17 de dezembro de 2010

Na sua estante: entrando numa fria maior ainda





#041: Entrando numa Fria Maior Ainda
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Ela ouviu a campainha tocar de forma insistente, quase nervosa. Olhou rapidamente para o relógio na parede da cozinha, enquanto terminava de engolir um biscoito. Quarenta minutos desde que tinha falado com a mãe pelo telefone.

- Isso foi rápido... – ela murmurou para si mesma, já se encaminhando à entrada.

Heitor já estava lá, observando a porta fechada, os grandes olhos verdes fixos, na expectativa. É claro, era sempre assim quando Arquimedes aparecia para visitar. Penélope não conseguia se decidir se tal se devia ao fato de que Heitor fora um presente do professor de literatura ou se porque o amigo chaleirava aquele gato a não mais poder quando estava presente.

- Traidor. – ela resmungou baixinho para Heitor – Você nunca me espera assim à porta quando sou eu chegando.

Finalmente, ela tirou o ferrolho da porta e abriu, para dar de cara, precisamente, com Arquimedes.

Heitor nunca se enganava.

Não, é claro, que ela já não estivesse esperando aquela específica visita depois daquele específico telefonema no início da tarde.

- Você pode me explicar porque minha mãe está presentemente em casa folheando uma revista sobre casamentos enquanto reclama sobre o fato de eu ser um filho extremamente relapso e nunca dizer nada para ela, incluindo coisas importantes como o fato de estar, não sei, noivo?

Nem um boa tarde, um balançar de cabeça, um aceno com a mão. Na verdade, Arquimedes parecia quase à beira de um ataque apoplético; prestes a avançar sobre ela – algo que Penélope não se lembrava de jamais ter visto o amigo fazer, mesmo quando eles eram crianças e ela vivia implicando com ele.

Ela podia compreender o estado geral dele, contudo, especialmente depois de ouvir a última palavra.

- Como assim, “noivo”? – ela perguntou, seus próprios olhos se arregalando.

- Não faço a menor idéia, embora, considerando que ela começou nesse discurso após um telefonema da sua mãe, eu posso bem adivinhar a fonte. – Arquimedes suspirou, fechando os olhos por um momento – O que você fez, Penélope?

- Além de nos colocar numa grande roubada? – ela perguntou – Nada demais. – ela deu um passo para o lado – Escuta, entra aí; não acho que seja muito sensível conversarmos sobre isso no corredor do meu prédio.

Arquimedes não respondeu, mas entrou no apartamento, observando-a fechar a porta enquanto esperava por uma explicação.

Não pela primeira vez, ele pensou consigo mesmo que aquilo era um pesadelo. Ele mal conseguira achar a própria voz quando a mãe se voltara para ele – após uma longa conversa cheia de exclamações pelo telefone – e perguntou quando ele pretendia dizer a ela sobre seu ‘noivado’ com ninguém mais ninguém menos que Penélope.

Ironias cruéis do destino...

- Eu sinto, muito, Arquimedes. – Penélope finalmente se voltou para ele, apoiando-se contra a porta – Eu falei sem pensar... Minha mãe estava me torturando com comentários sobre colegas e primas que se casaram e sobre a necessidade absoluta que ela tem por netos a essa altura de sua vida. – ela suspirou – Eu entrei em pânico em algum ponto da conversa e disse que não ia passar o Natal só na companhia de Heitor e quando ela me pressionou por um nome, eu... eu disse o seu. Mas eu juro que não houve nenhum comentário sobre noivado, eu juro!

Foi a vez do homem suspirar.

- Eu acredito em você. Entre D. Graça e minha mãe, elas são perfeitamente capazes de extrapolar qualquer coisa de suas proporções. O que não muda o fato de que temos um problema.

Penélope assentiu.

- Eu sei. E eu não faço idéia de como consertar. Acho que eu só... devo telefonar ara minha mãe e pedir desculpas por ter mentido. E pedir desculpas à sua mãe também.

Arquimedes deixou escapar um riso resignado.

- Pfff... como se elas fossem acreditar. Penélope, você sabe como as duas são. Agora que elas têm alguma coisa em que se agarrar, vão se aferrar a isso com toda a força.

- E o que fazemos então? – ela perguntou, um brilho de pânico voltando a aparecer nos olhos escuros.

Ele a observou por alguns instantes, pesando as probabilidades de resposta para o que viria a seguir, para o que se instalara na mente dele desde que Penélope o lançara de pára-quedas na frente de Leo para se proteger do ex.

- Bem... – ele fez uma pausa de modo deliberado, respirando fundo antes de soltar a bomba – Nós podíamos tentar transformar sua mentira numa verdade. Seria tão difícil assim sair comigo?

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A Coruja


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2 comentários:

  1. Ahhhhhhhhhh que fofo!!!
    É oficial, o Arquimedes é mto... ahhh que lindo! heuheuheuheuhe
    quero o proximo!!!
    beijos!
    Flávia
    (PS: nada como ter férias... acho que nunca fiquei tanto tempo sem comentar nada... O.o)

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  2. Uhu! Arquimedes criou coragem! \o/

    E como eu sei que Lulu é má, vai nos deixar curiosos pelo menos mais 2 ou 3 semanas até nos mostrar a resposta da Penélope! Isso não se faz com seus fãs fiéis! =P

    Eu REALMENTE tô curioso pra ver como isso termina... xD

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