Faltam pouco mais de vinte dias para o Baile de Formatura, que fecha as solenidades de final de curso e a cada dia a coisa fica mais caótica. Entre lantejoulas e paetês, ao menos os vestidos já foram, mas falta uma tal sandália, uma bolsa não sei das quantas que combine com a cor de isso e aquilo e, é...

Bem, esses detalhes estão a cargo da mãe. Eu estarei lá no dia, pretty and smiling, e isso é tudo o que eu tenho de fazer mesmo.

Mas antes que eu tenha de dar uma de miss ou sabe-se lá exatamente o que mamãe está aprontando para mim (eu tenho até medo da tortura que está vindo por aí... pobre dos meus cabelos...), existe todo um mundo de coisas a serem resolvidas.

A começar pelos convites.

Então, eu recebi meus convites de formatura. Falta agora endereçá-los, fechar os envelopes, colocar no correio aqueles que vão por correio, peregrinar pela cidade para entregar em mãos aqueles que vão em mãos e dar um jeito de não esquecer ninguém, além, é claro, de fazer uma brilhante performance do milagre da multiplicação.

Do que eu estou falando, você provavelmente se perguntará, amigo leitor. Eu explico. Pelo lado da minha família materna, eu tenho treze tios. Por parte de pai, doze. Contamos ainda os tios avós de ambos os lados – aqueles mais ligados aos meus pais receberão convites, é claro.

Não bastando a família grande, ainda há a família agregada – grandes amigos que ao longo dos anos se tornaram mais que amigos. E há, claro, os amigos (dos meus pais, que fique bem claro).

Quando fazíamos a lista dos convites para ver quanto a mais iríamos precisar, minha mãe ia dando os nomes e eu só fazia anotar. Em determinado ponto, percebi que não conhecia um bocado de gente da lista e decidi perguntar.

O diálogo foi mais ou menos assim:

-Mãe, quem é Aparecida?

- Ah, é uma amiga minha de Cáceres, nós trabalhamos juntas quando eu morava no hospital e tinha o laboratório e etc, etc, etc...

[cinco minutos de reminiscências depois]

- Mãe... Ela chegou a me conhecer?

- Não. Nós fomos embora de Cáceres logo depois de casar, o pai e eu e você nasceu em São Paulo. Nós não voltamos lá depois disso.

- Hum... É... Tá bom....

E seguimos com a lista. Resignei-me há muito tempo ao fato de que quem está se formando é minha mãe, mas, sério, não dá para não rir do fato de que ela está mandando convites para pessoas que não vê há mais de vinte anos e com quem conviveu antes mesmo de eu sequer sonhar em nascer.

Mas tudo bem, se eles conseguiram manter a amizade intacta por tanto tempo, acho que é válido.

Agora, falta comprar uma caneta que escreva na contracapa do convite – preciso descobrir exatamente que tipo de tinta pega nesse papel... tinta normal apaga. Eu mereço... – comprar laços de fita ou adesivos ou sabe-se lá o que a mãe vai decidir colocar ao final das contas, sair endereçando tudo e fazendo entregas no melhor estilo Delivery.

Antes que eu me esqueça, um dado importante... bem, eu quase dei um jeito no pé por causa disso, pulando como doida na cozinha quando o pessoal da portaria interfonou para avisar que minha encomenda tinha chegado.

Cinco semanas depois... CHEGARAM OS DOIS VOLUMES DE NIGHTWORLD COM MAIS SEIS LIVROS DA JANE SMITH, ALÉM DE O ALEPH E O LIVRO DOS SERES IMAGINÁRIOS!!!! SALVE BORGES!!!!

Considerando que eu ainda estou com Carpe Jugulum do Terry Pratchett para terminar e as duas coletâneas de contos sobre magia do Peter Haining, é provável que eu passe os próximos dias desaparecida... Mas quando voltar, terei muito que falar sobre todos esses livros.

*fazendo dancinha feliz no quarto* Livros, livros, livros... lá, lá, lá...


A Coruja