2 de dezembro de 2011

Na sua estante: todos os caminhos levam a Roma II






#095: Todos os Caminhos Levam a Roma II (ou “o rapto de Proserpina”)
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Beatriz conseguiu se equilibrar no último minuto para então levar um novo esbarrão, que mudou seu centro de gravidade e, por conseqüência, empurrou-a para trás, rumo a uma queda que seria certamente memorável não fosse o fato seu corpo descendente encontrar um obstáculo em seu inexorável caminho até o chão.

- Peguei você. – alguém sussurrou em seu ouvido.

Ela piscou os olhos, ligeiramente confusa com a familiaridade da voz que acabara de simplesmente envolvê-la com os braços, como se aquilo fosse inteiramente natural e quase esperado.

- Hã... Obrigada. – ela murmurou em resposta, tímida, esquecendo-se que o barulho da música em torno deles abafaria qualquer coisa mais baixa que gritos – Eu estou bem agora.

Bia esperava que com isso seu ‘herói’, fosse quem fosse – ela estava ainda de costas para ele, segura contra seu peito – a soltasse. Infelizmente, esse não parecia ser o sentimento dele, uma vez que os braços que a envolviam apertaram-na com um pouco mais de força.

Ela estava pronta para gritar e começar a espernear quando, tão subitamente quanto a aparara, o estranho a soltou – por pouco não fazendo com que ela perdesse o equilíbrio de novo, dessa vez de nariz no chão. Bia levantou os olhos das mãos que desta feita e tinham segurado pelo braço, para encarar afinal o desconhecido.

Diante dela estava ninguém mais que Plutão, com seu cetro, a coroa de ciprestes e as chaves do inferno. Plutão, o equivalente do Hades grego, que raptara Perséfone para ser sua rainha. Perséfone que, no mundo romano, era chamada de Prosérpina e que ela, Beatriz, estava personificando ali.

Tudo o que faltava agora era o cão Cérberus e eles poderiam abrir os Elísios ali no meio da pista de dança...

O rapaz sorriu por trás da máscara que usava.

- Cuidado... eu posso não ser convencido a deixá-la ir de novo numa próxima vez. Mesmo que o resto do mundo tenha de viver num eterno inverno por isso.

Ele também a reconhecera! Ou, pelo menos, reconhecera sua fantasia... Desta feita, foi ela quem deu um meio sorriso.

- Isso se eu comer as sementes de romã, não? E não vai conseguir me enganar dessa vez.

- Engraçado... eu sempre tive para mim que você sabia exatamente o que estava fazendo quando comeu as sementes. – ele riu de leve – Seja como for, é verão e, infelizmente, sua mãe exige que você fique fora dos meus domínios... Me pergunto, porém, se uma dança estaria em oposição ao interdito.

Desta feita, Bia riu com gosto. Ainda que aquela fosse uma festa de futuros formandos historiadores, não era qualquer de seus colegas que conseguiria de cara reconhecer sua fantasia ou mesmo lembrar dos detalhes do mito. A maior parte estava muito mais interessada na Idade Moderna e Contemporânea e discussões de classe marxista.

Quem estaria por trás daquele manto?

O rapaz estendeu a mão para ela, sem nunca deixar de sorrir, os olhos escuros brilhando com humor por trás da máscara. Por um único instante, ela hesitou... para então depositar a mão sobre a dele, deixando então que Prosérpina fosse, uma vez mais, para o bem ou para o mal, arrebatada pelo deus infernal.



A Coruja


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