22 de fevereiro de 2010

Bits and pieces - voltando aos pequenos e sugestivos fragmentos...





Estou quase dormindo em pé... uhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...

Ok, aproveitemos enquanto ainda tenho algum fio de consciência... Quando comecei a escrever esses mini-fragmentos de futuras, passadas e presentes histórias, foi porque estava sem inspiração e eles me ajudaram a sair do poço negro sem fundo da falta de idéias...


Agora, eu estou cheia de idéias, mas sem tempo para escrevê-las. Volto-me então para os fragmentos, dessa vez apenas para registrar idéias...

Régis, tem um desses aqui que é especial para você.

E aí, vocês conseguem adivinhar quem é quem? [Se bem que dois são de uma história original que comecei a escrever, mas ainda não foi postada; e outro já foi ao ar em Ases... o que significa que apenas dois servem para o trabalho de adivinhação de vocês... e ambos são razoavelmente óbvios...]


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07. NOSTALGIA

Havia algo de terrivelmente solitário, terrivelmente triste em observar os flocos de neve caírem lá fora através das janelas da sala de aula, enquanto o professor Binns repetia morosamente suas aulas, assistido por um dos irmãos Cenoura.

Era natal... mas não havia azevinhos ou árvores enfeitadas; nem armaduras vazias cantando hinos natalinos ou deliciosas sobremesas sendo preparadas pelos elfos. Não havia bom velhinho sentado à mesa dos professores – em seu lugar, estava a figura escura daquele que fora o Senhor absoluto de seu coração.

Não havia mafiosas planejando festas surpresa, ou fazendo montinho uma nas outras – a única delas que permanecia na escola quase não mais sorria -, não havia Herman dividido entre sua paixão pelos quadrinhos e pela “Mary Jane”. Satanio parecia perdido em seu próprio mundo, provavelmente pensando na berinjela... Meri...

Ela não gostava de pensar no que Meri estava fazendo.

Era natal. E, mais que em todos os outros dias, ela ansiava por ter de volta tudo aquilo que amava e considerava importante em sua vida.


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30. FANTASIA

- Eu já disse que não estou interessada. – ela respondeu, cruzando os braços.

A mulher suspirou.

- Sim, eu sei o que você disse. Mas até agora você não me apresentou esse rapaz. Como é que eu posso saber se ele não é apenas uma invenção sua, um embuste para me tirar do seu pé? Ou, pior, uma fantasia para fugir de relacionamentos pela sua vida inteira em virtude de algum evento traumático e...

- Ok, Freud, quando foi que você se tornou psicóloga? – a mais nova a interrompeu antes que ela pudesse começar a detalhar alguma perversa explicação para seus “arroubos imaginativos”.

- Não me tornei. Mas eu sou uma bibliotecária. O que você acha que eu faço no meu tempo livre?

- Não sei... Curso por correspondência?


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41. HUMOR

- Você ainda não me explicou porque está tão mal-humorada hoje. – a garota insistiu.

Ela tamborilou os dedos por mais alguns minutos no volante, até finalmente se dar por vencida.

- Muito bem... Aquele-que-não-deve-ser-nomeado telefonou hoje.

Silêncio. Estranho... ela esperava uma explosão de justa indignação com coloridas invectivas contra os homens de uma forma geral. Voltando-se para sua companheira, ela se surpreendeu ao perceber que a caçula inclinara-se em seu assento, o corpo todo tremendo na tentativa de segurar o riso.

Ela arqueou a sobrancelha. Aquilo foi demais para a garota: no segundo seguinte, ela se desmanchava em gargalhadas, quase chorando de tanto rir.

Com toda a paciência que lhe restava, ela esperou até que a crise da outra passasse, tentando prestar atenção no trânsito à volta delas. Finalmente, a jovem se recuperou o suficiente para responder ao último comentário.

- Desculpa... é que... não, espera, isso não está certo...

- O que não está certo?

- Quando foi que seu ex-namorado se transformou num bruxo psicopata que quer dominar o mundo e livrá-lo da escória de sangue ruim?

- Hunf.

- Ok, Madame Pince... é oficial: a senhora está lendo Harry Potter demais.


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60. PREGUIÇA

- Fico feliz em ser de alguma serventia, alteza; você não sabe o prazer que sinto em saber que sou seu palhaço particular. – ela retrucou, sarcástica – Por que em vez de se comprazer com meu brilhante humor, você não segue suas palavras e se casa você mesmo? Tenho certeza que uma esposa tiraria você do tédio mortal em que vive.

O homem sorriu de lado.

- Casar dá muito trabalho. E todas as mulheres que conheci nos últimos tempos me matariam de tédio na primeira semana de casamento. Exceto por você, é claro, mas você é quase minha irmã e eu certamente iria para o inferno se apenas cogitasse a hipótese. – ele voltou-se para ela nesse momento, aprumando-se – Eventualmente, é claro, eu precisarei de um herdeiro. Mas não tenho pressa e, até lá, pretendo me divertir.

- Você tem pressa para alguma coisa, primo? - ela riu.

Ele deu de ombros.

- Eu apenas gosto de fazer as coisas ao meu tempo. Afinal, qual mais seria a vantagem de ser um marquês, se não posso fazer todos pararem para me atender e seguirem meu ritmo?


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89. CONFORTO

Ele abriu a porta devagar, desconfiado pela hora avançada, para então dar de cara com a figura da namorada parada do lado de fora, travesseiro e lençóis enfiados debaixo do braço.

Antes que pudesse dizer alguma coisa pela insólita cena – que, talvez, em algum lugar do universo, tivesse uma explicação plausível – a moça passou direto por ele, largando suas coisas na cama para, em seguida, começar a se ajeitar sob as cobertas.

- O que você está fazendo? – ele perguntou meio rouco.

Ela sorriu.

- Você disse que estava tendo pesadelos.

- Sim, mas...

- Quando meu irmão tem pesadelos, eu o coloco para dormir comigo. Eu cheguei então à conclusão que o mesmo princípio se aplicaria a você. Você precisa estar com alguém em que confia, que lhe conforte. O ideal seriam seus pais, mas, como eles não estão aqui... você terá de se contentar comigo.

Ele quase sentiu o queixo cair, sua habitual atitude quase fleumática desaparecendo por completo.

- Você não pode estar falando sério.

Ela deu de ombros, tirando um livro do meio dos cobertores, aconchegando-se um pouco mais contra o travesseiro. O rapaz suspirou.

- Você está falando sério...



A Coruja


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Um comentário:

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