29 de maio de 2012

Clube do Livro (Maio) - A Sombra de Innsmouth

"Innsmouth? Bem, é uma cidadezinha muito da estranha na embocadura do Manuxet. Era quase uma cidade, um porto e tanto antes da guerra de 1812, mas tudo foi ficando muito arruinado nos últimos cem anos. Não tem mais a ferrovia, a B. e M. nunca passou por lá e o ramal de Rowley foi abandonado anos atrás.

Mais casas vazias do que gente por lá, eu acho, e sem comércio digno de menção, fora a pesca de peixes e lagostas. Todos negociam, em geral, aqui, em Arkham ou Ipswich. Eles já tiveram algumas fábricas, mas agora não resta nada, exceto uma refinaria de ouro funcionando de maneira bem precária."
A Sombra de Innsmouth foi o segundo livro de Lovecraft que li e não me decepcionei nem um pouco. O estilo do autor é bem claro neste livro: descrevendo apenas o necessário para que a imaginação do leitor complete as lacunas... normalmente com um resultado assustador.

Nós somos apresentados à cidadezinha pelos olhos de Robert Olmstead, em uma viagem através da Nova Inglaterra. Desde a primeira menção sobre a cidade, a sensação que temos é "Mas o que tem de tão estranho nesta cidade, afinal de contas?". Assim como o protagonista, eu também tive minha curiosidade aguçada pelos rumores sobre Innsmouth; e essa curiosidade mórbida se manteve mesmo depois da apresentação de Joe Sargent, o motorista do ônibus que leva até a cidade, com a típica "aparência de Innsmouth".

É então que chegamos até a cidade... À primeira vista, ela parece ser apenas uma cidadezinha portuária que já faz muito passou de seu auge. Embora a pesca continue estranhamente farta, mesmo em épocas de escassez em áreas vizinhas, a cidade está, por falta de termo melhor, morrendo. Estranhamente, Innsmouth não busca ajuda externa para reverter este quadro, muito pelo contrário, acabam se isolando ainda mais; a xenofobia é um traço marcante de seus habitantes e os vizinhos estão mais do que satisfeitos em não se aproximar da repelente cidade. A sensação de estranheza só se fortalece depois que conhecemos a religião praticada no local, representada pela Ordem Esotérica de Dagon. E para quem conhece as obras de Lovecraft, este nome já deve dizer muita coisa...

Só tomamos consciência real do que se passa na cidade quando somos apresentados ao bêbado da cidade, Zadok Allen, sendo provavelmente o único nativo que não apresenta a tal "aparência de Innsmouth", tantas vezes mencionada no decorrer do livro.

Vemos um velho completamente destroçado pelas experiências que viveu e os juramentos que fez na cidade esquecida por (quase) todos e que encontrou na bebida a única maneira de lidar com isso (lembrando que a história se passa na época da Lei Seca americana).

Essa obra, uma das mais famosas do autor, foi fortemente influenciada pelas crenças de Lovecraft. Um racista ferrenho, Lovecraft tentou colocar em A Sombra de Innsmouth uma representação do que ele acreditava neste ponto, mais fortemente do que em outras obras. Por vários motivos, Lovecraft quase não enviou este livro para publicação, só o fazendo por insistência muito forte de conhecidos e amigos. Mesmo depois do envio, a primeira recusa para publicação e o subseqüente fracasso de vendas depois dela, acabaram com o autor, a ponto de quase fazê-lo parar de escrever. Vale lembrar que ele nunca viu nenhuma obra fazer realmente sucesso. Uma pena, já que este livro é leitura obrigatória para fãs de suspense e terror mundo afora.

O Bode


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