13 de novembro de 2009

Carta ao papai Noel


Em homenagem à estréia do layout natalino (gostaram? Coruja não ficou uma graça com gorro de Papai Noel?), temos hoje uma missiva para o bom velhinho. E vocês, o que gostariam de ganhar de presente de natal esse ano?


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Querido Papai Noel:

Esse ano, eu fui uma boa menina. Eu estudei bastante e deixei papai e mamãe orgulhosos quando me formei. Eu até arranjei um trabalho e decidi continuar estudando ao mesmo tempo.

Eu sempre dou bom dia e digo muito obrigada e peço desculpas quando piso no pé de alguém sem querer. Eu nunca piso no pé de ninguém por querer. Eu tento ser educada com todos e até me escondo quando meu temperamento leva a melhor sobre mim, para não explodir com ninguém que não mereça.

Logo, tendo sido uma boa menina o ano todo, eu mereço presente e não carvão nesse natal. Por isso, estou escrevendo para o senhor, porque pode acontecer de o senhor, com tanta gente no mundo, não se lembrar exatamente o que cada um quer.

Esse ano, eu gostaria de ganhar o presente tempo.

Eu sei, Papai Noel, que esse não é um presente fácil de se conseguir. Ou de embrulhar. A não ser que o senhor decida ser um pouco sacana e me dar uma ampulheta... Mas, veja bem, tempo é exatamente o presente que eu preciso agora.

O negócio é... há tanta coisa acontecendo e tanta coisa que eu gostaria de experimentar, de fazer e, a cada dia que passa, eu descubro que o relógio está girando mais rápido e não sei mais para onde o tempo está indo... Todos os dias, eu penso com meus botões que vai dar tempo de fazer um monte de coisas, mas, quando percebo, o tempo acabou e eu não cheguei nem à metade da minha lista.

Eu quero ter tempo para sair de casa no final da tarde e caminhar na areia; observar o pôr do sol – talvez, como bônus, porque eu fui realmente uma boa menina, o senhor possa me dar vários pôr do sol num mesmo dia, como acontece n’O Pequeno Príncipe, que eu tenho certeza que o senhor já leu.

Eu quero ter tempo para viajar; para conhecer o mundo que conheço apenas dos livros – quero ser uma exploradora, quero embarcar numa caravela e sair por aí descobrindo o Novo Mundo.

Eu quero ter tempo para sentar com um bloco de papel e sair juntando idéias, enredos, personagens; quero ter tempo para criar castelos no ar e, simplesmente, para sonhar.

Quero ter tempo para caminhar e não apenas para correr; para ler e reler todos os meus livros favoritos e não apenas pular parágrafos indo direto para as sentenças-chave – quero ler e não fazer leitura dinâmica.

Quero ter tempo para degustar todos os meus pratos favoritos, em especial os doces e não apenas enguli-los com um copo de qualquer coisa que ajude a comida a descer.

Quero poder parar para ouvir música, e apenas isso. Não ouvir música enquanto estou esperando para chegar no escritório, enquanto caminho para a aula, enquanto volto para casa. Nada de enquanto, eu quero poder simplesmente.

Quero ter tempo para dormir até matar o sono, mesmo que esteja acostumada a despertar em horas impróprias por conta do meu relógio biológico maluco – lembrando que estar desperta não implica em estar acordada. Quero ter tempo para assistir o nascer do sol e não sair quicando da cama e correndo para tomar banho, correr para tomar café, correr para terminar de arrumar a bolsa, correr para não perder a carona, correr, correr, correr...

Quero ter tempo para tomar café com todos os supérfluos possíveis – meia lata de chantilly em cima, borda de chocolate, acompanhado de folhado e pão de queijo.

Quer ter tempo de comer ao de queijo de verdade... Ah, pão de queijo...

Quero ter tempo para dar uma de turista na minha própria cidade, para conhecer os lugares que não conheci numa vida toda por aqui. Quero ter tempo para ir ao cinema com um saco gigante de pipoca e não apenas para baixar os filmes em casa e assistir na tela do PC com uma barra de cereal.

Quero até ter tempo para ler meus processos de cabo a rabo, rindo-me dos ridículos e pomposos termos que alguns advogados metidos usam em suas peças; entender porque diabos estou entrando com esse recurso e não aquele, sem ter de engolir um apenas “porque é assim” do Código.

Se bem que talvez isso seja pedir demais... no mais das vezes, os Códigos nem fazem tanto sentido assim...

Quero ter tempo para viver e não apenas para pular de compromisso em compromisso, passando o intermezzo num limbo em que apenas espero pela próxima obrigação, o próximo prazo a cumprir.

Apesar de todos os meus argumentos, talvez o senhor não possa me trazer o presente que eu quero. Eu até entendo. Não significa que fico feliz, mas eu entendo.

Se o senhor não puder me trazer o tempo de presente, então eu me contento com qualquer um dos livros da minha habitual lista de todos os anos. O senhor sabe qual é, todo ano eu lhe mando uma lista de livros que quero de presente de natal. É o que sempre peço. Esse é o primeiro ano em que peço outra coisa.

Eu ficarei muito feliz com a coleção da História da Vida privada, em que estou de olho há tempos. Ou pode ser aquela do clube de livros e da receita das batatas... esqueci agora o título exato, mas você é o Papai Noel, então você sabe qual é. E o último lançamento do Pratchett; em inglês mesmo, eu não me importo. E aquela edição inglesa de Tolkien com quatro histórias em uma que eu vi no outro dia na Cultura. Ou você pode me dar um vale livro que eu faço a feira, o que acha?

Agora, se o senhor insistir, como insiste todos os anos, em contrabandear roupas para o meio dos meus presentes, poderiam ser vestidos? Eu gosto muito de vestidos.

Obrigada por ter lido até aqui, Papai Noel. Eu sei que o senhor é um bom velhinho e, por isso, não duvido que o senhor tenha lido minha carta até o final – o senhor tem uma grande paciência, eu estou até impressionada.

Talvez a gente se veja no Natal. Vou deixar leite e biscoitos para o senhor.

Um grande beijo.



A Coruja


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