12 de março de 2013
180º - Estudos
Olá, de novo!
Então, que o tema de hoje é estudos!
...
Ninguém pareceu muito animado, não. É só para delinear a diferença entre os métodos de estudo do Japão e do Brasil, galera. Se bem que eu não sei bem que método exatamente é o clássico brasileiro...
Bem, a forma brasileira que me foi passada: preste atenção na aula, faça o dever de casa, leia os paradidáticos, estude essa tonelada de informação pras provas e PASSE. Preferencialmente, sem faltar uma aula.
É, o negócio não é mole, não. Um grande problema com isso é que MUITO conteúdo é jogado no mesmo dia, e é esperado que os alunos assimilem tudo. Embora seja possível ver a enorme vantagem disso, a maior parte dos alunos, por mais aplicados que sejam, não têm memória infalível... E se a quantidade de conteúdo fosse diminuída para maximizar o aprendizado, não estudaríamos metade do conteúdo que estudamos...
O problema é que o cérebro humano, embora muito potente, tem limites. Ainda que pudéssemos armazenar todos esses dados (há teorias de que possamos), essa informação toda não nos seria de fácil acesso. A maior parte ficaria guardada nas profundezas da mente, num lugar onde teias de aranha imperam e ninguém arruma, ou seja: é uma bagunça achar qualquer coisa ali.
Por isso eu admirava o sistema público americano: a informação era pouca, mas assimilava-se quase 100%. Na minha opinião, é muito mais efetivo memorizar o básico, do que forçar mil e uma informações, dentre as quais nem sempre somos capazes de distinguir qual é a mais importante.
Mas, pulando isso, agora vamos ao método japonês. Se você acha que não tem tempo pra outra coisa a não ser estudar no Brasil, nem cogite vir ao Japão. Depois que vim para cá, entendi porque os alunos estão sempre estudando no quarto... Aqui, você não somente faz o dever de casa e revisa o que aprendeu na classe naquele dia (eu confesso que, no Brasil, eu só fazia o dever de casa, mesmo), como também tem que se preparar para a próxima aula, ou seja, prever a matéria. Por exemplo, ler a lista de vocabulário e o capítulo no livro (ainda que você não entenda lhufas, tente), etc.
Em outras palavras, gasta-se o dobro do tempo aqui para estudar. Todo início de disciplinas, os professores entregam o cronograma daquela disciplina, aula por aula, para que os alunos saibam que capítulo(s) estudar antecipadamente, e quando terá prova, deveres de casa a entregar, apresentações, etc.
Não à toa, os japoneses dizem que passam no mínimo umas 5-6hs/dia estudando. Se pegarmos as nossas 3hs médias de revisão e/ou dever de casa, e acrescentarmos mais ou menos metade ou um pouco mais disso para a revisão, é muito tempo que se passa em frente a livros e cadernos.
Uma forma muito comum de fazer isso, especificamente para vocabulário, é o uso de memorization cards. São cartõezinhos pequenos (não são miúdos, só pequenos!) e em branco, ligados por um aro, cordão, ou coisa parecida, e nos quais escrevemos as palavras (ou frases) que almejamos decorar. Aí, de tempo em tempo, faz-se uma revisão daqueles vocábulos ou expressões, até que se memorize a maior quantidade possível. Essa frequência de exercício pode ser dia-a-dia, hora-em-hora etc, a depender do prazo que se tenha. Na China, esses cartõezinhos são muito usados para aprender palavras do inglês.
Um pequeno comentário, eu não sei se vocês avisam/avisavam às suas escolas quando e porque iam faltar (a menos que fosse um período significativo, tipo três dias ou mais, porque estaria numa viagem, ou coisa assim), mas, aqui, tudo se avisa, e, de preferência, bem antecipadamente. Exemplo, se você ficou doente, avise que não vai à aula o mais cedo possível... e não adianta trazer atestado médico depois. Falta é falta; nada muda o fato que você faltou. O mesmo vale se for fazer alguma viagem de negócios/pesquisas/ao velório de algum parente ou amigo. Você faltou, leva falta. Simples assim.
Outra diferença: atrasos. Os brasileiros estão acostumados com atrasos, e até já os consideram. Atrasar até quinze minutos é normal, e muitas vezes esperado. No médico, então... Mas, para os japoneses, atrasar-se é uma falta de respeito a outra pessoa, e, nesse caso, ao professor. Vamos lembrar também que, aqui, professor é muito respeitado. É uma das profissões pelas quais mais se tem respeito, por sinal. De forma que, faltar com decoro ao seu mestre, com um atraso, é muito desrespeitoso.
Voltando ao Brasil, na maior parte das vezes, portanto, chegar atrasado não é problema, até porque muitos professores fazem “a chamada” ao final das aulas, ou então basta lembrá-los. Além disso, mesmo na escola, há uma tolerância de 15-20minutos. No Japão, essa tolerância é de 5 minutos, e ainda assim é mal vista.
Quer mais? Experimenta chegar atrasado algumas vezes – ainda que em diferentes momentos daquele semestre. Leva falta! E aqui, a sua nota é computada não somente pela pontuação das provas; entra no cálculo a sua assiduidade, cumprimento das tarefas e a sua participação na aula também... Eu ainda não sei como é que os professores conseguem anotar de cabeça tudo isso, porque, durante a aula, e logo após, eles não escrevem nada fora da lousa...
Por fim, aqui temos os bukatsus, popularmente traduzido como “clubes”. Pelo menos a partir do ensino fundamental II (5ª-9ª séries), toda escola tem vários bukatsus – mas muitas escolas do ensino fundamental I também os têm. São atividades extraclasse obrigatórias (a partir do ensino fundamental II), mas não extracurriculares. A maior parte tem treino todo dia, e dura até 16hs ou mais. Há clubes de música (onde se aprende a tocar um ou mais instrumentos), de vários esportes, de artes marciais e até mesmo os culturais, como os clubes de manga, de cerimônia do chá e de arranjos florais, por exemplo.
A ideia desses clubes é treinar corpo e mente fora das disciplinas usuais – ou seja, fora da sala de aula – e aperfeiçoar suas técnicas como se quisessem se tornar profissionais... Ou, pelo menos, assim me explicaram alguns japoneses do clube de sumou (sumô).
Eu ainda não escolhi o meu clube, nem sou obrigada, porque estou na universidade, e aí já não é obrigatório. Porém, entre os quase 100 clubes que temos aqui, creio que eu me encaixe em algum lugar... Talvez o clube de música andina? Sério, tem mesmo... e eu já os ouvi tocar algumas vezes! São bons! Ou talvez o arco-e-flecha sob cavalo (não tenho ideia de como se chama isso em português – arquearia equina?), mas esse me parece bem difícil.
Com alguma sorte, eu decido isso antes de voltar ao Brasil...
Mata ne! (Até a próxima!)
A Elefanta
Então, que o tema de hoje é estudos!
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Ninguém pareceu muito animado, não. É só para delinear a diferença entre os métodos de estudo do Japão e do Brasil, galera. Se bem que eu não sei bem que método exatamente é o clássico brasileiro...
Bem, a forma brasileira que me foi passada: preste atenção na aula, faça o dever de casa, leia os paradidáticos, estude essa tonelada de informação pras provas e PASSE. Preferencialmente, sem faltar uma aula.
É, o negócio não é mole, não. Um grande problema com isso é que MUITO conteúdo é jogado no mesmo dia, e é esperado que os alunos assimilem tudo. Embora seja possível ver a enorme vantagem disso, a maior parte dos alunos, por mais aplicados que sejam, não têm memória infalível... E se a quantidade de conteúdo fosse diminuída para maximizar o aprendizado, não estudaríamos metade do conteúdo que estudamos...
O problema é que o cérebro humano, embora muito potente, tem limites. Ainda que pudéssemos armazenar todos esses dados (há teorias de que possamos), essa informação toda não nos seria de fácil acesso. A maior parte ficaria guardada nas profundezas da mente, num lugar onde teias de aranha imperam e ninguém arruma, ou seja: é uma bagunça achar qualquer coisa ali.
Por isso eu admirava o sistema público americano: a informação era pouca, mas assimilava-se quase 100%. Na minha opinião, é muito mais efetivo memorizar o básico, do que forçar mil e uma informações, dentre as quais nem sempre somos capazes de distinguir qual é a mais importante.
Mas, pulando isso, agora vamos ao método japonês. Se você acha que não tem tempo pra outra coisa a não ser estudar no Brasil, nem cogite vir ao Japão. Depois que vim para cá, entendi porque os alunos estão sempre estudando no quarto... Aqui, você não somente faz o dever de casa e revisa o que aprendeu na classe naquele dia (eu confesso que, no Brasil, eu só fazia o dever de casa, mesmo), como também tem que se preparar para a próxima aula, ou seja, prever a matéria. Por exemplo, ler a lista de vocabulário e o capítulo no livro (ainda que você não entenda lhufas, tente), etc.
Em outras palavras, gasta-se o dobro do tempo aqui para estudar. Todo início de disciplinas, os professores entregam o cronograma daquela disciplina, aula por aula, para que os alunos saibam que capítulo(s) estudar antecipadamente, e quando terá prova, deveres de casa a entregar, apresentações, etc.
Não à toa, os japoneses dizem que passam no mínimo umas 5-6hs/dia estudando. Se pegarmos as nossas 3hs médias de revisão e/ou dever de casa, e acrescentarmos mais ou menos metade ou um pouco mais disso para a revisão, é muito tempo que se passa em frente a livros e cadernos.
Uma forma muito comum de fazer isso, especificamente para vocabulário, é o uso de memorization cards. São cartõezinhos pequenos (não são miúdos, só pequenos!) e em branco, ligados por um aro, cordão, ou coisa parecida, e nos quais escrevemos as palavras (ou frases) que almejamos decorar. Aí, de tempo em tempo, faz-se uma revisão daqueles vocábulos ou expressões, até que se memorize a maior quantidade possível. Essa frequência de exercício pode ser dia-a-dia, hora-em-hora etc, a depender do prazo que se tenha. Na China, esses cartõezinhos são muito usados para aprender palavras do inglês.
Um pequeno comentário, eu não sei se vocês avisam/avisavam às suas escolas quando e porque iam faltar (a menos que fosse um período significativo, tipo três dias ou mais, porque estaria numa viagem, ou coisa assim), mas, aqui, tudo se avisa, e, de preferência, bem antecipadamente. Exemplo, se você ficou doente, avise que não vai à aula o mais cedo possível... e não adianta trazer atestado médico depois. Falta é falta; nada muda o fato que você faltou. O mesmo vale se for fazer alguma viagem de negócios/pesquisas/ao velório de algum parente ou amigo. Você faltou, leva falta. Simples assim.
Outra diferença: atrasos. Os brasileiros estão acostumados com atrasos, e até já os consideram. Atrasar até quinze minutos é normal, e muitas vezes esperado. No médico, então... Mas, para os japoneses, atrasar-se é uma falta de respeito a outra pessoa, e, nesse caso, ao professor. Vamos lembrar também que, aqui, professor é muito respeitado. É uma das profissões pelas quais mais se tem respeito, por sinal. De forma que, faltar com decoro ao seu mestre, com um atraso, é muito desrespeitoso.
Voltando ao Brasil, na maior parte das vezes, portanto, chegar atrasado não é problema, até porque muitos professores fazem “a chamada” ao final das aulas, ou então basta lembrá-los. Além disso, mesmo na escola, há uma tolerância de 15-20minutos. No Japão, essa tolerância é de 5 minutos, e ainda assim é mal vista.
Quer mais? Experimenta chegar atrasado algumas vezes – ainda que em diferentes momentos daquele semestre. Leva falta! E aqui, a sua nota é computada não somente pela pontuação das provas; entra no cálculo a sua assiduidade, cumprimento das tarefas e a sua participação na aula também... Eu ainda não sei como é que os professores conseguem anotar de cabeça tudo isso, porque, durante a aula, e logo após, eles não escrevem nada fora da lousa...
Por fim, aqui temos os bukatsus, popularmente traduzido como “clubes”. Pelo menos a partir do ensino fundamental II (5ª-9ª séries), toda escola tem vários bukatsus – mas muitas escolas do ensino fundamental I também os têm. São atividades extraclasse obrigatórias (a partir do ensino fundamental II), mas não extracurriculares. A maior parte tem treino todo dia, e dura até 16hs ou mais. Há clubes de música (onde se aprende a tocar um ou mais instrumentos), de vários esportes, de artes marciais e até mesmo os culturais, como os clubes de manga, de cerimônia do chá e de arranjos florais, por exemplo.
A ideia desses clubes é treinar corpo e mente fora das disciplinas usuais – ou seja, fora da sala de aula – e aperfeiçoar suas técnicas como se quisessem se tornar profissionais... Ou, pelo menos, assim me explicaram alguns japoneses do clube de sumou (sumô).
Eu ainda não escolhi o meu clube, nem sou obrigada, porque estou na universidade, e aí já não é obrigatório. Porém, entre os quase 100 clubes que temos aqui, creio que eu me encaixe em algum lugar... Talvez o clube de música andina? Sério, tem mesmo... e eu já os ouvi tocar algumas vezes! São bons! Ou talvez o arco-e-flecha sob cavalo (não tenho ideia de como se chama isso em português – arquearia equina?), mas esse me parece bem difícil.
Com alguma sorte, eu decido isso antes de voltar ao Brasil...
Mata ne! (Até a próxima!)
A Elefanta
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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Adorei! Nesse negócio de atraso ser falta de respeito estou com eles aí e concordo plenamente. Mata ne!
ResponderExcluirOlha, não sei se é porqu sou brsasileira, mas até dez minutos não acho. Mais que isso, se não houver aviso prévio e justificável, aí, sim, concordo.
ResponderExcluirMas a pessoa se atrasar 5 minutos ou menos, não vejo cadê o desrespeito.