#048: Crise de Insônia
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Ela odiava quando tinha uma crise como aquela. Elas eram raras e espaçadas, mas quando vinham, duravam dias e a deixavam imprestável para qualquer coisa durante o dia, mesmo após muitas xícaras de café.

Sofia suspirou, virando-se para o lado, os olhos já acostumados com a escuridão fixando-se nas silhuetas do teclado e da mesa de estudo. Já tentara de tudo: uma xícara de leite quente antes de deitar, um banho morno, música clássica e relaxante, contar carneirinhos, fechar os olhos e respirar fundo e pausadamente, mentalizar paisagens tranqüilas e sedativas... mas nada estava adiantando. Não contra aquela maldita crise de insônia.

A moça suspirou, sentando-se na cama. Muito bem, se não conseguia dormir, ao menos tentaria de fazer alguma coisa útil...

Jogando o cobertor de lado, terminou de se levantar e com os pés descalços no chão frio, deixou o quarto, disposta a passar o resto da noite tocando. Em mais dois dias, seus primos chegariam para ficar, e ela não sabia como eles iriam encarar concertos repentinos às três da manhã.

Essa era uma das vantagens de morar numa casa. Nada de vizinhos para ficarem reclamando do barulho. Na eventualidade de seu pai não estar em algum plantão, ele não tinha problemas com ouvi-la. Com a chegada de Daniela e Davi (qual era o problema dessas mães que colocavam nomes nos filhos começando com as mesmas letras, como se eles fossem dupla sertaneja?), isso provavelmente iria mudar.

Sofia soltou mais um suspiro. Sendo absolutamente sincera consigo mesma, a causa daquela crise de insônia era justamente as mudanças que estavam chegando com os primos.

Sentando-se ao piano, ela abriu-o com certa reverência, dedilhando ao acaso por alguns instantes, antes que uma melodia conhecida começar a se formar.

Nada como Tristesse de Chopin para começar bem o dia...

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