27 de janeiro de 2012
Na sua estante: trocando amores
#104: Trocando Amores
---------------------------------------
Entreabrindo os olhos para encarar a cobertura de folhas em que elas tinham se abrigado logo que a garoa começara, Sofia voltou-se para Bia, que ainda respirava pesado da caminhada em torno do parque.
- Você está completamente fora de forma.
A caçula arqueou uma sobrancelha, embora os lábios tivessem se curvado num meio sorriso.
- Até parece que você também não está sem fôlego. Nós estamos acostumadas a caminhar, não a correr. E você ainda é pior do que eu em termos de atividade física.
- Bem, não sou eu que estou colocando meus pulmões para fora.
- É porque você não teve de correr a mesma distância que eu pra chegar aqui, já que não me esperou enquanto eu amarrava o cadarço.
A musicista fez um gesto com a mão.
- Desculpas, desculpas...
As duas trocaram sorrisos, antes de voltar a encarar a chuva que as pegara desprevenidas. Cinco minutos de silêncio se passaram antes que Bia desse um meio suspiro. Sofia estreitou os olhos, observando a amiga.
- Você anda suspirando demais ultimamente.
- Você está agora contando quantas vezes eu suspiro?
Sofia deu de ombros.
- É um pouco estranho. E da última vez, esse suspirar todo acabou por revelar um admirador anônimo... - cruzando os braços, a mais velha desviou o olhar, ao mesmo tenho em que franzia o cenho – Na verdade, esquece... acho que não quero saber.
Bia riu, um ligeiro rubor tingindo suas bochechas.
- Sério, Sofia? Você não está nem um pouco curiosa?
- Não, obrigada. Você pode ficar com seu admirador secreto.
- Na verdade, eu estava pensando em outra pessoa.
Sofia piscou os olhos.
- Outra? Quantos admiradores secretos você tem, Bia?
Foi a vez de Beatriz dar de ombros.
- Como é que eu vou saber se eles são secretos?
Revirando os olhos, Sofia se encostou ao tronco da árvore que as abrigava.
- Ok. Então... explique-se.
- Você lembra da festa à fantasia?
Reprimindo um calafrio às próprias lembranças referentes àquele evento, Sofia assentiu. Bia, por sua vez, abriu um sorriso.
- Bem... acho que estou apaixonada.
- Por quem? Seu poeta renascentista?
- Não. Pelo deus dos infernos.
Sofia arregalou os olhos, recordando uma outra passagem daquela noite tenebrosa.
‘- Foi uma decisão de última hora. – o rapaz rapidamente se pronunciou – Eu só passei por lá mesmo... Não achei que você já fosse estar em casa.’
De repente, não mais que de repente, tudo fazia sentido...
A Coruja
Arquivado em
contos
na sua estante
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Oi! Você ganhou um selinho de qualidade do Blog da Ana. Confira! http://ideiaampla.blogspot.com/2012/01/selo-de-qualidade.html
ResponderExcluirBeijinhos, Ana Paula