8 de abril de 2011

Livros para ler na sala de espera

Quando vocês estiverem lendo isso, estarei em um avião a caminho da terra da garoa. Agora, não posso falar de outras pessoas, mas, normalmente, quando viajo, saio com a bolsa cheia de livros de bolso (hummmm...). Tendo a escolher os livros mais fininhos que eu encontre na estante, que ajudem a passar o tempo enquanto espero – e, num aeroporto, você está constantemente esperando.

Na minha bolsa, hoje, estou com A Inocência do Padre Brown e Nosso homem em Havana. Quando eu voltar, se já tiver terminado, resenho eles. Enquanto isso, ficam as sugestões da minha última sala de espera XD




Cartas a um jovem poeta cabe à perfeição na descrição “livro bem fino”. Sendo bastante sincera, costumo ter um pé atrás com livros muito finos como esse, mas a verdade é que ele te prende desde a primeira linha e no final das contas você quase deixa o médico te esperando até que você termine a próxima página.

Já conhecia Rilke de outras primaveras, mas procurei por esse específico livro após ler a resenha da Mi Müller no Bibliophile.

Apesar de ser um livro maravilhoso, no final das contas, não o recomendo para viagens e salas de espera do dentista em geral. Isso porque Rilke não é uma leitura supérflua. Apesar das poucas páginas, essa é uma obra que pede por um pouco de reflexão e um tanto de seriedade. É um livro que você leva para a vida.

Sabe aqueles livros que parecem que falam diretamente contigo? Que você diz “ei, esse sou eu!”? Que você lê uma vez, depois relê, daí um tempo lembra de uma passagem e lê de novo e a cada leitura ganha uma nova base de interpretação?

Esse é Cartas a um jovem poeta.

O que realmente me espantou ao ler esse volume, contudo, não foi todos os tópicos acima mencionados, mas... a simpatia, a familiaridade e a educação com que Rilke – que já era conhecido à época – rata seu correspondente. Faz você se perguntar que tipo de resposta receberia se escrevesse para escritores badalados de hoje em dia. Claro, se eles se dignassem a mandar resposta.

Bem, as coisas eram diferentes à época, Rilke provavelmente tinha mais tempo que até uma criança de terceira série hoje em dia. Ainda assim, desconfio que independentemente da época e das constrições de tempo, ele seria um daqueles raros casos que unem genialidade e humildade: um exemplo a ser seguido.



Outro livro ridiculamente fino, perfeito para salas de espera.

Há qualquer coisa de muito familiar nesse conto, na estrutura da narrativa, algo que remete diretamente às histórias de Sherazade nas Mil e Uma Noites. Não se trata de uma coincidência - Vathek foi escrito numa época em que o Ocidente em tudo se maravilhava com o exotismo do Oriente.

Curiosamente, eu o achei um livro mais sobre essa visão ocidental que sobre o Oriente mesmo.

É um livrinho curioso, cheio de espaços abertos, de paisagens magníficas – a torre do califa, o despenhadeiro, as cavernas dos anões, a visão infernal ao final. Mas, talvez exatamente pela forçosa comparação com As Mil e Uma Noites, deixa algo a desejar.

Há muito mais encanto e graça na forma como Sherazade tece suas fábulas. Vathek, contudo, deseja impressionar com cenários e ações grandiosas... e acaba pecando pelo excesso.

Fausto, que tem a mesma fundamentação de Vathek - um homem que, seduzido pelo conhecimento, acaba por abrir mão da própria alma – é bem mais interessante, na medida em que o bom doutor tem consciência da escolha que fez, enquanto o califa parece ensandecido, completamente alheio àquilo que não faz parte de sua obsessão.

Fausto é suficientemente humano para que você se identifique e seja capaz de sentir compaixão por ele, ao contrário do califa, que só parece humano quando está prestes a perder sua humanidade.

Enfim, livrinho curioso, que encontrei por indicação do Jorge Luís Borges, que escreveu um ensaio sobre o Inferno de William Beckford em comparação ao de Dante. Recomendado para salas de espera de dentista – o barulhinho da broca ganhará todo um novo significado!



A Coruja


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2 comentários:

  1. Ah que meu coraçãozinho não aguenta isso não, minhas leituras inspirando as tuas é demais hehehehe...
    Báh tu cunhou a frase mais que perfeita: "É um livro que você leva para a vida."
    Concordo contigo, Rilke não é leitura para salas de espera. Nunca tinha ouvido falar Vathek, mas fiquei com uma vontade, mesmo com as ressalvas que tu fez, acho que é porque eu não li nem Fausto (shame on me) e muito menos As mil e uma noites, se bem que este último já faz parte do nosso imaginário mesmo sem a leitura hehehehe...
    estrelinhas coloridas...

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  2. Lembro que li Rilke há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante. Bom post, eu concordo também com o comentário anterior sobre não ser "literatura de sala de espera" ou "de banheiro", rs.

    O que me insteressou aí é: quando teremos G.K. Chesterton? rs

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