14 de maio de 2013
180º - Lixo
Oi! Hello! Konnichiwa!
Bem, já me entenderam, e eu espero que não me matem, porque, se mês passado o tema foi estudos, e eu já achava que iriam querer me esfolar, esse mês é pior.
Em maio de 2013, o tema dos 180º é LIXO.
E acho que essa é a hora em que eu preciso arranjar um abrigo antinuclear. Mas vou explicar: menos de 27% das cidades brasileiras realizam coleta seletiva – e já que estamos falando nisso, aproximadamente 50% ainda não têm sequer um aterro sanitário, ou seja, todo o lixo produzido vai direto para um depósito aberto, sem cuidados algum. Horrível, não acham?
Aqui, no Japão, a coisa já foi igual. Entretanto, alguns fatores nos diferenciam em muitos aspectos. Pra começar, mais de 70% das terras japonesas são cobertas por montanhas ou, pior, vulcões, e todo mundo sabe que aqui tem terremoto quase todo dia (em partes diferentes, mas não é raro ouvir “teve um terremoto em Shizuoka”, por exemplo, e no dia seguinte “teve um terremoto em Sendai” etc). Ao mesmo tempo, o nível de consumo aqui, há mais ou menos meio século, é assustador, e incomparável ao Brasil – ainda que nosso poder de consumo esteja aumentando.
Se colocarmos isso em termo matemáticos, seria mais ou menos essa aqui a equação:
pouco lugar para destinar lixo + muito consumo = muito lixo produzido e sem destino.
Vou enfatizar a parte dos terremotos de novo: ter terremotos significa que NADA aqui pode ser pensado de forma simples. Imagina no Brasil, se tivesse terremotos, como ficariam as comunidades (normalmente de catadores) que se formam ao redor dos lixões? Esquecendo por um momento os direitos humanos de que viver num lixão não é uma vida digna etc (muitos fatores socioeconômicos entram nessa discussão), um terremoto médio poderia derrubar facilmente uma das montanhas de lixo, pondo em (mais) risco a população local.
É mais ou menos essa a preocupação em construir QUALQUER coisa aqui, com a preocupação extra de que muita gente e pouco espaço (alta densidade demográfica) dificulta ainda mais as coisas (e tem outros fatores que agora não vêm ao caso).
Todavia, os japoneses são um poço de inovações tecnológicas, e é graças a eles que hoje existem muitas das tecnologias limpas de produção. E foi exatamente assim que solucionaram – “melhoraram” seria a palavra mais acertada, na verdade – o problema com o lixo. Praticamente TUDO aqui é reciclado de alguma forma, principalmente embalagens, que constituem uns 60% ou mais do volume de lixo.
Assim como ocorre no Brasil, toda cidade tem autonomia sobre a coleta de lixo. Entretanto, aqui, desde 2000 está ativa uma lei NACIONAL bastante importante: a Lei sobre reciclagem de embalagens. Seguida dessa, temos a lei sobre reciclagem de eletrônicos, reciclagem de objetos de grandes etc...
Na prática, isso significa que toda cidade TEM que ter coleta seletiva, mesmo que apenas as categorias clássicas (papel, plástico, metal, vidro e orgânico). E sim, toda cidade tem categorias diferentes. Por exemplo, uma das categorias de Kyoto é a de sacos plásticos, ou seja, embalagens plásticas estão numa só divisão (incluindo as garrafas PET), e os sacos plásticos são outra. Além disso, para cada uma dessas classificações, há um tipo de saco correspondente, que também varia conforme a cidade, mas normalmente são transparentes com emblemas em cores diferentes, e são vendidos em qualquer loja de conveniência (as quais existem em TODA ESQUINA, praticamente, e são 24hs), supermercado ou loja de 100 ienes (pense nelas como lojas de R$1,00).
A minha cidade é a que mais tem categorias. Vou citar alguns exemplos: garrafas PET, embalagens de papel (limpas), embalagens de plásticos (limpas, e inclui sacos plásticos), jornais/revistas/livros/etc (tem que amarrar e não misturar tamanhos e materiais diferentes), papelão (tem que amarrar e deixar do mesmo tamanho, ou seja, tem que cortar) etc, lixo queimável (leia-se: orgânico, e os plásticos ou papéis que não puderam ser limpos), lixo não queimável (tipo xícaras, guarda-chuva, tênis etc) dentre outras.
Achou pouco? Pois agora vem a outra parte interessante: tudo tem dia específico. Queimáveis, plásticos, embalagens de papéis (mas não os encadernados) são recolhidos toda semana, em dias específicos. Algumas categorias, porém, são recolhidas apenas uma vez por mês (tipo os não queimáveis, papelão e outros) ou mediante contato (e pagamento) prévio (a exemplo de resíduos grandes, como bicicletas ou sofás).
Em todos os casos, a data de recolhimento é marcada por setor (é como se fossem bairros), e aí vai, por exemplo, no estilo: “primeira quarta-feira do mês”, ou “última sexta-feira do mês” etc.
Tem que estar atento. Se perder o dia/a hora de recolhimento, tem que segurar o lixo até a próxima data (que, a depender da categoria, pode ser só um mês depois). Isso é especialmente frustrante porque, primeiro, no Japão, espaço (leia-se “imóveis”) são caros, então muita gente (especialmente solteiros) moram em lugares pequenos, e guardar lixo nesses lugares ocupa parte desse espaço. O segundo motivo é mais sazonal: se no Brasil, verão é quente, aqui é mais quente e MUITO ÚMIDO. Sério, você SENTE a umidade pesando em você. Agora imagina o que acontece com o lixo orgânico em clima quente e úmido.
VAI FEDER PRA BURRO!!!!!
Experimenta em casa guardar o lixo orgânico por uma semana, preferencialmente uma bem quente, e você vai saber do que estou falando.
Algumas categorias você pode levar para centros de coleta, como as caixas de papel para líquidos (tipo leite em caixa ou suco em caixa) – desde que sejam de interior branco. Etc e tal.
Dá um certo trabalho, mas se não fizessem isso, a quantidade de recursos naturais a serem desperdiçados aqui seria desmedida... Então é muito inspirador que estejam buscando cada vez mais formas de reciclagem, e de cooperação popular.
Então, como é a coleta de lixo na sua cidade?
A Elefanta
Bem, já me entenderam, e eu espero que não me matem, porque, se mês passado o tema foi estudos, e eu já achava que iriam querer me esfolar, esse mês é pior.
Em maio de 2013, o tema dos 180º é LIXO.
E acho que essa é a hora em que eu preciso arranjar um abrigo antinuclear. Mas vou explicar: menos de 27% das cidades brasileiras realizam coleta seletiva – e já que estamos falando nisso, aproximadamente 50% ainda não têm sequer um aterro sanitário, ou seja, todo o lixo produzido vai direto para um depósito aberto, sem cuidados algum. Horrível, não acham?
Aqui, no Japão, a coisa já foi igual. Entretanto, alguns fatores nos diferenciam em muitos aspectos. Pra começar, mais de 70% das terras japonesas são cobertas por montanhas ou, pior, vulcões, e todo mundo sabe que aqui tem terremoto quase todo dia (em partes diferentes, mas não é raro ouvir “teve um terremoto em Shizuoka”, por exemplo, e no dia seguinte “teve um terremoto em Sendai” etc). Ao mesmo tempo, o nível de consumo aqui, há mais ou menos meio século, é assustador, e incomparável ao Brasil – ainda que nosso poder de consumo esteja aumentando.
Se colocarmos isso em termo matemáticos, seria mais ou menos essa aqui a equação:
pouco lugar para destinar lixo + muito consumo = muito lixo produzido e sem destino.
Vou enfatizar a parte dos terremotos de novo: ter terremotos significa que NADA aqui pode ser pensado de forma simples. Imagina no Brasil, se tivesse terremotos, como ficariam as comunidades (normalmente de catadores) que se formam ao redor dos lixões? Esquecendo por um momento os direitos humanos de que viver num lixão não é uma vida digna etc (muitos fatores socioeconômicos entram nessa discussão), um terremoto médio poderia derrubar facilmente uma das montanhas de lixo, pondo em (mais) risco a população local.
É mais ou menos essa a preocupação em construir QUALQUER coisa aqui, com a preocupação extra de que muita gente e pouco espaço (alta densidade demográfica) dificulta ainda mais as coisas (e tem outros fatores que agora não vêm ao caso).
Todavia, os japoneses são um poço de inovações tecnológicas, e é graças a eles que hoje existem muitas das tecnologias limpas de produção. E foi exatamente assim que solucionaram – “melhoraram” seria a palavra mais acertada, na verdade – o problema com o lixo. Praticamente TUDO aqui é reciclado de alguma forma, principalmente embalagens, que constituem uns 60% ou mais do volume de lixo.
Assim como ocorre no Brasil, toda cidade tem autonomia sobre a coleta de lixo. Entretanto, aqui, desde 2000 está ativa uma lei NACIONAL bastante importante: a Lei sobre reciclagem de embalagens. Seguida dessa, temos a lei sobre reciclagem de eletrônicos, reciclagem de objetos de grandes etc...
Na prática, isso significa que toda cidade TEM que ter coleta seletiva, mesmo que apenas as categorias clássicas (papel, plástico, metal, vidro e orgânico). E sim, toda cidade tem categorias diferentes. Por exemplo, uma das categorias de Kyoto é a de sacos plásticos, ou seja, embalagens plásticas estão numa só divisão (incluindo as garrafas PET), e os sacos plásticos são outra. Além disso, para cada uma dessas classificações, há um tipo de saco correspondente, que também varia conforme a cidade, mas normalmente são transparentes com emblemas em cores diferentes, e são vendidos em qualquer loja de conveniência (as quais existem em TODA ESQUINA, praticamente, e são 24hs), supermercado ou loja de 100 ienes (pense nelas como lojas de R$1,00).
A minha cidade é a que mais tem categorias. Vou citar alguns exemplos: garrafas PET, embalagens de papel (limpas), embalagens de plásticos (limpas, e inclui sacos plásticos), jornais/revistas/livros/etc (tem que amarrar e não misturar tamanhos e materiais diferentes), papelão (tem que amarrar e deixar do mesmo tamanho, ou seja, tem que cortar) etc, lixo queimável (leia-se: orgânico, e os plásticos ou papéis que não puderam ser limpos), lixo não queimável (tipo xícaras, guarda-chuva, tênis etc) dentre outras.
Achou pouco? Pois agora vem a outra parte interessante: tudo tem dia específico. Queimáveis, plásticos, embalagens de papéis (mas não os encadernados) são recolhidos toda semana, em dias específicos. Algumas categorias, porém, são recolhidas apenas uma vez por mês (tipo os não queimáveis, papelão e outros) ou mediante contato (e pagamento) prévio (a exemplo de resíduos grandes, como bicicletas ou sofás).
Em todos os casos, a data de recolhimento é marcada por setor (é como se fossem bairros), e aí vai, por exemplo, no estilo: “primeira quarta-feira do mês”, ou “última sexta-feira do mês” etc.
Tem que estar atento. Se perder o dia/a hora de recolhimento, tem que segurar o lixo até a próxima data (que, a depender da categoria, pode ser só um mês depois). Isso é especialmente frustrante porque, primeiro, no Japão, espaço (leia-se “imóveis”) são caros, então muita gente (especialmente solteiros) moram em lugares pequenos, e guardar lixo nesses lugares ocupa parte desse espaço. O segundo motivo é mais sazonal: se no Brasil, verão é quente, aqui é mais quente e MUITO ÚMIDO. Sério, você SENTE a umidade pesando em você. Agora imagina o que acontece com o lixo orgânico em clima quente e úmido.
VAI FEDER PRA BURRO!!!!!
Experimenta em casa guardar o lixo orgânico por uma semana, preferencialmente uma bem quente, e você vai saber do que estou falando.
Algumas categorias você pode levar para centros de coleta, como as caixas de papel para líquidos (tipo leite em caixa ou suco em caixa) – desde que sejam de interior branco. Etc e tal.
Dá um certo trabalho, mas se não fizessem isso, a quantidade de recursos naturais a serem desperdiçados aqui seria desmedida... Então é muito inspirador que estejam buscando cada vez mais formas de reciclagem, e de cooperação popular.
Então, como é a coleta de lixo na sua cidade?
A Elefanta
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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Que máximo isso Ísis, claro dá um enrosco na cabeça eu teria que ter um mural só com essas datas pra me acostumar, mas é incrível a organização. Só em pensar que aqui a pessoa joga aquelas em embalagens de isopor que vem nos eletros, tipo geladeira/fogão/tv, joga na calçada, aí vem o carroceiro que não leva porque não serve pra nada, aí passa os pivetes quebram o trocinho e esfarelam isopor pra todos lado, você passar e pensa que nevou... e o sofá que a pessoa joga fora e deixa em qualquer lugar que tenha uma espaço vago... Aqui no Brasil no caindo uma bomba, acabando tudo e começando do zero mesmo.
ResponderExcluirPois é... é minha maior frustração no Brasil... Sim, isso me agonia mais que a corrupção, acredite se quiser...
ExcluirE... dp d um tempo, vc se acostuma com os horários/dias etc...
Mas a divisão aqui é tanta e tão cheia de coisas (ex: lavar bem os plásticos), que as vezes vc sente vontade de jogar tudo no lixo queimável... ^^''
Noooossa que complicado! Eu já imaginava que os japoneses eram organizados com tudo, mas não imaginava que era tanto assim. Bem, mas pra eles já é rotina e vem da tradição.
ResponderExcluirSe no Brasil nem precisa de tudo isto e o povo já tem preguiça de separar! Imagine se for assim.
Na verdade não é bem assim. Foi depois de 1999 que isso começou, ou seja, é recente. É que eles sabiam que era necessário então se adaptaram... e se eu for ser mais honesta, acho que o fato de boa parte das mulheres casadas não trabalharam ajuda (elas usualmente se dedicam à vida doméstica dp de casadas... mesmo as que já tinha uma carreia - obviamente que não todas, mas ainda é o costume), pq aí elas têm tempo de separar o lixo direito etc... É algo a se considerar, não tinha pensado nessa hipótese...
ExcluirÔ Isis, aonde tu mora tem um jardim? Caso tenha, conversa com os vizinhos, síndico, ou seja lá quem for responsável, para começar uma compostagem. É ideal para "lixo" de origem vegetal (cascas, bagaço etc) e serve para ter solo fértil para plantar.
ResponderExcluirEu sei disso, mas aqui não tem jardim. No japão, jardim é pra rico, ou pra quem mora no interior... ^^''
ExcluirDeixa eu corrigir: tem jardim sim... :D
ExcluirUma semana depois que deixei essa msg, reformaram o lugar... LOL
Mas quem cuida disso eh a empresa dona do predio... oO
Interessante (na verdade acho mais interessante fazer um post sobre um assunto que quase ninguém iria pensar sobre o Japão do que falar mais uma milionésima vez na cultura (sushi, cosplay, animes) que todos focam).
ResponderExcluirSó não percebi: eles vão recolher o lixo a casa das pessoas? Aqui temos pontos de colecta em vários locais do bairro para lixo orgânico e recicláveis, os menos usuais como óleos e pequenos electrodomésticos têm pontos de recolha em supermercados e no caso de frigoríficos e sofás tem de se telefonar... ah, e aqui já não temos lixeiras a céu aberto como prática comum, preferem os aterros sanitários.
Ainda cogitei a hipótese de ir viver para o Japão, mas se calhar é melhor não.
Quase o mesmo. O lixo mais usual, eles pegam "na sua casa" (leia-se, no "posto de lixo" mais próximo da sua casa). Apenas alguns, como a caixa de leite, vidros etc, tem postos de coleta.
ExcluirE, sim, é o que estou tentado fazer no 180: focar em outras coisas do Japão que não têm tanta repercussão (ou nenhuma)... mas ocasionalmente farei algo mais comum... tipo, pretendo falar de manga, cosplay etc, mas dando um pequeno twist no assunto... ^.~