19 de março de 2010
Na sua estante: Dos motivos para sempre bater à porta antes de entrar no quarto de um adolescente desavisado
#006: Dos motivos para sempre bater à porta antes de entrar no quarto de um adolescente desavisado
---------------------------------------
Ele só teve tempo de se sentar de pronto na beirada da cama, enfiando o que tinha nas mãos debaixo do travesseiro quando a maçaneta terminou de girar e a porta se abriu.
- Caramba, Beatriz! Você não sabe bater na porta, não? – André exclamou, vermelho até a ponta dos cabelos.
- Eu só ia pegar um CD emprestado. – ela estreitou os olhos, fixando-os primeiro no semblante embaraçado do irmão e, depois, na pontinha da revista que saía por debaixo do travesseiro.
Foi a vez dela de ficar vermelha. André observou a irmã abrir e fechar a boca, como um peixe fora d’água e imediatamente compreendeu que a mente dela acabara de chegar às piores conclusões possíveis.
Ele arregalou os olhos.
- Não é o que você está pensando!
Beatriz o encarou de volta.
- O que eu estou pensando?
O rapaz suspirou, sabendo que, àquela altura, era melhor confessar que permitir que Beatriz tirasse suas próprias conclusões... e depois deixasse escapar os fatos para alguém, envergonhando-o para o resto da vida.
Devagar, ele tirou a revista de debaixo do travesseiro. O mais novo sucesso entre boy bands estampava a capa cor-de-rosa cheia de estrelas e corações.
Bia respirou fundo, tentando manter alguma aparência de civilidade – ela não achava que André reagiria bem se ela explodisse em gargalhadas na cara dele.
- Hum... O que você está fazendo com isso? – ela conseguiu imprimir a voz com um tom de apenas ligeira e educada curiosidade.
André cerrou ligeiramente os olhos, levando uma mão à cabeça, massageando as têmporas como se sentisse dor.
- É uma pesquisa científica. – ele respondeu por fim.
Ela cruzou os braços.
- Uma pesquisa científica. – a garota repetiu – E qual é... hum... o objeto da pesquisa?
- Eu estou tentando entender como funciona a cabeça das mulheres. – André respondeu com toda a seriedade.
Um mínimo sorriso escapou ao controle dela, mas o irmão não percebeu.
- Algum sucesso? – Beatriz perguntou.
- Nenhum até agora. – ele deu ombros.
- Precisa de ajuda?
Foi a vez de André encará-la com surpresa.
- Que ajuda?
Ela suspirou exasperada.
- Bem... caso não tenha percebido... eu sou uma garota.
André não teve os mesmos escrúpulos com que ela o favorecera instantes antes. Ao contrário, ele explodiu em gargalhadas de forma tão descontrolada que acabou por cair da cama.
Beatriz observou o irmão voltar a se endireitar com uma careta de dor, massageando a cabeça.
- Justiça divina. – ela resmungou, girando nos calcanhares para então marchar para a porta.
Arquivado em
contos
na sua estante
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
XD XD XD
ResponderExcluirPreciso dizer que lembrei de você?
ResponderExcluirhttp://livrosemserie.com.br/2010/03/18/orgulho-e-preconceito-e-zumbis-e-adaptada-para-hq/#respond
(Adorei o texto, btw).
Belle Lolly