11 de agosto de 2009

Histórias de seringa

Hoje, dia 11 de agosto [mês do desgosto] comemoramos o dia do advogado, o dia do estudante e o nascimento do ensino superior no Brasil com os 182 anos da criação dos cursos jurídicos - a Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo e a Faculdade de Direito do Recife (onde estudei), no... hã... Recife.

Então, é, parabéns para os estudantes.

Não vou irromper em histórias advocatícias agora, até porque já fiz isso no post passado. Em vez disso, vou falar sobre seringas, exames e relógios que andam rápido demais.

Eu disse semana passada que estava doente, não é verdade? Bem, eu voltei de Gravatá no domingo com febre e por muito pouco, meus pais não me carregaram para a emergência. Eu e o pessoal da emergência da UNIMED somos já velhos conhecidos, mas como já tinha o médico marcado para segunda de manhã, a febre era baixa e tava todo mundo cansado da viagem, eu disse à mãe que não precisava me carregar para o hospital.

Antes que perguntem, não, não estou com a gripe do porquinho *óinc, óinc*. Sou absurdamente alérgica e todo ano, na temporada de chuvas (também conhecido como inverno) eu fico no funga-funga. Ano passado foi a mesma coisa, a ponto de eu acabar indo parar numa pneumologista.

Em todo caso, segunda, amanheci no médico, que passou uma carreira de exames. De lá, fui autenticar documentos no cartório, para poder fazer minha matrícula na pós-graduação, entrar com o pedido de registro do diploma na Universidade e fazer a inscrição para o exame da OAB.

Minha mãe costuma usar um dito que fala "tá andando mais que notícia ruim, hein?". Pois é, eu andei mais que notícia ruim nesses dois últimos dias.

Entre correr para entregar tudo no campus, entrar na pós, começar a assistir às aulas e recuperar as que perdi semana passada por causa da gripe e fazer os milhares de exames, eu saí de casa às seis da manhã para voltar de quase onze da noite.

Nada disso é particularmente interessante para vocês, então, vou contar uma história. Essa história é real e não aconteceu com um amigo de um amigo meu. Não. Ela aconteceu comigo.

Para uma pessoa que não pode ver nem ouvir história de machucado, bala, facada e etc, é bizarro que goste de tirar sangue. Pior, que tenha crises de riso quando vai tirar sangue.

Sim, eu tenho crises de riso quando faço exame de sangue.

Antes que vocês pensem que sou alguma espécie de psicopata disfarçada que adora ver uma agulha se enfiando por aí, deixem-me contar porque tenho crises de riso quando furam meu braço.

A primeira vez que fiz exame de sangue - ou, ao menos, a primeira em que eu tinha consciência suficiente do meu corpo para compreender o que era uma seringa e o que ela ia fazer no meu braço - eu tinha uns doze para treze anos. Minha mãe me acompanhou, entregou os documentos, foi comigo à salinha de coleta, segurou minha mão trêmula enquanto a simpática moça da seringa se preparava para me espetar...

...e eu estava quase em estado de pânico.

Em algum ponto entre meu suor frio e taquicardia, lembrei-me do adágio popular que diz que "quem canta seus males espanta". E, sem realmente me tocar do que estava ruminando, comecei a cantarolar baixinho apenas uma melodia, meus olhos fixos na seringa vindo em minha direção.

Eis então que minha mãe chama minha atenção:

- Passarinha [pois minha mãe quase sempre me chama assim], você está com medo de morrer nessa cadeira?

Eu olhei para ela, confusa por alguns instantes, até que percebi o significado oculto de suas palavras ao soprar a letra da melodia que eu cantarolava:


Por mais terras que eu percorra
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá!
Sem que leve por divisa
este "V" que simboliza
A vitória que virá...

Nossa vitória final
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil!!!


Caso não reconheçam a letra, esse é o Hino do Expedicionário Brasileiro, uma marcha militar da FEB à época da Segunda Guerra, quando os soldados partiam para lutar na Itália.

Não perguntem onde eu aprendi a cantar essa música e nem de que fundo de baú eu a tirei naquele preciso momento, de forma totalmente inocente e inconsciente. O caso é que toda vez que vou tirar sangue, eu me lembro dessa cena e começo a rir.

Pensando bem, essa não é minha única história com uma seringa... Também tem aquela em que eu quase matei meu irmão, quando tinha sete anos de idade...

Talvez eu seja uma psicopata ao final das contas...

O caso é o seguinte... Quando eu era menor, sempre tinha crises de amígdalas (a bem da verdade, tenho-as até hoje), de forma tal que precisava levar antibiótico na veia para ficar boa. Papai aplicava as injeções.

Numa dessas crises, enquanto eu era medicada, meu caríssimo e gentilíssimo irmão estava presente, rindo e provocando. Ele devia ter uns quatro anos, mas já era bem parrudinho e nós encrencavamos bastante... e como ele era o dobro de mim e mais forte, eu sempre saía dessas encrencas tendo levado uns sopapos.

A mãe mandou ele parar e avisou que se ele batesse em mim, ia levar uma injeção também.

Ela não deveria ter dito isso na minha frente.

No dia seguinte, ainda estava eu na minha convalescença, eu e Felipe discutimos e, óbvio, a coisa acabou no braço. Mas, dessa vez, eu tinha um trunfo. Mamãe dissera que ele seria castigado. Eu seria o braço divino da justiça. Eu o castigaria.

Os remédios (e as seringas, por tabela) ficavam trancados num armário alto na sala. Sendo uma pessoa razoavelmente observadora, eu sabia onde estava a chave... Depois de uma complicada operação envolvendo cadeiras sendo arrastadas, mexer nas coisas do armário, encontrar as seringas, enfiar a agulha numa (elas não vinham já com a agulha) e encher a coisa de água, persegui Felipe por toda casa com minha injeção na mão, até encurralá-lo contra a quina do quarto de nossos pais.

Ele chorava e jurava que nunca mais me bateria. Mas eu sabia que eram promessas vazias e a mãe dissera que ele levaria uma injeção, então, ele levaria uma injeção.

Encontrando uma brecha na guarda dos braços com que ele tentava se defender, enfiei a injeção no músculo e injetei a água.

Bem mais tarde, mamãe me explicou (e exagerou um pouco) que se eu tivesse acertado a veia, poderia ter provocado uma embolia e matado meu irmão. O que não era meu objetivo, de forma alguma. Eu sequer sabia o que era embolia e, definitivamente, não queria matar Felipe.

Hum... tenho de ir me arrumar para a aula. Pessoal, talvez eu suma um pouco por esses dias - estou absolutamente enrolada entre o curso e os estudos para OAB, além de outros projetos em que estou envolvida. Mas assim que eu tiver um tempo, virei aqui escrever para vocês.

Beijinhos!



A Coruja


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2 comentários:

  1. Acho que vou passar a ter medo de si. Injectar água no braço do irmão e rir de agulhas é o cúmulo para mim.

    Eu sou muito medrosa. Principalmente com agulhas.

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  2. Medinho de vc, divido a mesma opinião da Stradivaria

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