22 de outubro de 2010

Na sua estante: Guinevere/Lancelot


#032: Guinevere
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Mariana abraçou os joelhos quando ouviu a porta se fechar, afundando o rosto contra os braços numa posição fetal.

Aquilo tudo era por demais complicado.

Ela gostava Marcos. Tinham sido amigos de infância e namorados a mais tempo do que ela era capaz de se lembrar; suas famílias eram próximas e nada os faria mais feliz que um casamento entre os dois.

E ela nunca precisara questionar o companheirismo e o afeto confortável de Marcos.

Então aparecera André. Ele era mais novo; em muitos aspectos, ainda era quase um menino. Contudo, ele amava com uma perseverança absurda, mesmo quando seu afeto não era correspondido. Por meses, ela estivera consciente da admiração que ele tinha por ela, por meses ela tentara não ceder à tentação, embora se sentisse incapaz de ser mais enérgica quando tentava afastar o rapaz.

Mas como resistir a uma devoção tão ardente, tão cega; como negar que a constância dele acabara por minar qualquer obstáculo que ela pudesse colocar entre eles?

Mariana suspirou, cerrando os olhos. O que estava fazendo com Marcos e André era errado. Mas, se era assim, porque parecia tão certo?


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#033: Lancelot
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André fechou a porta do carro com força, bufando enquanto tentava se secar. A chuva o pegara desprevenido – era realmente sua sorte que o dilúvio começasse no exato instante em que colocasse o pé para longe de um abrigo.

O primeiro espirro foi seguido de uma profanidade, especialmente depois de bater os olhos no relógio e descobrir que já era alta madrugada – ele não queria nem ver o tanto que Beatriz ia falar quando ele chegasse em casa; sorte sua que os pais estavam viajando, ou talvez perdesse os privilégios do carro.

Bem, estava encharcado de qualquer forma, não era como se pudesse fazer alguma coisa. Fechando os olhos, ele encostou a cabeça contra o banco, soltando um suspiro resignado.

Era terrível ter uma consciência.

Ele conhecia Marcos da faculdade, claro. Não chegavam a ser amigos, visto que o outro estava no último ano; mas possuíam muitos conhecidos em comum e já tinham, inclusive, saído juntos para comemorar finais de semestre ou formando um ruidoso grupo em calouradas.

Ele era um cara legal, o Marcos.

No entanto... no entanto ali estava ele, André, deixando a casa da namorada do outro rapaz às quatro da manhã, tentando justificar o injustificável.

Ele era louco. Louco de amores, louco por Mariana. Louco de uma loucura incurável. Ele tentara. Deus era testemunha de que ele tentara resistir, de que tentara ir pelo caminho certo...

Agora era tarde demais para escrúpulos.

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A Coruja


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2 comentários:

  1. Lulu, estou adorando o especial sobre o Rei Arthur e até recomendei para um professor meu que quer escrever um livro sobre ele ^_~

    Fora isso, adorei seu novo avatar!! Muito fofo! *-*

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  2. Eu sou maluca pela série de Avalon, e esse drop sobre André/Mariana me lembrou o final d'O prisioneiro da árvore... =)

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