos àquela época o ano em que colocamos na balança tudo aquilo que aconteceu, fazemos nossa retrospectiva dos fatos que assistimos acontecer e que de alguma forma nos afetaram.
E, caramba, 2014 foi um ano (e ainda estás sendo) cheio de acontecimentos, perdas e complicações – e, creio eu, ele foi assim para todo mundo.
Da minha parte, não vou dizer que foi um ano tranquilo pra mim – tive alguns homéricos estresses com prazos no trabalho por problemas de sistema ou de comunicação; recebi algumas surpresas em questões de saúde que não foram muito legais e completei a carga com a descoberta de que papai terá de fazer uma angioplastia.
Mas houve compensações. Tive o prazer de ir encontrar com o Dé e a Ísis em Fortaleza e, depois, de receber a Ísis cá no Recife e me dei de presente de aniversário uma nova travessia do Atlântico, dessa feita, para conhecer a Escócia.
Ísis: Que devia ter sido feito com a Ísis também, porque falta isso em sua vida. E falta Lulu na minha. E faltam escoceses de kilt em ambas as nossas... XP
Lulu: Ficará para a próxima vez... ;)
Cumpri muitas das metas que tinha estabelecido para mim esse ano, inclusive com meus problemas de sedentarismo (embora as constantes chuvas não tenham ajudado muito).
Mais interessante que nossas questões pessoais foi tudo o que aconteceu com o mundo ao longo desses doze meses.
O mistério do avião que desapareceu em março gerou teorias de conspiração mirabolantes e até o momento não há qualquer indício do que realmente aconteceu; Putin continua sendo o bicho-papão dos pesadelos de todo mundo que observa a política internacional, o ebola assustou muita gente (e continua assustando), mas, muito mais assustador foi o crescimento do ISIS (Ísis: Oi?! Lulu: Não, Ísis, não estamos falando de você...), renomeado Estado Islâmico.
É desesperador observar a forma como essa gente manipula a religião – as decapitações transformadas em espetáculo público na região entre Síria e Iraque; o sequestro de mais de duzentas garotas na Nigéria pelo Boko Haram; o massacre de crianças na escola palestina.
Ísis: Eu estou aguardando ser levada para a sala de inquisições na minha próxima viagem internacional que exija visto... O pior de tudo, porém, é ver que eles usam uma religião tão bonita (sim, a religião muçulmana, pelo que tenho visto com meus colegas muçulmanos aqui, é muito respeitosa e bonita) como desculpa para cometer tantas injustiças (COM MEU NOME!!!! >.<). Não que cristãos não tenham feito/façam a mesma coisa, mas o caso está realmente sério. Um dos meus melhores amigos aqui é sírio, pra completar, e ver as dificuldades psicológicas a que tanto ele, quanto a minha amiga venezuelana estão passando em um tormento...
Lulu: E isso tudo é desesperador especialmente porque, diante de ações como essas e da falta de conhecimento geral, o terreno se torna fértil para o preconceito. E o problema aqui não é a religião - isso tem de ficar em claro – mas as pessoas que se apoderam do discurso religioso para justificar sua barbárie.
Esse preconceito e esse discurso religioso têm alimentado a guerra na Síria, o conflito nas fronteiras do Iraque, e o retorno das hostilidades entre Israel e Palestina.
Preconceito também tem sido a palavra de ordem da vez nos Estados Unidos, onde policiais brancos foram absolvidos pelo júri – ou sequer chegaram a ser considerados para julgamento – em dois casos envolvendo a morte de negros, um baleado e outro estrangulado.
Os protestos por lá têm sido diários, alguns mais outros menos pacíficos e recentemente se transformaram em vingança com o assassinato de dois policiais. Décadas após a grande luta pelos direitos civis, percebe-se que, na verdade, ainda há muito pelo que batalhar.
Ísis: Mas, eu creio que sempre haverá, na verdade. Direitos conquistados traduz-se em direitos postos em papel; entretanto, concretizá-los sempre será, obviamente, a parte mais desafiadora. Considerando que muitos países, inclusos Brasil e EUA, hoje, consistem em uma mistura de vários raciocínios, vivendo sob a mesma lei, mas em diferentes “realidades”, conflitos são quase que uma demanda. Triste, mas creio que não teremos mudança nisso.
Lulu: Sim, eu concordo com você... Mas isso não significa que não ansiemos por algum tipo de utopia em que esse tipo de situação não exista mais...
Mas, enfim... Pelo menos uma notícia boa nessa confusão toda: com a reabertura de relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba, podemos dizer que de fato se deu o ponto final na Guerra Fria. Não temos como prever o tipo de consequências que essa reaproximação vai ter, mas podemos torcer pelo melhor, não?
E aí, chegamos ao Brasil.
2014 foi ano de Copa. Eu sou normalmente indiferente a futebol e não fiquei particularmente deprimida pela goleada que nossa seleção levou da Alemanha – o que me espantou mais foi não terem levado uma lavada bem antes.
Ísis: Afe! Eu também nem sou aficionada em futebol, mas fiquei uma semana (e meia?) meio pra baixo depois daquilo... Tomara que dê pra devolver daqui a uma (quem sabe?) ou duas copas... Eu sei que é um evento econômico (e o que não é?), mas a ideologia que usam é bastante bonita. Adoro a ideia de “fair play”, de jogar por jogar, aproveitar e não manter rancor depois. Rivalidade, OK, rancor, definitivamente não.
Lulu: Mas, morando numa das cidades sede, eu tive o prazer de servir de intérprete em restaurante e de ser parada no meio da rua para dar uma de guia e oferecer direções. Fomos inundados por estrangeiros e a experiência que tive com eles – até porque meu trabalho é do lado do hotel em que as seleções se hospedavam – foi muito positiva, de gente alegre e educada.
Os japoneses, em especial, deram um show de gentileza e simpatia.
Ísis: \o/
Lulu: 2014 foi também ano de eleições. Vou dizer que fiquei surpresa (e um pouco assustada) com o engajamento do povo. Não me lembro, nos meus poucos anos como eleitora – essa é apenas minha terceira eleição para presidente desde que tirei o título – de uma temporada política com tanta gente de cabeça quente.
Protestar é algo excelente, especialmente com tanta falcatrua que tem sido posta a descoberta (e esse ‘petrolão’, hein?), tantos desvios e tanta coisa que nos falta em termos estrutura e infraestrutura. Mas me parece muito estranho que tenha gente que saia no tapa e acabe com amizades de anos por candidatos que fora do púlpito e do debate, vão agir como se nada tivesse acontecido.
Esse foi um dos muitos motivos de não ter me manifestado no período das eleições, exceto em conversas pessoais e com pessoas que conheço como tolerantes. Não ataco ninguém pelo voto que elas tenham e espero, no mínimo, não ser atacada pelo meu voto. Acho que debater política é algo saudável e essencial, mas é necessário respeito e entender que nem todo mundo compartilha sua opinião.
Ísis: Na verdade, discutir política (quase) sempre gera discórdia. Achei sensacional que tenha gente se manifestando, engajando, protestando. Como somos diferentes, sempre haverá razões para protestar, algumas mais sérias que outras. Mas a partir do momento que os movimentos partiram para agressão, e que os policiais também o fizeram, tudo perdeu o sentido e a representação que tinham, pelo menos para mim, até então.
Concordo com você nesse aspecto. Precisamos aprender a conviver com essas diferenças ideológicas.
Lulu: Sim... O que colocou muita lenha na fogueira foi o repentino desaparecimento do Eduardo Campos. Sua morte trágica acabou fazendo os números mudarem completamente e aí todo mundo que achava que ia ter vitória fácil caiu na campanha e o nível não simplesmente baixou: despencou.
De uma forma bastante generalizada e talvez, até ingênua, creio que 2014 foi um ano em que faltou diálogo, faltou planejamento, faltou tolerância, faltou respeito, faltou solidariedade. Mas foi um ano de crescimento e de luta por liberdade, por direitos, por dignidade. Foi um ano de amadurecimento pra nós, para o Brasil e para o mundo.
Como todos os anos, foi um de altos e baixos. E aqui, só no resta esperar que 2015 seja um ano melhor. Um ano com um pouco mais de paz, um pouco mais de compreensão. Vamos esperar pelo que vem por aí.
E, caramba, 2014 foi um ano (e ainda estás sendo) cheio de acontecimentos, perdas e complicações – e, creio eu, ele foi assim para todo mundo.
Da minha parte, não vou dizer que foi um ano tranquilo pra mim – tive alguns homéricos estresses com prazos no trabalho por problemas de sistema ou de comunicação; recebi algumas surpresas em questões de saúde que não foram muito legais e completei a carga com a descoberta de que papai terá de fazer uma angioplastia.
Mas houve compensações. Tive o prazer de ir encontrar com o Dé e a Ísis em Fortaleza e, depois, de receber a Ísis cá no Recife e me dei de presente de aniversário uma nova travessia do Atlântico, dessa feita, para conhecer a Escócia.
Ísis: Que devia ter sido feito com a Ísis também, porque falta isso em sua vida. E falta Lulu na minha. E faltam escoceses de kilt em ambas as nossas... XP
Lulu: Ficará para a próxima vez... ;)
Cumpri muitas das metas que tinha estabelecido para mim esse ano, inclusive com meus problemas de sedentarismo (embora as constantes chuvas não tenham ajudado muito).
Mais interessante que nossas questões pessoais foi tudo o que aconteceu com o mundo ao longo desses doze meses.
O mistério do avião que desapareceu em março gerou teorias de conspiração mirabolantes e até o momento não há qualquer indício do que realmente aconteceu; Putin continua sendo o bicho-papão dos pesadelos de todo mundo que observa a política internacional, o ebola assustou muita gente (e continua assustando), mas, muito mais assustador foi o crescimento do ISIS (Ísis: Oi?! Lulu: Não, Ísis, não estamos falando de você...), renomeado Estado Islâmico.
É desesperador observar a forma como essa gente manipula a religião – as decapitações transformadas em espetáculo público na região entre Síria e Iraque; o sequestro de mais de duzentas garotas na Nigéria pelo Boko Haram; o massacre de crianças na escola palestina.
Ísis: Eu estou aguardando ser levada para a sala de inquisições na minha próxima viagem internacional que exija visto... O pior de tudo, porém, é ver que eles usam uma religião tão bonita (sim, a religião muçulmana, pelo que tenho visto com meus colegas muçulmanos aqui, é muito respeitosa e bonita) como desculpa para cometer tantas injustiças (COM MEU NOME!!!! >.<). Não que cristãos não tenham feito/façam a mesma coisa, mas o caso está realmente sério. Um dos meus melhores amigos aqui é sírio, pra completar, e ver as dificuldades psicológicas a que tanto ele, quanto a minha amiga venezuelana estão passando em um tormento...
Lulu: E isso tudo é desesperador especialmente porque, diante de ações como essas e da falta de conhecimento geral, o terreno se torna fértil para o preconceito. E o problema aqui não é a religião - isso tem de ficar em claro – mas as pessoas que se apoderam do discurso religioso para justificar sua barbárie.
Esse preconceito e esse discurso religioso têm alimentado a guerra na Síria, o conflito nas fronteiras do Iraque, e o retorno das hostilidades entre Israel e Palestina.
Preconceito também tem sido a palavra de ordem da vez nos Estados Unidos, onde policiais brancos foram absolvidos pelo júri – ou sequer chegaram a ser considerados para julgamento – em dois casos envolvendo a morte de negros, um baleado e outro estrangulado.
Os protestos por lá têm sido diários, alguns mais outros menos pacíficos e recentemente se transformaram em vingança com o assassinato de dois policiais. Décadas após a grande luta pelos direitos civis, percebe-se que, na verdade, ainda há muito pelo que batalhar.
Ísis: Mas, eu creio que sempre haverá, na verdade. Direitos conquistados traduz-se em direitos postos em papel; entretanto, concretizá-los sempre será, obviamente, a parte mais desafiadora. Considerando que muitos países, inclusos Brasil e EUA, hoje, consistem em uma mistura de vários raciocínios, vivendo sob a mesma lei, mas em diferentes “realidades”, conflitos são quase que uma demanda. Triste, mas creio que não teremos mudança nisso.
Lulu: Sim, eu concordo com você... Mas isso não significa que não ansiemos por algum tipo de utopia em que esse tipo de situação não exista mais...
Mas, enfim... Pelo menos uma notícia boa nessa confusão toda: com a reabertura de relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba, podemos dizer que de fato se deu o ponto final na Guerra Fria. Não temos como prever o tipo de consequências que essa reaproximação vai ter, mas podemos torcer pelo melhor, não?
E aí, chegamos ao Brasil.
2014 foi ano de Copa. Eu sou normalmente indiferente a futebol e não fiquei particularmente deprimida pela goleada que nossa seleção levou da Alemanha – o que me espantou mais foi não terem levado uma lavada bem antes.
Ísis: Afe! Eu também nem sou aficionada em futebol, mas fiquei uma semana (e meia?) meio pra baixo depois daquilo... Tomara que dê pra devolver daqui a uma (quem sabe?) ou duas copas... Eu sei que é um evento econômico (e o que não é?), mas a ideologia que usam é bastante bonita. Adoro a ideia de “fair play”, de jogar por jogar, aproveitar e não manter rancor depois. Rivalidade, OK, rancor, definitivamente não.
Lulu: Mas, morando numa das cidades sede, eu tive o prazer de servir de intérprete em restaurante e de ser parada no meio da rua para dar uma de guia e oferecer direções. Fomos inundados por estrangeiros e a experiência que tive com eles – até porque meu trabalho é do lado do hotel em que as seleções se hospedavam – foi muito positiva, de gente alegre e educada.
Os japoneses, em especial, deram um show de gentileza e simpatia.
Ísis: \o/
Lulu: 2014 foi também ano de eleições. Vou dizer que fiquei surpresa (e um pouco assustada) com o engajamento do povo. Não me lembro, nos meus poucos anos como eleitora – essa é apenas minha terceira eleição para presidente desde que tirei o título – de uma temporada política com tanta gente de cabeça quente.
Protestar é algo excelente, especialmente com tanta falcatrua que tem sido posta a descoberta (e esse ‘petrolão’, hein?), tantos desvios e tanta coisa que nos falta em termos estrutura e infraestrutura. Mas me parece muito estranho que tenha gente que saia no tapa e acabe com amizades de anos por candidatos que fora do púlpito e do debate, vão agir como se nada tivesse acontecido.
Esse foi um dos muitos motivos de não ter me manifestado no período das eleições, exceto em conversas pessoais e com pessoas que conheço como tolerantes. Não ataco ninguém pelo voto que elas tenham e espero, no mínimo, não ser atacada pelo meu voto. Acho que debater política é algo saudável e essencial, mas é necessário respeito e entender que nem todo mundo compartilha sua opinião.
Ísis: Na verdade, discutir política (quase) sempre gera discórdia. Achei sensacional que tenha gente se manifestando, engajando, protestando. Como somos diferentes, sempre haverá razões para protestar, algumas mais sérias que outras. Mas a partir do momento que os movimentos partiram para agressão, e que os policiais também o fizeram, tudo perdeu o sentido e a representação que tinham, pelo menos para mim, até então.
Concordo com você nesse aspecto. Precisamos aprender a conviver com essas diferenças ideológicas.
Lulu: Sim... O que colocou muita lenha na fogueira foi o repentino desaparecimento do Eduardo Campos. Sua morte trágica acabou fazendo os números mudarem completamente e aí todo mundo que achava que ia ter vitória fácil caiu na campanha e o nível não simplesmente baixou: despencou.
De uma forma bastante generalizada e talvez, até ingênua, creio que 2014 foi um ano em que faltou diálogo, faltou planejamento, faltou tolerância, faltou respeito, faltou solidariedade. Mas foi um ano de crescimento e de luta por liberdade, por direitos, por dignidade. Foi um ano de amadurecimento pra nós, para o Brasil e para o mundo.
Como todos os anos, foi um de altos e baixos. E aqui, só no resta esperar que 2015 seja um ano melhor. Um ano com um pouco mais de paz, um pouco mais de compreensão. Vamos esperar pelo que vem por aí.
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