16 de julho de 2010
Na sua estante: Te sigo com meu olhar
#019: Te sigo com meu olhar
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Ele estava completando quarenta e cinco anos naquele dia. Como diria Mefistófeles, quarenta e cinco... o que fazer desse número?
Arquimedes observou a superfície do copo de refrigerante em sua mão. Quarenta e cinco anos e sua mãe ainda insistia em lhe fazer bolo e servir-lhe coca-cola enquanto entretinha seus amigos – os mesmos amigos, aliás, que tinha desde a infância.
Incluindo, claro, Penélope. Que segurava uma taça de vinho. Vinho, não coca-cola.
Quantos anos ele estava fazendo mesmo?
Ele poderia simplesmente vetar qualquer menção a “só um bolinho” que sua mãe fazia a cada ano. Ou podia sugerir que em vez de ela se dar ao trabalho de ir para a cozinha, eles saíssem para jantar ou coisa do tipo.
O problema é que se dissesse isso – e ele o sabia por experiência própria – partiria o coração de Dona Roberta. E, definitivamente, ele não queria ter de partir o coração da própria mãe. Para todos os efeitos, ainda que fosse conhecida como uma marechal para seus alunos, a mulher tinha um lado bastante... sensível. E Arquimedes não sabia o que fazer quando ela o encarava com aqueles olhos de... olhos de...
Ele tentou pensar numa descrição exata dos olhos da mãe quando ela o encarava com aquela expressão desconsolada que arrancava dele qualquer coisa que ela quisesse. Finalmente chegou a um veredicto: sua mãe tinha olhos de Bambi.
A segunda questão que poderia advir de tentar frear o fervor materno – com a qual tivera de lidar num ano em que se sentira particularmente corajoso e imune aos poderes de Bambi (fora nos quarenta? A crise da meia-idade?? E que homem com o mínimo de auto-respeito ficava pensando em Bambi???) – era ainda mais espinhosa. Ele até poderia sobreviver àqueles grandes e desolados olhos. O que ele não podia fazer era ganhar uma discussão com a mãe quando ela começava com um “se você tivesse arranjado uma esposa, eu não teria de estar fazendo isso”.
Seus olhos voltaram a pousar na figura de Penélope. Arquimedes suspirou.
- E a causa de tudo foi o amor, amigo sempre das mais extravagantes fantasias...
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