2 de março de 2012
Na sua estante: l'habitude
#109: L'habitude
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Acabara por se tornar um hábito sem que eles sequer se dessem conta. Depois da conversa que colocara as coisas em pratos mais ou menos limpos, ele passara a esperá-la no final das aulas da sexta-feira, quando ela saía das classes direto para o conservatório. Ela passava a tarde ao piano, estreitando os olhos, rabiscando pontinhos e tracinhos em suas partituras, enquanto ele se sentava no chão, as costas apoiadas contra o instrumento, rabiscando seus próprios pensamentos.
Na quarta ou quinta vez desde que tinham começado aquela estranha rotina, Dani viera encontrar a prima e acabara formando seus próprios vínculos com Luís – os dois trocaram pastas de desenhos, cumprimentaram silenciosamente o talento um do outro e na semana seguinte, Dani se tornou mais uma adição à sala do conservatório na faculdade de música, dividindo seus lápis de cor com o rapaz enquanto Sofia produzia a trilha sonora de fundo.
O mais curioso em todo aquele arranjo é que, tecnicamente, eles nunca tinham conversado sobre o arranjo. Na verdade, após a conversa, eles pouco tinham falado, ambos (ou todos, considerando que Dani se tornara um permanente mais ou menos fixo no ‘arranjo’) muito mais acostumados ao silêncio que tagarelices.
Era... confortável. Sofia tinha, inadvertidamente, visto Luís em seu melhor e seu pior – e vice-versa. Era como... como compartilhar um segredo (se fossem ser bastante sinceros, eles realmente compartilhavam um...).
Ninguém realmente estranhou vê-los andando juntos. A única pessoa que poderia achar a repentina amizade dos dois estranha era Beatriz – e Beatriz tinha absoluta certeza que aquela simpatia não era nova, mas datava desde que ela apresentara os dois.
A rotina e o hábito acabariam por significar alguma coisa no futuro... mas, por hora, eram apenas o silêncio e o conforto de uma tácita aceitação.
A Coruja
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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Textos sem diálogos pintam imagens bonitas... Esse ficou de certa forma singelo e agradável. Foi como ler e ver um desenho se formando na mente.
ResponderExcluirEu adoro Na Sua Estante, já mencionei? :p
Eu gostei particularmente de escrever esse capítulo, Rafa (e os seguintes também, porque todos eles estão mais ou menos nesse ritmo, de dar uma espécie de fechamento nos casais de na sua estante e deixar implícito o que há no futuro). Minha vontade era justamente que o capítulo ficasse mais... 'desenhado' - não é uma coincidência a falta de diálogos aqui.
ExcluirEu também adoro escrever Na sua estante ^^
Adoro o Luís! Ele sempre foi o meu preferido do Na sua Estante. Eu sabia que ia acabar me dando bem com ele dentro ou fora da história! ^^
ResponderExcluirEu também achei que você e o Luís iam se dar bem, Dani. Ele é de poucas palavras, e vocês se comunicariam através de desenhos XD Eu consegui ver essa cena direitinho na minha cabeça quando estava escrevendo.
ExcluirQue cena gostosa de ler, Lulu! Silêncio compartilhado é tão bom, tem um quê de cumplicidade tão intenso...
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado, Elise! Parece que consegui passar exatamente a emoção que tinha pensado quando comecei a escrever esse capítulo - já que todo mundo entendeu a idéia por trás da cena. Estou mais que contente!
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